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TERROR NA ÁFRICA
Especialista vê a marca da Al Qaeda nos ataques no Quênia e diz que inteligência israelense deve se engajar na guerra ao terror
"Ação pode ser início de onda contra Israel"
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
Os ataques de ontem no Quênia
carregam a marca da Al Qaeda e
podem significar o início de uma
onda de ataques da organização
de Bin Laden contra Israel.
É o que diz o israelense Reuven
Paz, diretor do Projeto para a Pesquisa de Movimentos Extremistas
Islâmicos e membro do Instituto
Internacional de Política de Contraterrorismo de Herzliya, ambos
em Israel. Ex-diretor de pesquisa
do Serviço Geral de Segurança de
Israel, Paz monitora os web sites
de grupos ligados à Al Qaeda. Leia
trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
Folha - O atentado no Quênia traz
a marca da Al Qaeda?
Reuven Paz - Parece ter sido obra
da Al Qaeda ou de algum dos grupos filiados a ela. A Al Qaeda já
tem infra-estrutura na região, o
que possibilitou o ataque contra
as embaixadas dos EUA em 1998.
A coordenação de ataques simultâneos indica que a ação tenha sido de algum grupo ligado à Al
Qaeda, ou mesmo operação diretamente ordenada por Bin Laden.
Folha - Há envolvimento de palestinos do Hamas ou do Jihad?
Paz - Não. O Hamas sempre diz
que não lançará ataques contra Israel fora das fronteiras da Palestina. Não vejo sinal de mudança
nessa política. O Jihad Islâmico
palestino segue a linha do Jihad
egípcio, filiado à Al Qaeda. É cedo
para dizer, mas pode ter sido ação
de alguma célula do Jihad palestino ligada ao movimento do Egito.
Folha - Israel irá se engajar mais
na guerra global ao terrorismo?
Paz - Israel terá de levar em conta a possibilidade de esse ataque
ter sido o início de uma onda de
atentados a alvos israelenses. Não
vejo o que Israel possa fazer na
guerra ao terror além de cooperar
no campo da inteligência. Não
pode atacar na Indonésia, na
Tchetchênia e em outros lugares
onde essas pessoas se encontram.
Podemos aumentar a segurança
de embaixadas e de nossas autoridades. Talvez tenhamos de pensar
em proteger os turistas.
Folha - Quais devem ser as primeiras medidas do premiê Sharon
em retaliação a esses ataques?
Paz - Acho que ele estará mais
ocupado em responder ao ataque
de Beit Shean [ação palestina contra uma estação de votação do Likud, ontem, no norte de Israel].
Pode destruir mais dois muros do
QG de Iasser Arafat em Ramallah,
matar mais militantes. Na verdade, porém, a solução é política.
Não vejo o que mais Israel poderia fazer além de obter melhores
informações e inteligência para
evitar novos ataques.
Folha - O presidente George W.
Bush diz que os EUA avançaram na
guerra ao terror. A ação de hoje
prova que está errado?
Paz - Não vi esses avanços. A
maioria dos presos suspeitos de
serem da Al Qaeda tiveram papel
pequeno no grupo. Não creio que
tenham dado informação de qualidade. Não há progressos na área
de inteligência. Leio os sites dos
seguidores da Al Qaeda e vejo
apoio crescente ao grupo.
Folha - A partir da leitura desses
sites, era possível prever que novos
ataques ocorressem na África?
Paz - Não. Mas daria para concluir que haveria um ataque hoje
[ontem]. Isso porque, em alguns
sites, falavam em "quinta-feira",
que era o feriado de Dia de Ação
de Graças nos EUA. O FBI divulgou alertas porque achava que
pudesse haver atentado nos EUA.
Folha - O uso de mísseis dificulta
a proteção aos aviões?
Paz - Sim. É muito perigoso. Hoje, atacaram um avião israelense.
Amanhã pode ser uma ação de
muçulmanos da Caxemira contra
um avião indiano ou de tchetchenos contra um avião russo. O problema do terrorismo é que é como
uma praga. Pessoas de outros
grupos imitam os atentados.
Neste caso, erraram o alvo. Não
sei se foi por engano -há aviões
civis de Israel com dispositivos
que fazem os mísseis desviar. É
um equipamento militar, muito
caro. Não vejo como companhias
aéreas européias poderiam instalar isso em suas aeronaves.
Folha - Qual era o objetivo do
grupo que atacou no Quênia?
Paz - Querem amedrontar o
mundo, mostrar que são capazes
de fazer o que quiserem em qualquer parte. Agem não só para a
audiência ocidental, mas para se
exibir aos simpatizantes. Isso dá
muito orgulho aos seus seguidores e ajuda a expandir o número
dos que estão dispostos a se juntar
a eles.
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