São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Deputado diz temer "invasão islâmica"

Legislador que propôs plebiscito para banir minaretes na Suíça afirma estar defendendo democracia e direitos civis

Para Oskar Freysinger, islã tem que "separar religião, política e legislação" para se tornar "compatível com Estado de Direito" europeu


DE GENEBRA

Oskar Freysinger teme uma invasão islâmica após a Suíça ter aderido, em 2008, ao espaço Shengen para a livre circulação de pessoas em parte da Europa.
E, para impedir que o islã político ganhe força, o deputado de 49 anos do ultranacionalista SVP (Partido do Povo Suíço) se uniu a 15 colegas de sigla e aliados evangélicos e lançou o plebiscito de hoje contra os minaretes -embora não saiba explicar como a extinção das torres afetará o movimento. Ele falou à Folha por telefone, de Berna. (LUCIANA COELHO)

 

FOLHA - Por que [propor um referendo] agora?
OSKAR FREYSINGER
- Um grupo turco ergueu um minarete na cidadezinha de Wangen [no início do ano]. Dos 4.500 habitantes, 3.800 e a Câmara dos Vereadores se opuseram, mas não conseguiram evitar, pois a Constituição prevê liberdade de religião. Logo, não tínhamos outra possibilidade para fazer valer a vontade do povo senão agir no nível constitucional.

FOLHA - Não é um exagero estender para todo o país?
FREYSINGER
- Sim, mas há pedidos pendentes. Não queremos esses minaretes construídos enquanto o islã não evoluir, não separar religião, política e legislação. Isso não é compatível com nosso Estado de Direito. No islã a vida humana não é protegida.

FOLHA - A descrição que o sr. dá se aplica a uma parte mínima e radical, não? Acha possível comparar países como Arábia Saudita e Turquia?
FREYSINGER
- Na Turquia há o Exército equilibrando. Mas quem paga os minaretes são pessoas da Arábia Saudita. Essa gente é perigosa, quer os minaretes como símbolo da dominância política do islã.

FOLHA - E o sr. não tem nada contra as mesquitas?
FREYSINGER
- Não tenho. Nós na Europa temos hoje a religião como uma questão privada. No islã é uma questão de sociedade. Isso significa confronto com nossos direitos civis. Eles querem leis especiais.

FOLHA - Aqui? Conversei com vários. Não soam radicais.
FREYSINGER
- Claro, a maioria veio dos Bálcãs. O problema deles é com a máfia albanesa. Mas, com o espaço Shengen, temos que deixar de tudo entrar. Logo teremos a mesma situação da França e do Reino Unido, onde tribunais usam a lei islâmica sob cortes civis [alguns juízes britânicos acatam argumentos da sharia].

FOLHA - E como vetar minaretes vai impedir que isso ocorra?
FREYSINGER
- Tenho montes de e-mails de muçulmanos moderados que não querem minaretes construídos aqui porque fugiram dos fundamentalistas e vieram para um país livre.

FOLHA - Se a comunidade é moderada, por que o temor?
FREYSINGER
- Aqui temos a democracia direta. Temos que defender isso. Se em Wangen as pessoas dizem que não querem o minarete e seu desejo não é respeitado, é inaceitável.

FOLHA - Por que usar um comitê e não fazer o pleito pelo SVP?
FREYSINGER
- O partido não estava interessado, então resolvemos tocar nós mesmos.

FOLHA - Acha que ganhará?
FREYSINGER
- Será difícil, há muita gente contra. Mas acho que vai ser por pouco.

FOLHA - O sr. conhece o minarete de Genebra? É discreto.
FREYSINGER
- É sim. Mas há dez anos havia 20 mil muçulmanos aqui. Agora são 400 mil, e vão aumentar, porque eles têm três vezes mais filhos.
Para a civilização ocidental será este o maior problema dos próximos 50 anos, como evitar uma regressão do que conquistamos com o Iluminismo.
Você pode dizer que eu estou errado, mas será um grande problema.


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