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TRAGÉDIA NA ÁSIA
Flagelados saqueiam na Indonésia; em Sri Lanka, covas são abertas com as mãos; há muitos corpos ainda no fundo do mar
Mortos do maremoto já superam 59 mil
DA REDAÇÃO
Em Sri Lanka, famílias enlutadas precisaram enterrar seus
mortos em covas abertas sem ferramentas, com suas próprias
mãos, enquanto na Indonésia lojas foram saqueadas por flagelados famélicos, na seqüência do
caos criado por aquilo que a ONU
qualifica como um dos sangrentos desastres naturais da história.
Os mortos já são mais de 59 mil, e
as autoridades acreditam que o
número possa aumentar bem
mais nos próximos dias.
As ondas gigantescas que atingiram na manhã de domingo o litoral de oito países da Ásia e da
África, em razão de um terremoto
sob o Índico, o maior nos últimos
40 anos, deixou também milhares
de desaparecidos e milhões sem
abrigo. Em Sri Lanka, um a cada
12 habitantes perdeu sua casa.
Especialistas afirmam que o terremoto provocou o maremoto
mais mortífero em mais de cem
anos. "É algo que não tem precedentes", disse Yvette Stevens,
coordenadora das Nações Unidas
para ações humanitárias.
"A enormidade do desastre é incrível", desabafou Bekele Geleta,
que chefia a Cruz Vermelha no
sudeste da Ásia.
Na ilha de Sumatra, na Indonésia, a população, com fome, passou a saquear armazéns. "Não
chegou ajuda externa, e por aqui
cada um parte para a violência para sobreviver", disse o delegado
de polícia Tengku Zulkarnain a
uma emissora de rádio local.
Equipes de salvamento encontraram 10 mil mortos apenas na
cidade de Mealaboh, ao norte de
Sumatra, disse Purnomo Sidik,
diretor de desastres nacionais no
Ministério de Assuntos Sociais.
Em Sri Lanka as ondas gigantescas descarrilaram um trem e mataram mil pessoas, o que elevou o
saldo provisório de vítimas naquele país para 18.706.
O terremoto, de magnitude 9 na
escala Richter, atingiu o litoral do
Índico da Indonésia à Somália.
Quase um terço dos mortos são
crianças, disse a Unicef, agência
da ONU para a infância.
Mais de 27 mil morreram na Indonésia, mais de 11 mil na Índia e
mais de 1.500 na Tailândia. O vice-presidente indonésio calcula
que em seu país tenham sido encontrados até agora quase 28 mil
corpos, o que mais que dobraria o
saldo provisório ainda da tragédia. Eleições foram adiadas no arquipélago das Maldivas.
Turistas estrangeiros continuavam ontem a procurar por parentes em localidades do litoral de todo o sudeste asiático. Nem todas
as vítimas tragadas pelo mar voltaram a flutuar e foram devolvidas pelas marés às praias. Há um
número incalculável de corpos
ainda submersos.
Na Tailândia, o resort de Khao
Lak contabiliza 770 mortos. "Meu
filho não pára de chorar, querendo de volta a mãe. Acho que ela é
esta aqui. Eu a reconheço pelas
mãos", disse, bastante comovido,
o turista Bejkhajorn Saithong, 39,
em meio a um amontoado de cadáveres cobertos de barro.
Um policial das cercanias queixava-se porque não havia caixões
em quantidade suficiente para
tantos mortos, e também porque
os estrangeiros eram muito encorpados para os pequenos caixões fabricados para a pequena
estatura da população local.
Em Sri Lanka, na cidade de Galle, as autoridades colocaram um
alto-falante sobre um caminhão
de bombeiro e exortaram familiares a levarem os cadáveres até
uma estrada para que eles fossem
recolhidos. Em outros pontos do
país, na falta de pás e enxadas, as
covas eram abertas com as mãos.
Em Sumatra, próxima ao epicentro do terremoto, socorristas
procuravam atingir vilarejos isolados para resgatar cadáveres enterrados debaixo de palafitas.
"Estamos trabalhando 24 horas
por dia para tentar encontrar sobreviventes", disse Gamin Faisil,
da Cruz Vermelha, em Banda
Aceh, naquela ilha. "As pessoas
estão saqueando armazéns, não
porque elas sejam más, mas porque elas sentem fome", disse ele.
Disse temer que cadáveres em putrefação nas ruas provoquem um
problema agudo de saúde.
Naquela mesma cidade mil corpos permaneciam ontem espalhados por um campo de futebol,
onde atletas e público morreram
submersos por uma onda da altura de um prédio de três andares.
Um dos poucos sobreviventes
foi Mahmud Azaf, árbitro da partida, que perdeu seus três filhos.
Ele disse que sobreviveu porque
se protegeu da onda ao se segurar
numa árvore sólida.
Num resort da Tailândia um
grupo de voluntários desenterrou
corpos da lama, entre os quais dezenas de turistas. Na praia de Similan, freqüentada por turistas
alemães, foi encontrado o corpo
despido de um homem, pendurado de braços abertos numa árvore, como se estivesse crucificado.
Em meio à tragédia há também
histórias milagrosas. Na Malásia,
uma menininha de 20 dias foi encontrada sobre um colchão flutuante. Ela foi entregue a seus familiares, depois de vaguear por
seis horas sob a proteção de um
casal de turistas de Hong Kong.
Mas nem todas as histórias acabaram bem. "Onde estão meus filhos, onde estão eles, por que é
que Deus me fez isso?", indagava
Absah, 41, que provavelmente
perdeu seus 11 filhos na aldeia de
Banda Aceh.
Com agências internacionais
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