São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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MISSÃO NO HAITI

Fora do poder desde fevereiro, ex-presidente é acusado pelo governo haitiano de incitar onda de violência

Amorim defende diálogo com Aristide

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse ontem que o ex-presidente do Haiti Jean-Bertrand Aristide terá um papel na reconstrução do país. "O ex-presidente Aristide é uma força importante no processo de reconciliação", afirmou Amorim.
Aristide, que deixou a Presidência do Haiti em fevereiro, após violentos protestos pelo país, se encontra hoje na África do Sul. No exílio, passou a dizer que havia sido deposto por ação dos EUA. A África do Sul ainda o reconhece como presidente haitiano. Ele permanece no país como convidado oficial do governo.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Amorim receberam a chanceler da África do Sul, Nkozasana Dlamini Zuma. Um dos principais assuntos foi o Haiti.
Questionada se trazia alguma mensagem de Aristide ao governo brasileiro, Zuma respondeu: "A vontade do presidente Aristide, seja qual for o desfecho no Haiti, é que haja eleições livres e justas para que o povo possa escolher seus representantes".
Amorim, em seguida, afirmou que essa era a mesma vontade do governo brasileiro. O Brasil é o país que lidera a força de paz da ONU no Haiti.
Segundo o ministro, a missão brasileira envolve três temas: a segurança, a reconstrução econômica do país e a busca de uma reconciliação política.
Para tentar criar um clima político mais estável no país caribenho, Lula enviará na semana que vem o seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, a Porto Príncipe. O objetivo é buscar o diálogo entre as diferentes facções de poder no país.
O governo brasileiro enviou na semana passada o especialista em relações internacionais Ricardo Seitenfus para atuar como mediador político em colaboração com a ONU. Ele deve ficar no Haiti por mais duas semanas.
O ministro não quis dar detalhes de como seria a participação do ex-presidente no processo. Indicou, no entanto, que isso pode acontecer sem a presença física de Aristide no Haiti. Garcia também afirmou que procurará o ex-presidente, caso julgue necessário.
O país caribenho vive no momento um clima tenso. Desde o final de setembro, partidários de Aristide vêm sendo acusados de promover uma onda de violência na capital haitiana que já deixou mais de 60 mortos e provocou confrontos quase diários com a missão brasileira -um soldado ficou levemente ferido. O governo haitiano acusa o ex-presidente de incentivar a violência do exílio.
No último dia 2, o governo haitiano prendeu três líderes pró-Aristide quando participavam de uma entrevista numa rádio, acusados de promover atos violentos.
Amorim tem cobrado o envio de mais tropas da ONU para apoiar as forças de paz. Ele também reclama do excesso de burocracia para conseguir liberar recursos para a reconstrução.


Colaborou a Redação


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