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ÁSIA
De acordo com a Human Rights Watch, senhores da guerra fazem campanha de intimidação para consolidar seu poder
Eleição afegã está ameaçada, afirma ONG
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Vista pelos EUA como símbolo
do início da democratização do
Afeganistão -país virtualmente
destruído por mais de 20 anos de
guerras-, a eleição presidencial
será dominada pela influência
dos senhores da guerra, que fazem uma campanha de intimidação de eleitores e de candidatos
para consolidar seu poder, segundo relatório publicado ontem pela
Human Rights Watch (HRW).
"Os senhores da guerra ainda
têm muito poder no interior, pois
não foram desarmados. O governo central praticamente só controla Cabul [capital]. Em regiões
rurais, os eleitores afirmam que
têm recebido "visitas" de milicianos fiéis a diferentes líderes locais,
que os aconselham a votar neste
ou naquele candidato a presidente", explicou à Folha Brad Adams,
diretor para a Ásia da organização
de defesa dos direitos humanos.
"Muitos militantes políticos e
representantes de organizações
não-governamentais afegãs temem que sua vida possa estar em
perigo por conta de suas ações para conscientizar a população, visando a uma eleição presidencial
mais justa", acrescentou Adams.
De fato, em seu texto, a HRW
expõe o modo como eleitores de
diversas áreas afegãs não conseguem entender as cédulas ou não
confiam nelas, são ameaçados por
milicianos e até recebem suborno
para favorecer certos candidatos.
O pleito está marcado para 9 de
outubro próximo, mas a situação
de segurança no Afeganistão
ameaça prejudicar sua realização.
O relatório de 52 páginas, intitulado "A Lei do Fuzil: Abusos dos
Direitos Humanos e Repressão
Política às Vésperas da Eleição
Presidencial do Afeganistão", sustenta que facções armadas, incluindo grupos que contam com
o apoio dos EUA, fazem uso de
"força, ameaças e corrupção para
controlar o processo eleitoral".
Milhões de afegãos se registraram para participar da votação.
Contudo o número exato de eleitores ainda não foi divulgado oficialmente. Além da pressão dos
senhores da guerra, a população
sofre ameaças de combatentes do
Taleban, grupo deposto por uma
coalizão liderada pelos EUA após
o 11 de Setembro porque abrigava
Osama bin Laden e seus asseclas.
"O Taleban ainda constitui uma
ameaça no sul do Afeganistão, na
região que faz fronteira com o Paquistão. Todavia o principal problema do país é a influência dos
senhores da guerra, sobretudo no
norte e no oeste", analisou Olivier
Roy, do Centro de Estudos e de
Pesquisas Internacionais (Paris).
No norte afegão, de acordo com
a HRW, funcionários da ONU e
de agências humanitárias, além
de políticos locais, afirmaram que
combatentes fiéis a dois candidatos a presidente -os senhores da
guerra Abdul Rashid Dostum e
Mohammed Mohaqeq- ameaçaram líderes regionais para ter
certeza de que a população votará
conforme seus "conselhos".
Num estádio de Shiberghan, reduto de Dostum, dezenas de simpatizantes de sua candidatura, a
maioria de origem uzbeque, reuniram-se ontem para participar
de um raro evento de campanha.
Esta tem sido minada pela ausência de condições de segurança razoáveis no interior do país.
Recentemente, o presidente Hamid Karzai, que, segundo pesquisas, deverá obter a reeleição, lançou uma ofensiva contra alguns
poderosos senhores da guerra,
como Ismail Khan, ex-governador da Província de Herat. De
acordo com Adams, porém, a iniciativa é "positiva, mas limitada".
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