São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Correa ensaia se aproximar do Mercosul

Presidente eleito equatoriano visitará o Brasil no dia em que Chávez também estará no país; vitória faz risco-país disparar

Esquerdista afirma ter intenção de quadruplicar participação do Estado equatoriano na extração de petróleo, de 20% para 85%

DA REDAÇÃO

O presidente eleito do Equador, Rafael Correa, disse ontem que buscará se aproximar do Mercosul, ao mesmo tempo em que afirmou que a Comunidade Andina de Nações (CAN) está "ferida de morte" por causa dos acordos comerciais assinados com os EUA pela Colômbia e pelo Peru. É a mesma justificativa usada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, para deixar o bloco andino e aderir ao bloco do Cone Sul.
"Buscaremos nos envolver com maior intensidade no Mercosul e espero que possamos unificar todo os processos integracionistas, pelo menos na América do Sul", disse, em entrevista coletiva.
Correa anunciou também que visitará o Brasil na primeira semana de dezembro e que depois seguirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Bolívia para participar da cúpula sul-americana, nos dias 8 e 9 desse mês. Ele também visitará a vizinha Colômbia antes de sua posse, em 15 de janeiro.
"O Brasil é um dos sócios estratégicos para o desenvolvimento do Equador, temos grandes projetos de mútuo benefício", disse o esquerdista.
A visita de Correa a Brasília coincidirá com a de Chávez, já marcada há 20 dias e confirmada na semana passada pelo chanceler Celso Amorim para 7 de dezembro -quatro dias depois das eleições em que Chávez concorre à reeleição.
Em abril, Chávez anunciou a saída da CAN sob a alegação de que o bloco estava condenado por causa das negociações do Peru e da Colômbia para assinarem acordo bilaterais de comércio com os EUA. Em julho, a Venezuela tornou-se o quinto membro pleno do Mercosul.
Esses acordos agora dependem da aprovação do Congresso norte-americano -a nova maioria democrata, que toma posse em 3 de janeiro, já ameaçou revê-los. Ontem, a representante comercial dos EUA, Susan Schwab, disse que o governo não retrocederá em sua agenda comercial e exortou os democratas a trabalhar de forma bipartidária.

Petróleo
Correa disse também que renegociará os contratos de exploração de petróleo com empresas multinacionais -entre as quais a Petrobras- para mais do que quadruplicar a participação do Estado no volume do produto recebido hoje.
O futuro presidente equatoriano, que na campanha prometeu renegociar os contratos de petróleo, também disse que poderia buscar o aumento da participação estatal na receita que as petroleiras são obrigadas a entregar ao Estado, de acordo com uma lei aprovada no atual governo.
Ele disse que o Estado atualmente recebe 20% do petróleo extraído no país e que seu governo tentará aumentar essa participação para 85%. Correa, no entanto, rejeitou qualquer tipo de nacionalização do setor e disse que incentivará o investimento estrangeiro na exploração petrolífera no Equador.
A Lei de Hidrocarbonetos, aprovada no início deste ano, exige que as empresas dividam com o governo pelo menos 50% da receita acima de uma referência preestabelecida.
A vitória de Correa provocou um forte aumento do risco-país do Equador, que saltou de 536, na sexta, para 604 anteontem -incremento de 12,7%. Ontem à tarde, o índice havia caído um pouco, para 596. Mesmo antes da vitória do esquerdista, o Equador já tinha o maior índice de risco-país entre os 18 países avaliados pelo banco americano JP Morgan.
Apesar de ser apenas o 5º maior produtor da América Latina, o petróleo é a principal atividade econômica do país, sendo responsável por 33% dos recursos do Orçamento.


Com agências internacionais


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