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Papa beatifica 498 mortos na Espanha
30 mil assistiram à maior cerimônia do gênero, de homenagem a católicos perseguidos por republicanos na Guerra Civil
Críticos vêem ato como
político, pois projeto do
governo socialista de
Zapatero quer pôr fim ao
legado do franquismo
DA REDAÇÃO
Cerca de 30 mil fiéis assistiram ontem à maior cerimônia
de beatificação em massa já
realizada pelo Vaticano, que
abriu caminho para a santificação de 498 pessoas. Em sua
maior parte, foram padres e
freiras mortos pelas forças republicanas entre os anos de
1934 e 1937, no início da Guerra
Civil Espanhola.
Setenta e um bispos espanhóis, além de vários políticos
espanhóis conservadores, também estavam presentes na cerimônia na praça de São Pedro.
Muitos dos fiéis portavam a
bandeira nacional espanhola.
Citando o exemplo da beatificação de ontem, o papa Bento
16 afirmou que o martírio não
está reservado apenas a alguns
poucos, "mas é uma possibilidade realista para todos os cristãos". "Esse martírio ocorrido
com pessoas comuns é um testemunho importante para a sociedade secularizada de hoje",
concluiu.
Historiadores criticaram a
cerimônia, afirmando que ela
teve motivações políticas, já
que, entre 1980 e ontem, o Vaticano realizou "apenas" 500
beatificações de clérigos mortos durante o conflito.
O ato foi interpretado como
uma crítica implícita ao governo do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero, pois a igreja apoiou abertamente o regime fascista de
Francisco Franco, que governou o país com mão de ferro até
sua morte, em 1975.
Um projeto que tramita no
Parlamento espanhol e que irá
a plenário nesta semana procura enterrar de vez o legado franquista, com a declaração da
"ilegitimidade" dos tribunais
criados por Franco para o julgamento de opositores, durante a Guerra Civil e a ditadura.
A Lei da Memória Histórica
avança bastante em relação à
Lei da Anistia, votada há 30
anos, durante a transição democrática. Sua negociação, que
durou 14 meses, é vista como
um trunfo político de Zapatero.
O projeto dá pensões mensais de R$ 534 a órfãos da repressão franquista e R$ 360 mil
às famílias de condenados à
morte por razões políticas nos
nove anos finais da ditadura.
Também permite a exumação de fuzilados da Guerra Civil
que estão até hoje em centenas
de valas comuns. Entre eles, o
poeta Federico García Lorca,
morto pelos franquistas em
agosto de 1936.
O projeto ainda obriga os
prédios oficiais a retirar símbolos do franquismo e ameaça
com o corte de subvenção os
particulares que não o fizerem.
As relações entre a Espanha e
a Santa Sé estão estremecidas
desde que os socialistas chegaram ao poder, em 2004. O Vaticano se irritou com o fato de os
socialistas terem introduzido
uma legislação facilitando o divórcio e o casamento gay. O
país também permite o aborto.
A igreja estima que, no total,
7.000 clérigos e freiras tenham
sido mortos pelos republicanos
-que viam a Igreja Católica
Romana como símbolo de repressão e desigualdade- entre
1931 e 1939.
Com agências internacionais
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