São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Mumbai pode marcar volta de atentados menos complexos

DO "FINANCIAL TIMES"

Enquanto oficiais de inteligência ocidentais estudam os possíveis vínculos entre os terroristas que agiram em Mumbai e grupos externos, uma pergunta que reverbera nos círculos de inteligência é se o massacre marca o início de um novo capítulo na história do terrorismo global, no qual os criminosos estariam revertendo ao uso de metralhadoras e granadas em lugares lotados, em lugar de arquitetar conspirações tecnicamente complicadas.
Desde a destruição do World Trade Center, em 2001, a Al Qaeda e aqueles que são influenciados por sua ideologia vêm concentrando sua atenção em tentar realizar outros atentados espetaculares e complexos. Em Madri, em 2004, e em Londres, em 2005, houve ataques múltiplos e sincronizados com bombas nos sistemas de transporte público.
Em Mumbai, a tática usada foi outra. Os terroristas usaram algumas idéias do "manual da Al Qaeda", como lançar ataques sincronizados em vários pontos de uma cidade e alvejar americanos e britânicos. Mas, embora o ataque tenha sido sofisticado, alguns analistas de inteligência acreditam que ele indica que os terroristas estariam "voltando aos métodos básicos", usando armas de fogo em lugar de bombas ou aviões.
"Este ataque remete fortemente ao tipo de coisa que era feita por terroristas como Abu Nidal ou Carlos, o Chacal, 20 ou 30 anos atrás", diz um analista de inteligência, apontando para a semelhança com a atrocidade cometida no aeroporto de Roma em 1973, quando terroristas árabes mataram 31 pessoas em ataques múltiplos contra balcões de check-in e uma aeronave. "É um terrorismo que pertence mais ao campo da guerra de guerrilha -e, embora o terrorista, no caso de Mumbai, esteja preparado para morrer, o suicídio não é sua arma."
A comunidade de inteligência pensa há algum tempo que a Al Qaeda e os grupos filiados a ela dificultam muito seu trabalho ao tentar realizar atentados espetaculares e complexos, freqüentemente descobertos pelas autoridades. Essa pode ser uma das razões pelas quais a Al Qaeda não fez nenhum grande ataque na Europa desde 2005.
Uma das lições do terrorismo global nas últimas décadas é que ele muda em termos de táticas. Um dos perigos da atrocidade desta semana é que outros terroristas, tenham ou não ligações com os atacantes de Mumbai, aprenderão essa lição.


Tradução de CLARA ALLAIN


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