São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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Obama investe em exército de persuasores

Com caixa quase duas vezes maior e ânimo de jovens voluntários, democrata põe nas ruas multidão de cabos eleitorais

Voto não é obrigatório, e para que a vantagem nas pesquisas se confirme no dia da eleição é preciso animar eleitor a sair de casa

Joe Raedle/Getty Images/France Presse
Comício de Obama em Chester (Pensilvânia); candidato é mais popular entre jovens, cujo comparecimento é menos confiável

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A máquina de arrecadar doações do democrata Barack Obama -quase US$ 650 milhões até agora- está proporcionando à sua campanha presidencial algo que o dinheiro, isoladamente, não compra: um exército de voluntários sem paralelo na história do pleito.
Além de custear viagens de militantes, os dólares a mais são decisivos para estabelecer uma equipe contratada que organize o voluntariado e o anime a convencer outros cidadãos não apenas de que seu candidato é o melhor, mas também que o estimule a sair de casa para ir às urnas, já que nos EUA o voto não é obrigatório.
Obama tem vantagem financeira clara. Só em setembro, arrecadou US$ 150 milhões para gastar na reta final da corrida, que termina com a eleição na próxima terça-feira. Já o republicano John McCain está administrando US$ 84 milhões de uma verba federal provida a quem desiste de passar o chapéu entre os eleitores (pode, entretanto obter dinheiro junto a fundos partidários mistos de arrecadação).
O resultado é que, por exemplo, na Virgínia, um dos Estados onde a preferência democrata é sutil demais para a batalha ser dada como ganha, McCain tem 21 comitês de voluntários, contra 70 de Obama.
Na Carolina do Norte, onde as pesquisas projetam empate técnico, a equipe de Obama comanda 17 mil voluntários a partir de 45 comitês. Já McCain (que não informa número de militantes) diz ter 40 comitês no Estado, mas inclui nessa soma salas do Partido Republicano, onde há muitas outras atividades em curso.
"A mobilização em favor de Obama não tem precedente na história do país. John Kennedy [presidente de 1961 a 1963, quando foi assassinado] conquistava simpatia parecida entre os jovens, mas Obama tem a vantagem de dispor da internet para organizar esse exército de persuasão, que pode ser hoje algo em torno de dois milhões de pessoas", diz Steven Brams, analista político da Universidade de Nova York.
No computador, Obama ganha vantagem em redes sociais, como o MySpace, e soma 2,5 milhões de visitas semanais a seu site oficial, o dobro do registrado na página do rival.
A diferença se explica em parte porque Obama é líder na preferência entre os jovens, mas também pelo investimento em sua plataforma on-line de mobilização, criada por Chris Hughes, um dos quatro fundadores do Facebook.

Oba-oba
No último domingo, novos comitês foram improvisados em todo o país para receber simpatizantes dispostos a telefonar de seus celulares a eleitores dos Estados de maior indecisão. Só na cidade de Nova York foram seis lugares.
"Vou gastar meu domingo de sol e dinheiro, mas é por Obama. Se eu quero ver um país melhor, tenho de fazer a diferença eu mesma", dizia a estudante Marian, de iPhone na mão, esparramada no chão de um bar de hotel de Manhattan usado como comitê.
Assim como ela, cada um dos militantes recebia uma lista de moradores (sobretudo de Ohio e Flórida, dois Estados de preferência dividida e com grande peso no Colégio Eleitoral). McCain tem estratégia semelhante, mas de alcance menor.
O lado B desse quadro é que, ao mesmo tempo em que os mais jovens costumam ter mais tempo e maior disposição para a campanha, os mais velhos, que tendem ao Partido Republicano, comparecem em maior peso às urnas.
Para tentar reverter a situação, há campanhas como a da jovem humorista Sarah Silverman, que postou um popular vídeo na internet no qual convoca os jovens a irem à Flórida convencer seus parentes mais velhos que vivem no Estado (destino comum de aposentados) a votar em Obama em vez de McCain.
Iniciativas assim podem ser cruciais nos EUA, onde o presidente não é eleito por a voto popular, mas o Colégio Eleitoral. Nesse sistema, o candidato vencedor em um Estado conquista todo o bloco de votos referentes a ele -exceto em Maine e Nebraska-, cifra que varia conforme a população local.
Portanto, mesmo que as pesquisas projetem atualmente, em média, vantagem de sete pontos percentuais para Obama, o que fará a diferença são Estados como Ohio e Flórida, onde se espera uma eleição disputada voto a voto e que, com grande peso no Colégio Eleitoral, desempatarão um país dividido entre Estados de grande paixão republicana, como o Texas, ou democrata, como a Califórnia.


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