São Paulo, sábado, 29 de dezembro de 2007

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Paquistão conflagrado

Protestos seguem após enterro de Benazir

Ao menos 31 já morreram no Paquistão; manifestantes atacam a ditadura, que convoca paramilitares; eleição é dúvida

Ex-premiê morta na quinta em atentado foi sepultada em mausoléu ao lado do pai, outro ex-premiê, deposto e enforcado nos anos 70

DA REDAÇÃO

Benazir Bhutto, líder da oposição paquistanesa, vitimada na quinta-feira por atentado de autoria ainda controvertida, foi enterrada ontem na Província de Sind, ao sul do país, em meio ao prosseguimento de protestos que já mataram ao menos 31 pessoas.
O corpo, transportado na véspera de helicóptero para a cidade de Naudero, onde está a casa patriarcal da dinastia dos Bhutto, demorou duas horas para percorrer os 5 km até o local do sepultamento, na aldeia de Garhi Khuda Bakhsh.
O suntuoso mausoléu, com cúpula de mármore branco e cópia em menor tamanho do Taj Mahal, construído na Índia no século 17, estava cercado por dezenas de milhares, que choravam e gritavam slogans contra o ditador Pervez Musharraf, adversário de Benazir.
Ela foi sepultada ao lado do pai, Zulfikar Ali Bhutto, premiê derrubado por um golpe e enforcado em 1979. No mausoléu também estão Murtaza e Shahnawaz, dois irmãos dela, vítimas de assassinatos políticos.
A violência, ontem à tarde, foi maior na Província de Sind, onde Naudero está localizada. O secretário do Interior, Ghulam Mohtaran, pediu a presença do Exército. Dez estações ferroviárias foram incendiadas, interrompendo o tráfego de trens entre Karachi -com três agências bancárias saqueadas- e Punjab.
Um repórter da Associated Press testemunhou o incêndio de nove vagões, dos quais passageiros foram previamente retirados. Em Peshawar, no noroeste paquistanês, 4.000 partidários de Benazir queimaram a sede do principal partido de apoio a Musharraf.

Paramilitares nas ruas
Cerca de 16 mil paramilitares foram convocados para conter os protestos, com ordens para atirar, disse Assad Ali, comandante dessas forças oficiosas. Em Hyderabad o Exército impôs o toque de recolher, e em Lahore um manifestante foi morto.
O caixão de Benazir, coberto pela bandeira verde, vermelha e negra, cores do Partido do Povo do Paquistão, foi transportado numa ambulância branca e acompanhado pelo marido, Asif Ali Zardari, pelo primogênito, Bilawal, de 19 anos, e pelas duas filhas, Bakhtawar, de 17, e Assifa, de 14.
Ao redor emergiam slogans contra os Estados Unidos, aliados de Musharraf que patrocinaram a aproximação entre Benazir e o ditador, para que ela voltasse a chefiar o governo com as legislativas convocadas para o próximo dia 8.
"A votação será mantida", afirmou o primeiro-ministro Mohammadmian Soomro. Mas um diplomata paquistanês em Londres disse que a questão seria rediscutida depois do luto oficial de três dias. Nawaz Sharif, premiê deposto em 1999 por Musharraf, disse que seu partido iria boicotar.
Indagado ontem em Washington se o Paquistão manteria seu calendário eleitoral, o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, foi evasivo. "Vamos ver o que acontecerá."
Em Londres, o primeiro-ministro, Gordon Brown, disse ter telefonado a Musharraf e o encorajado a "se manter firme no rumo da democracia". Mas Brown não deixou claro se as eleições do dia 8 se realizariam.

Nova versão
Em Islamabad, o Ministério do Interior voltou atrás da versão inicialmente dada ao atentado: Benazir teria sido atingida por dois tiros, antes de receber os estilhaços dos explosivos de um homem-bomba.
O porta-voz do ministério, Javel Chima, disse ontem que ela não chegou a receber os tiros, mas que, com a explosão, teve a cabeça violentamente atirada na direção da maçaneta do teto solar pelo qual saudava seus partidários. O choque, segundo o porta-voz, produziu a ruptura do crânio na altura do ouvido direito.
O mistério pode prosseguir indefinidamente, mesmo porque o viuvo de Benazir, Asif Zardari, não autorizou na quinta-feira uma autópsia.
O Pentágono, por meio de seu porta-voz, Gary Keck, disse ontem em Washington "não haver motivos de preocupação" quanto à segurança, durante a atual crise, do arsenal nuclear paquistanês.


Com agências internacionais


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