São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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Papa beatifica 498 mortos na Espanha

30 mil assistiram à maior cerimônia do gênero, de homenagem a católicos perseguidos por republicanos na Guerra Civil

Críticos vêem ato como político, pois projeto do governo socialista de Zapatero quer pôr fim ao legado do franquismo

DA REDAÇÃO

Cerca de 30 mil fiéis assistiram ontem à maior cerimônia de beatificação em massa já realizada pelo Vaticano, que abriu caminho para a santificação de 498 pessoas. Em sua maior parte, foram padres e freiras mortos pelas forças republicanas entre os anos de 1934 e 1937, no início da Guerra Civil Espanhola.
Setenta e um bispos espanhóis, além de vários políticos espanhóis conservadores, também estavam presentes na cerimônia na praça de São Pedro. Muitos dos fiéis portavam a bandeira nacional espanhola.
Citando o exemplo da beatificação de ontem, o papa Bento 16 afirmou que o martírio não está reservado apenas a alguns poucos, "mas é uma possibilidade realista para todos os cristãos". "Esse martírio ocorrido com pessoas comuns é um testemunho importante para a sociedade secularizada de hoje", concluiu.
Historiadores criticaram a cerimônia, afirmando que ela teve motivações políticas, já que, entre 1980 e ontem, o Vaticano realizou "apenas" 500 beatificações de clérigos mortos durante o conflito.
O ato foi interpretado como uma crítica implícita ao governo do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero, pois a igreja apoiou abertamente o regime fascista de Francisco Franco, que governou o país com mão de ferro até sua morte, em 1975.
Um projeto que tramita no Parlamento espanhol e que irá a plenário nesta semana procura enterrar de vez o legado franquista, com a declaração da "ilegitimidade" dos tribunais criados por Franco para o julgamento de opositores, durante a Guerra Civil e a ditadura.
A Lei da Memória Histórica avança bastante em relação à Lei da Anistia, votada há 30 anos, durante a transição democrática. Sua negociação, que durou 14 meses, é vista como um trunfo político de Zapatero.
O projeto dá pensões mensais de R$ 534 a órfãos da repressão franquista e R$ 360 mil às famílias de condenados à morte por razões políticas nos nove anos finais da ditadura.
Também permite a exumação de fuzilados da Guerra Civil que estão até hoje em centenas de valas comuns. Entre eles, o poeta Federico García Lorca, morto pelos franquistas em agosto de 1936.
O projeto ainda obriga os prédios oficiais a retirar símbolos do franquismo e ameaça com o corte de subvenção os particulares que não o fizerem.
As relações entre a Espanha e a Santa Sé estão estremecidas desde que os socialistas chegaram ao poder, em 2004. O Vaticano se irritou com o fato de os socialistas terem introduzido uma legislação facilitando o divórcio e o casamento gay. O país também permite o aborto.
A igreja estima que, no total, 7.000 clérigos e freiras tenham sido mortos pelos republicanos -que viam a Igreja Católica Romana como símbolo de repressão e desigualdade- entre 1931 e 1939.


Com agências internacionais

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