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Eleição de hoje tenta desatar nó em Honduras
País, ou ao menos parte dele, escolherá seu novo presidente com objetivo de destravar a crise política e sair da paralisia
Zelaya pregou boicote ao pleito, e governo interino armou um inédito esquema de segurança para estimular a participação dos eleitores
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Mergulhado em sua maior
crise das últimas décadas, Honduras -ou pelo menos uma
parte do país-vai às urnas hoje
para escolher um novo presidente e tentar superar a paralisia política e econômica desatada há cinco meses, com a deposição de Manuel Zelaya.
O processo eleitoral será o
mais importante teste de forças
entre Zelaya, que tem pregado
o boicote ao pleito, e o governo
interino, de Roberto Micheletti, que lançou mão de uma ampla campanha publicitária e de
um inédito esquema de segurança, incluindo a convocação
de 5.000 reservistas, em busca
de uma ampla participação.
O índice de abstenção, portanto, terá importância quase
tão grande quanto a disputa para presidente, na qual o candidato conservador Porfirio Lobo
(Partido Nacional, direita) é o
grande favorito.
Segundo a última pesquisa
CID-Gallup, de meados de outubro, ele tinha 37% das intenções de voto, contra 21% do liberal Elvin Santos.
Em Honduras, o voto é obrigatório, mas não há punição para quem deixa de ir à urna. Na
eleição presidencial de 2005, a
abstenção chegou a 45%. Não
há segundo turno, e o mandato
é de quatro anos, sem reeleição.
Em favor das eleições, o governo interino argumenta que
a data já estava marcada, e os
candidatos presidenciais, escolhidosm, antes de 28 de junho.
Já Zelaya afirma que a campanha foi realizada em meio à repressão a seus seguidores, com
constantes toques de recolher,
um período de estado de sítio e
o fechamento temporário de
uma rádio e um canal de TV
contrários a Micheletti.
Ventos favoráveis
O tempo tem ajudado mais
Micheletti do que Zelaya, ex-aliados que ainda pertencem ao
mesmo partido, o Liberal (centro-direita). Nos dias após a deposição, quando o presidente
deposto foi detido e expulso do
país, o governo interino sofreu
forte condenação internacional. Honduras foi suspensa da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) e teve grande parte da ajuda internacional congelada. Em 6 de julho, o chanceler Celso Amorim chegou a
prever que Micheletti "não tem
possibilidade de durar [nem sequer] dois ou três meses".
A pressão aumentou a partir
de 21 de setembro, quando Zelaya voltou clandestinamente a
Honduras e se abrigou na embaixada brasileira, forçando
Micheletti a reabrir as negociações. No final de outubro, um
acordo abriu caminho para a
restituição, prevendo a criação
de um governo de unidade e a
volta de Zelaya condicionada à
aprovação pelo Congresso.
O panorama começou a melhorar para o governo interino
no início de novembro, quando
os EUA, principal parceiro comercial e com forte tradição intervencionista no país, afirmaram que a assinatura do acordo
bastava para o reconhecimento
das eleições, independentemente da restituição de Zelaya.
O apoio americano, ao qual
se somaram países de importância regional como Panamá e
Costa Rica, era considerado imprescindível para Zelaya, que
condicionava a sua volta à pressão de Washington. Agora, seu
principal aliado internacional é
o Brasil, que tem quase nenhum peso político ou econômico na América Central.
No cenário interno, Zelaya,
embora mantenha popularidade alta, viu a coesão da chamada "resistência" ruir quando o
principal partido esquerdista
do país, a Unificação Democrática (UD), decidiu participar
das eleições de hoje. Além disso, os candidatos que desistiram de concorrer em apoio a
Zelaya não chegam a 1% entre
os mais de 13 mil inscritos.
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