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Paquistão conflagrado
Protestos seguem após enterro de Benazir
Ao menos 31 já morreram no Paquistão; manifestantes atacam a ditadura, que convoca paramilitares; eleição é dúvida
Ex-premiê morta na quinta em atentado foi sepultada em mausoléu ao lado do pai, outro ex-premiê, deposto e enforcado nos anos 70
DA REDAÇÃO
Benazir Bhutto, líder da oposição paquistanesa, vitimada
na quinta-feira por atentado de
autoria ainda controvertida, foi
enterrada ontem na Província
de Sind, ao sul do país, em meio
ao prosseguimento de protestos que já mataram ao menos 31
pessoas.
O corpo, transportado na
véspera de helicóptero para a
cidade de Naudero, onde está a
casa patriarcal da dinastia dos
Bhutto, demorou duas horas
para percorrer os 5 km até o local do sepultamento, na aldeia
de Garhi Khuda Bakhsh.
O suntuoso mausoléu, com
cúpula de mármore branco e
cópia em menor tamanho do
Taj Mahal, construído na Índia
no século 17, estava cercado por
dezenas de milhares, que choravam e gritavam slogans contra o ditador Pervez Musharraf,
adversário de Benazir.
Ela foi sepultada ao lado do
pai, Zulfikar Ali Bhutto, premiê
derrubado por um golpe e enforcado em 1979. No mausoléu
também estão Murtaza e Shahnawaz, dois irmãos dela, vítimas de assassinatos políticos.
A violência, ontem à tarde,
foi maior na Província de Sind,
onde Naudero está localizada.
O secretário do Interior, Ghulam Mohtaran, pediu a presença do Exército. Dez estações
ferroviárias foram incendiadas,
interrompendo o tráfego de
trens entre Karachi -com três
agências bancárias saqueadas-
e Punjab.
Um repórter da Associated
Press testemunhou o incêndio
de nove vagões, dos quais passageiros foram previamente retirados. Em Peshawar, no noroeste paquistanês, 4.000 partidários de Benazir queimaram
a sede do principal partido de
apoio a Musharraf.
Paramilitares nas ruas
Cerca de 16 mil paramilitares
foram convocados para conter
os protestos, com ordens para
atirar, disse Assad Ali, comandante dessas forças oficiosas.
Em Hyderabad o Exército impôs o toque de recolher, e em
Lahore um manifestante foi
morto.
O caixão de Benazir, coberto
pela bandeira verde, vermelha
e negra, cores do Partido do Povo do Paquistão, foi transportado numa ambulância branca e
acompanhado pelo marido,
Asif Ali Zardari, pelo primogênito, Bilawal, de 19 anos, e pelas
duas filhas, Bakhtawar, de 17, e
Assifa, de 14.
Ao redor emergiam slogans
contra os Estados Unidos, aliados de Musharraf que patrocinaram a aproximação entre Benazir e o ditador, para que ela
voltasse a chefiar o governo
com as legislativas convocadas
para o próximo dia 8.
"A votação será mantida",
afirmou o primeiro-ministro
Mohammadmian Soomro. Mas
um diplomata paquistanês em
Londres disse que a questão seria rediscutida depois do luto
oficial de três dias. Nawaz Sharif, premiê deposto em 1999
por Musharraf, disse que seu
partido iria boicotar.
Indagado ontem em Washington se o Paquistão manteria seu calendário eleitoral, o
porta-voz do Departamento de
Estado, Tom Casey, foi evasivo.
"Vamos ver o que acontecerá."
Em Londres, o primeiro-ministro, Gordon Brown, disse ter
telefonado a Musharraf e o encorajado a "se manter firme no
rumo da democracia". Mas
Brown não deixou claro se as
eleições do dia 8 se realizariam.
Nova versão
Em Islamabad, o Ministério
do Interior voltou atrás da versão inicialmente dada ao atentado: Benazir teria sido atingida por dois tiros, antes de receber os estilhaços dos explosivos
de um homem-bomba.
O porta-voz do ministério,
Javel Chima, disse ontem que
ela não chegou a receber os tiros, mas que, com a explosão,
teve a cabeça violentamente
atirada na direção da maçaneta
do teto solar pelo qual saudava
seus partidários. O choque, segundo o porta-voz, produziu a
ruptura do crânio na altura do
ouvido direito.
O mistério pode prosseguir
indefinidamente, mesmo porque o viuvo de Benazir, Asif
Zardari, não autorizou na quinta-feira uma autópsia.
O Pentágono, por meio de
seu porta-voz, Gary Keck, disse
ontem em Washington "não
haver motivos de preocupação"
quanto à segurança, durante a
atual crise, do arsenal nuclear
paquistanês.
Com agências internacionais
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