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análise
Para estudiosos, situação não deixa dúvidas
EDWARD WONG
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ
O Iraque está em guerra civil? Embora o governo Bush
insista que não, cada vez
mais estudiosos, analistas e
políticos americanos e iraquianos acham que sim.
A definição acadêmica comum de guerra civil tem dois
critérios principais: 1) os grupos rivais precisam ser do
mesmo país e lutar pelo controle de seu centro político,
por um Estado independente ou por uma mudança drástica na estrutura política; 2) o
saldo de mortos tem de chegar a mil, com pelo menos
cem de cada lado.
Segundo professores americanos especializados em
guerras civis, a maioria deles
concorda que o conflito no
Iraque cumpre esses critérios. "A essa altura, e já há algum tempo, a violência no
Iraque atende à definição de
guerra civil adotada por
qualquer observador sensato", disse James Fearon, da
Universidade Stanford.
Embora o termo seja amplo o bastante para incluir
vários tipos de conflitos, um
dos lados em uma guerra civil é quase sempre um governo soberano. Assim, para alguns estudiosos a guerra civil
começou quando os EUA devolveram a soberania ao governo iraquiano, no meio de
2004. Outros dizem que ela
começou em fevereiro último, com a reação a um atentado contra um importante
templo xiita em Samarra.
Os estudiosos dizem ainda
que a guerra do Iraque tem
elementos tanto de insurgência quanto de conflito
sectário. Se os expurgos sectários e ondas de assassinatos se tornaram marca distintiva dos combates, os ciclos de violência são deflagrados por líderes de milícias
cujos objetivos são políticos.
Mas muitos políticos nos
EUA temem que, se a Casa
Branca reconhecer a guerra
civil, isso seja tomado como
admissão de fracasso. E se
preocupam com a possibilidade de a população achar
que suas tropas não devessem participar de uma guerra civil iraquiana, aumentando a pressão pela retirada.
O fato é que muitos estudiosos já estimam que o nível
de violência coloca o Iraque
no topo das guerras civis dos
últimos 50 anos. Fearon e
David Laitin, também de
Stanford, dizem que o número de mortos no país -ao
menos 50 mil desde 2003,
segundo estimativas- coloca o conflito em posição
comparável aos de Burundi e
Bósnia. Para Nicholas Sambanis, analista político da
Universidade Yale,"o nível
de violência supera em muito o da maioria das guerras
civis posteriores a 1945".
Comandantes americanos
já reconhecem que o domínio político do país é o cerne
do conflito. Em depoimento
ao Congresso neste mês, o
general Michael Maples, da
Agência de Informações de
Defesa, definiu a situação como "um conflito violento e
constante pelo poder" e disse
que o país se aproximava de
"um colapso significativo de
sua autoridade central".
Para os estudiosos, é importante que as autoridades
e a mídia reconheçam o conflito iraquiano como guerra
civil. "Há uma comunidade
científica que estuda guerras
civis, que compreende sua
dinâmica e a maneira pela
qual terminam", disse Laitin.
"Essa pesquisa é valiosa para
segurança de nosso país."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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