São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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ELEIÇÃO NA ARGENTINA /A PRESIDENTA

Apuração indica vitória de Cristina

Números confirmam boca-de-urna; senadora e primeira-dama deve se tornar primeira mulher eleita presidente no país

Muito antes do resultado oficial, Cristina comemora sua eleição; Elisa Carrió e ex-ministro Roberto Lavagna disputam o segundo lugar

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O início das apuração dos votos da eleição argentina confirmava, na madrugada de hoje, o favoritismo de Cristina Fernández de Kirchner. A senadora e primeira-dama deve tornar-se a primeira mulher a ser eleita presidente da Argentina.
Com 37,47% das urnas apuradas, Cristina tinha às 0h20 de hoje (1h20 de Brasília) 43,1% dos votos e estava em tendência de alta, porque ainda haviam sido computados poucos votos da Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral da Argentina e onde sua candidatura era mais forte.
O segundo lugar era disputado pela ex-deputada Elisa Carrió, com 20,5%, e por Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia de Kirchner, com 19,4%. Ao contrário de Lavagna, Carrió ainda não havia reconhecido a derrota até o fechamento desta edição. As pesquisas de boca-de-urna previram, com unanimidade, a vitória de Cristina com 46% dos votos.
Os 42,9% já seriam suficientes para que Cristina vencesse no primeiro turno, já que a Constituição argentina garante ao candidato vitória se alcança mais de 45% dos votos ou supera 40% e tem vantagem superior a dez pontos sobre o segundo colocado.
Cristina deve se tornar a partir de 10 de dezembro deste ano a 42ª presidente da história argentina (e a 55ª a comandar o país se considerados os ditadores de diferentes períodos). Será também a segunda mulher a ocupar o cargo -Maria Estela Martínez de Perón, a Isabelita, foi eleita vice-presidente em 1973 e governou o país de 1974 a 1976, após a morte de Juan Domingo Perón. O mandato irá até 2011.
Em outro fato inédito, Cristina deverá ser a primeira mulher a receber a faixa da Presidência das mãos de um marido vivo, o presidente Néstor Kirchner. Ela deve chegar à Casa Rosada com muito mais poder do que seu marido tinha ao alcançar o cargo em 2003 -os analistas políticos coincidiam em apontar que o governo havia conseguido a maioria absoluta no Congresso.
A vitória de Cristina foi contestada pela oposição, que denunciou o sumiço de cédulas de seus candidatos das cabines de votação.

O discurso
Ao reivindicar a vitória, Cristina pregou a "conciliação" em discurso de 21 minutos no hotel Intercontinental, no centro de Buenos Aires. Acompanhada do marido, convocou a Argentina a construir "um novo tecido social e institucional" a partir de "um esforço conjunto de todos". "É uma tarefa conjunta, qualquer que seja a cor política dos envolvidos."
Cristina disse que houve uma diferença de cerca de 20 pontos entre sua votação e a do segundo colocado -a maior desde a redemocratização do país, em 1983, já que antes a maior vantagem fora a de Carlos Menem sobre José Bordon (16 pontos), em 1995. Ela disse, porém, que isso "só aumenta a responsabilidade e a obrigação" do eleito.
Ela também mostrou agradecimento a Kirchner. "Ao homem que hoje me acompanha e que foi meu companheiro de toda a vida, lhe tocou assumir a Presidência em circunstâncias muito diferentes. Desde 25 de maio de 2003, avançamos muito. Crescemos, reposicionamos o país, começamos um combate sem trégua contra a pobreza, o desemprego e todos aqueles males que tanta dor trouxeram aos argentinos."
O momento em que foi mais aplaudida foi ao referir-se ao caráter histórico de o país ter uma mulher na Presidência. "Sinto uma dupla responsabilidade, não só como membro de um espaço político que conduz os destinos do país, mas sei que tenho uma imensa responsabilidade pelo gênero."
Antes do discurso, iniciado às 21h55 (22h55 em Brasília), Cristina e Kirchner mantiveram reunião com assessores para analisar os resultados da eleição. Enquanto isso, do lado de fora do hotel, partidários de Cristina já comemoravam, com bandeiras e bumbos.


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