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ARTIGO
Telespectador americano
DAN GEORGAKAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A forma como a mídia e o público vêm reagindo à turbulência recente na Índia revela muito sobre como o terrorismo é
reportado e apreendido nos
EUA. A grande imprensa vem
cobriu os fatos em Mumbai,
mas não de modo extensivo ou
em profundidade. A violência
foi retratada como o tipo de coisa que acontece "lá", em lugares
distantes como a Ásia.
O tom da cobertura ficou evidente no jornal do horário nobre na TV pública. Dois professores universitários respeitados explicaram os acontecimentos num contexto quase
inteiramente da Índia e do Paquistão. Atenção considerável
foi dada às tensões entre muçulmanos e hindus e aos problemas crônicos na Caxemira.
O fato de americanos, britânicos e judeus terem sido alvejados especificamente não foi
enfatizado. Mais importante
foi a discussão de uma possível
vinculação com as forças da Al
Qaeda que têm seu quartel-general no norte do Paquistão.
Essa abordagem parece ser
parte do que Noam Chomsky
chamou de o processo de "manufatura do consentimento".
Há apenas um ano, o Paquistão
era retratado como aliado leal
dos EUA, mas que estaria passando por problemas. Agora, o
país é cada vez mais retratado
como Estado falido. O Paquistão, em suma, está tomando o
lugar do Irã como o Estado com
o qual talvez seja necessário lidar militarmente. As consequências dos bombardeios
americanos no Paquistão ganham cobertura mínima na mídia de massas, e todos os indicativos apontam para mais
ações militares, em lugar de
menos. O presidente eleito Barack Obama já declarou que
não hesitará em lançar bombas
no Paquistão, com ou sem o
consentimento de Islamabad.
Num nível mais profundo, a
cobertura feita pela mídia dos
acontecimentos na Índia reflete uma indiferença geral da
maioria dos americanos em relação ao que acontece em outros países. Essa indiferença é
incentivada por programas noticiosos que mal tocam em
questões exteriores, a não ser
que crises estejam prestes a estourar. Os americanos geralmente são informados que esses acontecimentos foram totalmente inesperados. Na realidade, eles geralmente foram
previstos por especialistas como sendo inevitáveis.
Os aspectos violentos do terrorismo na Índia não foram retratados com a urgência dada a
ações semelhantes nos EUA.
Tiros disparados numa faculdade local ganham mais cobertura do que os acontecimentos
em Mumbai, sobretudo na mídia local. O eurocentrismo não
é necessariamente um fator
importante. O assassinato de
Theo Van Gogh na Holanda e
os atentados na Espanha também receberam cobertura mínima. Tudo o que parece ter
importância para a mídia são
vidas americanas ceifadas nos
EUA ou no campo de batalha.
Outro grande tema da cobertura é a demonização dos terroristas. Eles quase sempre são
retratados como indivíduos desencaminhados, até mesmo
idealistas, manipulados por líderes malévolos protegidos em
esconderijos seguros. Gravemente mal-informado e com
frequência ignorando por completo o que acontece em outros
países, o público americano
continua mal-informado sobre
as realidades sociais e econômicas que geram atos terroristas. Não há repressão da informação. Há abundância de blogs
e periódicos que falam sobre os
assuntos mundiais com franqueza. Mas a grande imprensa
reflete principalmente as posições do governo e se mantém
em grande medida silenciosa
em relação a outros pontos de
vista. Foi esse o padrão que precedeu a invasão do Iraque.
DAN GEORGAKAS lecionou mídia e política
global na Universidade de Nova York, no Queens
College e na Universidade de Massachusetts e
escreve extensamente sobre o tema
Tradução de CLARA ALLAIN
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