São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Após ameaça de Morales, Senado volta a discutir reforma agrária

Presidente havia dito que aprovaria projeto por decreto; sessão recomeçou à noite

Martín Alipaz/Efe
Indígenas procedentes do altiplano boliviano marcham em La Paz para apoiar a reforma agrária


DA REDAÇÃO

Após o presidente boliviano, Evo Morales, ameaçar aprovar a reforma agrária por decreto caso o Senado não votasse o projeto, já aceito na Câmara, senadores da oposição puseram fim ao boicote às sessões da Casa ontem à noite e reiniciaram a discussão do projeto.
De forma inesperada, 12 senadores do governista Movimento ao Socialismo, dois senadores -um titular e um suplente- do Podemos, principal partido oposicionista, e um suplente da centro-direitista Unidade Nacional reabriram a sessão, obtendo o quórum minimamente necessário. Integrantes da oposição chamaram os senadores de "traidores".
A decisão ocorreu após manifestação com cerca de 10 mil indígenas a favor da reforma, no centro de La Paz. O projeto de lei estava paralisado no Senado, onde a oposição tem a maioria das 27 cadeiras, desde a semana passada, quando o Podemos iniciou um boicote, retirando sua bancada de 13 senadores. Com a adesão ao boicote de mais dois senadores oposicionistas, não houve quórum.
A lei pretende redistribuir cerca de 200 mil km2, quase um quinto do país. A oposição se opõe ao projeto porque ele limita a possibilidade de recursos judiciais por parte de fazendeiros cujas propriedades sejam consideradas improdutivas. "Não é possível ter tanta terra em tão poucas mãos, e tantas mãos sem terra", discursou Morales aos indígenas, que marcharam de Cochabamba à capital em apoio à reforma.
Uma pesquisa do instituto Apoyo, Opinión y Mercado, divulgada ontem, mostrou que a popularidade de Morales subiu para 67% em novembro, após os acordos com as petrolíferas, que aumentaram o pagamento de impostos e royalties. Em outubro, a aprovação era de 50%.
Empresários do agronegócio do leste boliviano, região mais rica do país, são os maiores opositores da lei agrária, falando até em usar a força para proteger suas terras. Morales diz que expropriará terras que "servem à especulação".
No discurso aos indígenas, Morales disse que "aprendeu a fazer negócios". Ele se referiu à possibilidade de acordos com a companhia petrolífera Shell depois de reunião que manteve na Holanda, anteontem. "A Shell está disposta a nos entregar suas ações para que o Estado, mediante a estatal YPFB, tenha 50% mais uma das ações na área do transporte de hidrocarbonetos", disse. A empresa também estaria disposta a investir mais no país.


Com agências internacionais


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