São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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Rússia e Geórgia se confrontam

Autoridades da ex-república soviética prenderam cinco militares russos, acusados de espionagem

Tensão entre dois países atinge seu ponto máximo desde que governo pró-EUA assumiu na Geórgia, após "revolução rosa"

ANDREW OSBORN
DO "INDEPENDENT", EM MOSCOU

Um escândalo de espionagem entre a Rússia e a Geórgia, sua antiga vassala imperial, assumiu as proporções de situação internacional perigosamente volátil, ontem, levando as relações entre os dois países a mergulhar para o nível mais baixo desde a queda da União Soviética.
A confusão começou quando a Geórgia prendeu quatro oficiais do Exército russo e um militar subalterno sob a acusação de formarem uma rede de espionagem que teria por objetivo enfraquecer o governo pró-ocidental da Geórgia. Moscou rejeitou as acusações e ontem exigiu a libertação de seus oficiais, descrevendo as ações da Geórgia como "ultraje total".
A Rússia convocou de volta seu embaixador na Geórgia, iniciou a retirada de oficiais e de suas famílias do país e parou de emitir vistos de entrada na Rússia a cidadãos georgianos.
Tremendo de raiva, o ministro da Defesa russo, Sergei Ivanov, falou à televisão estatal sobre um incidente separado no qual, afirmou, sete soldados russos foram brutalmente espancados por policiais georgianos, num ataque gratuito. "Estes atos constituem uma tentativa aberta de provocar, com uma histeria que é costumeira entre a liderança georgiana, a Federação Russa a iniciar uma ação inapropriada", disse Ivanov, visto como um dos possíveis sucessores de Vladimir Putin na Presidência.
Moscou disse que vai levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU e qualificou a Geórgia de "Estado bandido".
A Rússia tem duas bases militares na Geórgia, resquícios da era soviética. Ambas têm fechamento previsto para 2008. O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, que estudou nos EUA, fez pouco caso da reação de Moscou, qualificando-a de "histeria". Autoridades mostraram documentais que, afirmam, demonstram que os russos detidos eram espiões.
O escândalo se segue à detenção em massa de políticos oposicionistas acusados de tramar um golpe de Estado contra Saakashvili com o apoio de Moscou. As relações da Rússia com a Geórgia vêm se deteriorando desde que Saakashvili chegou ao poder na chamada "revolução rosa", em 2003, prometendo afastar o país da órbita da Rússia. Desde então, o presidente provocou a ira de Moscou por tentar fazer seu país entrar para a Otan, a aliança militar ocidental, e por procurar retomar o controle de duas regiões rebeldes -a Ossétia do Sul e a Abkházia- dominadas por forças pró-russas. A Rússia o castigou deixando de comprar vinho e água mineral da Geórgia e oferecendo apoio às regiões rebeldes.
O presidente do Conselho da Federação (a câmara superior do Parlamento russo), Sergei Mironov, avisou ontem que a disputa que está tomando forma pode conduzir a uma guerra, na medida em que nacionalistas exigirem que a Rússia endureça em relação ao país.


Tradução de CLARA ALLAIN


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