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ANÁLISE 2
Para sobreviver, presidente deve ter atitude conciliadora
ROBERT WOOD
ESPECIAL PARA A FOLHA
A morte de Néstor Kirchner abalou a política argentina e criou novas incertezas
na corrida para a eleição presidencial de outubro de 2011.
A despeito das expressões
iniciais de apoio a Cristina, é
improvável que isso se traduza em ganho de popularidade suficiente para que seu
governo garanta reeleição.
Ainda que a expectativa
fosse de que Kirchner disputasse a Presidência e que o
governo viesse estimulando
o crescimento econômico por
meio de gastos públicos, é
provável que ele não estivesse caminhando para vitória.
As chances teriam sido solapadas pelo crescente descontentamento com inflação, crime, corrupção e clientelismo e pelo desejo de mudança depois de oito anos de
um governo ocasionalmente
belicoso.
Esses mesmos fatores bastariam para prejudicar uma
tentativa de reeleição por
parte de Cristina.
Agora, haverá uma corrida
para preencher o vazio criado pela morte de Kirchner na
liderança do Partido Justicialista, a agremiação peronista. E isso prenunciará a batalha pela indicação presidencial do partido.
Daniel Scioli, governador
da Província de Buenos Aires, está bem posicionado
para surgir como candidato
"de unidade" peronista, já
que ele conseguiu manter
boas relações de trabalho
com os Kirchner.
Mas a morte também animará outros peronistas ditos
"dissidentes". Entre eles, Felipe Solá, Francisco de Narváez, Eduardo Duhalde,
Adolfo Rodríguez Saá e Carlos Reutemann.
Porque as eleições estão a
menos de um ano de distância, e apesar do forte abalo
pessoal e político que sofreu,
Cristina deve ser capaz de
concluir seu mandato, o que
ofereceria à Argentina uma
continuidade institucional
que fez falta no passado.
No entanto, existe o risco
de uma deterioração na governabilidade, caso ela não
adote uma atitude mais conciliadora com relação a outras forças políticas, bem como diante dos setores que os
Kirchner antagonizaram:
agricultores, industriais e
mais recentemente um dos
mais importantes grupos de
mídia argentinos, o Clarín.
O principal risco é que, depois da morte do marido, ela
venha a cerrar fileiras com os
elementos de esquerda dos
quais os Kirchner passaram a
depender cada vez mais para
reforçar sua base política, especialmente Hugo Moyano,
líder da central sindical CGT.
Dada a formidável máquina eleitoral peronista, o candidato que surgir no PJ terá
boa chance de vencer a eleição de outubro de 2011, especialmente se a oposição fragmentada não se unir em torno de um candidato, como
aconteceu nas duas últimas
eleições presidenciais.
ROBERT WOOD é analista sênior para a
América Latina da Economist Intelligence
Unit
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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