São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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TERROR NA ÁFRICA

Especialista vê a marca da Al Qaeda nos ataques no Quênia e diz que inteligência israelense deve se engajar na guerra ao terror

"Ação pode ser início de onda contra Israel"

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

Os ataques de ontem no Quênia carregam a marca da Al Qaeda e podem significar o início de uma onda de ataques da organização de Bin Laden contra Israel.
É o que diz o israelense Reuven Paz, diretor do Projeto para a Pesquisa de Movimentos Extremistas Islâmicos e membro do Instituto Internacional de Política de Contraterrorismo de Herzliya, ambos em Israel. Ex-diretor de pesquisa do Serviço Geral de Segurança de Israel, Paz monitora os web sites de grupos ligados à Al Qaeda. Leia trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.

Folha - O atentado no Quênia traz a marca da Al Qaeda?
Reuven Paz -
Parece ter sido obra da Al Qaeda ou de algum dos grupos filiados a ela. A Al Qaeda já tem infra-estrutura na região, o que possibilitou o ataque contra as embaixadas dos EUA em 1998. A coordenação de ataques simultâneos indica que a ação tenha sido de algum grupo ligado à Al Qaeda, ou mesmo operação diretamente ordenada por Bin Laden.

Folha - Há envolvimento de palestinos do Hamas ou do Jihad?
Paz -
Não. O Hamas sempre diz que não lançará ataques contra Israel fora das fronteiras da Palestina. Não vejo sinal de mudança nessa política. O Jihad Islâmico palestino segue a linha do Jihad egípcio, filiado à Al Qaeda. É cedo para dizer, mas pode ter sido ação de alguma célula do Jihad palestino ligada ao movimento do Egito.

Folha - Israel irá se engajar mais na guerra global ao terrorismo?
Paz -
Israel terá de levar em conta a possibilidade de esse ataque ter sido o início de uma onda de atentados a alvos israelenses. Não vejo o que Israel possa fazer na guerra ao terror além de cooperar no campo da inteligência. Não pode atacar na Indonésia, na Tchetchênia e em outros lugares onde essas pessoas se encontram. Podemos aumentar a segurança de embaixadas e de nossas autoridades. Talvez tenhamos de pensar em proteger os turistas.

Folha - Quais devem ser as primeiras medidas do premiê Sharon em retaliação a esses ataques?
Paz -
Acho que ele estará mais ocupado em responder ao ataque de Beit Shean [ação palestina contra uma estação de votação do Likud, ontem, no norte de Israel]. Pode destruir mais dois muros do QG de Iasser Arafat em Ramallah, matar mais militantes. Na verdade, porém, a solução é política. Não vejo o que mais Israel poderia fazer além de obter melhores informações e inteligência para evitar novos ataques.

Folha - O presidente George W. Bush diz que os EUA avançaram na guerra ao terror. A ação de hoje prova que está errado?
Paz -
Não vi esses avanços. A maioria dos presos suspeitos de serem da Al Qaeda tiveram papel pequeno no grupo. Não creio que tenham dado informação de qualidade. Não há progressos na área de inteligência. Leio os sites dos seguidores da Al Qaeda e vejo apoio crescente ao grupo.

Folha - A partir da leitura desses sites, era possível prever que novos ataques ocorressem na África?
Paz -
Não. Mas daria para concluir que haveria um ataque hoje [ontem]. Isso porque, em alguns sites, falavam em "quinta-feira", que era o feriado de Dia de Ação de Graças nos EUA. O FBI divulgou alertas porque achava que pudesse haver atentado nos EUA.

Folha - O uso de mísseis dificulta a proteção aos aviões?
Paz -
Sim. É muito perigoso. Hoje, atacaram um avião israelense. Amanhã pode ser uma ação de muçulmanos da Caxemira contra um avião indiano ou de tchetchenos contra um avião russo. O problema do terrorismo é que é como uma praga. Pessoas de outros grupos imitam os atentados.
Neste caso, erraram o alvo. Não sei se foi por engano -há aviões civis de Israel com dispositivos que fazem os mísseis desviar. É um equipamento militar, muito caro. Não vejo como companhias aéreas européias poderiam instalar isso em suas aeronaves.

Folha - Qual era o objetivo do grupo que atacou no Quênia?
Paz -
Querem amedrontar o mundo, mostrar que são capazes de fazer o que quiserem em qualquer parte. Agem não só para a audiência ocidental, mas para se exibir aos simpatizantes. Isso dá muito orgulho aos seus seguidores e ajuda a expandir o número dos que estão dispostos a se juntar a eles.


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