São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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ANÁLISE 2

Para sobreviver, presidente deve ter atitude conciliadora

ROBERT WOOD
ESPECIAL PARA A FOLHA

A morte de Néstor Kirchner abalou a política argentina e criou novas incertezas na corrida para a eleição presidencial de outubro de 2011.
A despeito das expressões iniciais de apoio a Cristina, é improvável que isso se traduza em ganho de popularidade suficiente para que seu governo garanta reeleição.
Ainda que a expectativa fosse de que Kirchner disputasse a Presidência e que o governo viesse estimulando o crescimento econômico por meio de gastos públicos, é provável que ele não estivesse caminhando para vitória.
As chances teriam sido solapadas pelo crescente descontentamento com inflação, crime, corrupção e clientelismo e pelo desejo de mudança depois de oito anos de um governo ocasionalmente belicoso.
Esses mesmos fatores bastariam para prejudicar uma tentativa de reeleição por parte de Cristina.
Agora, haverá uma corrida para preencher o vazio criado pela morte de Kirchner na liderança do Partido Justicialista, a agremiação peronista. E isso prenunciará a batalha pela indicação presidencial do partido.
Daniel Scioli, governador da Província de Buenos Aires, está bem posicionado para surgir como candidato "de unidade" peronista, já que ele conseguiu manter boas relações de trabalho com os Kirchner.
Mas a morte também animará outros peronistas ditos "dissidentes". Entre eles, Felipe Solá, Francisco de Narváez, Eduardo Duhalde, Adolfo Rodríguez Saá e Carlos Reutemann.
Porque as eleições estão a menos de um ano de distância, e apesar do forte abalo pessoal e político que sofreu, Cristina deve ser capaz de concluir seu mandato, o que ofereceria à Argentina uma continuidade institucional que fez falta no passado.
No entanto, existe o risco de uma deterioração na governabilidade, caso ela não adote uma atitude mais conciliadora com relação a outras forças políticas, bem como diante dos setores que os Kirchner antagonizaram: agricultores, industriais e mais recentemente um dos mais importantes grupos de mídia argentinos, o Clarín.
O principal risco é que, depois da morte do marido, ela venha a cerrar fileiras com os elementos de esquerda dos quais os Kirchner passaram a depender cada vez mais para reforçar sua base política, especialmente Hugo Moyano, líder da central sindical CGT.
Dada a formidável máquina eleitoral peronista, o candidato que surgir no PJ terá boa chance de vencer a eleição de outubro de 2011, especialmente se a oposição fragmentada não se unir em torno de um candidato, como aconteceu nas duas últimas eleições presidenciais.

ROBERT WOOD é analista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit



Tradução de PAULO MIGLIACCI


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