São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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RÚSSIA

Após fim de sequestro em teatro, presidente recusa diálogo sobre guerra na Tchetchênia e diz que não cederá a "chantagem"

"Não negociamos com terroristas", diz Putin

Frank Vilyagra/"Gazeta"/Associated Press
Russo abraça a filha, sobrevivente do sequestro, após sua saída de clínica em Moscou; mais de uma centena ainda está internada


DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou ontem que não negociará "com terroristas" e que não cederá a chantagens, em referência a uma oferta de negociação feita pelo governo rebelde da república separatista da Tchetchênia, não reconhecido por Moscou.
"A Rússia não fará acordos com terroristas e não aceitará nenhuma chantagem", afirmou Putin ontem em pronunciamento na TV sobre o desfecho da tomada de um teatro em Moscou por terroristas tchetchenos, na noite da quarta-feira. O sequestro terminou no sábado com a morte de pelo menos 118 dos cerca de 700 reféns e da maior parte dos cerca de 50 sequestradores.
Diversos países pediram a Moscou uma saída política para o conflito na Tchetchênia para terminar com uma década de sangrentos combates na região.
O líder tchetcheno Aslan Maskhadov, que era presidente da república separatista antes do início da segunda guerra na região, em 1999, foi acusado por Putin de ter organizado o sequestro em Moscou. Ele negou a acusação e sugeriu negociações incondicionais com o governo russo. "Nós só podemos resolver isso [o conflito" politicamente", afirmou ontem Akhmed Zakayev, braço direito de Maskhadov, durante um congresso dos rebeldes tchetchenos em Copenhague (Dinamarca).
Mas uma eventual negociação é descartada por Putin, que promete aumentar os poderes dos militares contra suspeitos de terrorismo ou seus financiadores.
"A Rússia responderá com medidas adequadas à ameaça à Federação Russa em todos os lugares que os terroristas, os organizadores desses crimes ou seus apoiadores ideológicos ou financeiros estiverem", afirmou Putin. "Eu insisto: onde quer que eles estejam", disse.
O presidente já havia afirmado que a invasão do teatro em Moscou teria sido planejada no exterior, e o ministro russo das Relações Exteriores, Igor Ivanov, afirmou ontem que a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, estaria envolvida.

Reféns hospitalizados
Alguns dos 405 reféns libertados no sábado permaneciam ontem hospitalizados, 45 deles em estado grave, segundo a vice-premiê Valentina Matvivyenko. Segundo ela, 239 já haviam recebido alta.
De acordo com funcionários dos serviços de saúde, 116 dos 118 reféns mortos na operação de sábado morreram em consequência do uso de um gás sonífero durante a operação -cuja identificação permanece segredo, mesmo para os médicos que estão trabalhando no tratamento das vítimas.
As autoridades russas deram à Embaixada dos EUA em Moscou algumas informações sobre os efeitos do gás usado pelos soldados, mas não informaram o nome do agente, apesar dos pedidos formais de informação.
A negativa do governo russo de identificar o gás utilizado gerou fortes críticas ontem.
Boris Nemtsov, líder do Partido Liberal e ex-vice-premiê, afirmou que o comportamento do governo significava "censura" e criticou as autoridades por não terem dado tratamento adequado aos reféns imediatamente após atirar o agente dentro do teatro. "Por que, depois que os serviços especiais brilhantemente realizaram a operação, não havia lá ambulâncias, médicos e serviços de tratamento intensivo suficientes? Por que a ajuda médica não foi dada no local?", questionou Nemtsov.
Num hospital de Moscou, para onde muitos dos reféns foram levados, uma multidão de parentes esperava para tentar vê-los, muitas vezes sem sucesso.

Com agências internacionais


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