São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Israel prepara ação terrestre contra Gaza

País mantém bombardeios aéreos, e mortos já são quase 300; tanques se concentram na fronteira; túneis são destruídos

Reservistas são colocados de sobreaviso e governo afirma que ação deve ser longa; "objetivo é estabelecer uma nova realidade", diz Livni

Adel Hana/Associated Press
Presos deixam escombros de posto policial na Cidade de Gaza, bombardeada por Israel; ataques visam infra-estrutura do Hamas, mas também mataram civis

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A aviação israelense bombardeou ontem a faixa de Gaza pelo segundo dia consecutivo, e o Exército começou a concentrar tanques na fronteira com vistas a uma invasão terrestre, além de colocar mais de 6.500 reservistas de prontidão.
A maior ofensiva israelense a Gaza em quatro décadas já deixou ao menos 298 mortos, muitos deles civis atingidos em ataques a alvos do grupo extremista Hamas em centros urbanos. Israel responde assim ao disparo quase cotidiano de foguetes do território controlado pelo Hamas, avisa que a operação será longa e que não se contentará com resultados parciais.
"O objetivo é estabelecer uma nova realidade", disse a ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, numa referência à destruição da capacidade do Hamas de lançar foguetes contra o sul do país.
Livni, que está em campanha para se tornar premiê nas eleições do dia 10 de fevereiro, disse que Israel não pretende reocupar a faixa de Gaza, de onde se retirou em 2005. Há poucos dias, ela prometeu tirar o Hamas do poder caso seja eleita, mas ontem moderou o discurso. Questionada se essa é uma das metas da ofensiva, respondeu: "Ainda não".
Os ataques de ontem voltaram a se concentrar no que Israel chama de "infra-estrutura" de terrorismo do Hamas em Gaza. Em dois dias, fontes militares calculam que foram atingidos mais de 300 alvos, entre bases da polícia, depósitos de munição, centros de treinamento e pontos de encontro de membros do Hamas.
Prestes a deixar o poder, o premiê israelense, Ehud Olmert, disse que os ataques continuarão até que seja restabelecida a segurança no sul do país. Seu parceiro no combalido processo de paz, o presidente palestino Mahmoud Abbas, culpou o Hamas pela violência. No ano passado, o Fatah, movimento secular liderado por Abbas, foi expulso de Gaza pelos radicais, que haviam vencido as eleições legislativas de 2006.
A chuva de mísseis que atingiu Gaza ainda não foi capaz de neutralizar o poder de fogo do Hamas. Pelo menos 80 foguetes foram disparados contra Israel, nesses dois dias, alguns com alcance superior ao demonstrado até agora. Ontem, um deles chegou perto da cidade de Ashdod, a 30 quilômetros de Gaza, onde fica o principal porto marítimo de Israel.
Há dez dias o grupo extremista declarou o fim de uma trégua de seis meses, alegando que Israel não cumprira com a sua parte no acordo, principalmente em relação à abertura das fronteiras. O fim da trégua significou o reinício dos disparos de foguetes de Gaza: segundo Israel, foram mais de 200 em pouco mais de uma semana.
Para analistas israelenses, o objetivo principal da ofensiva contra Gaza é estabelecer um novo cessar-fogo, em condições desfavoráveis para o Hamas.
Mas o grupo mantém o tom de desafio. Um de seus porta-vozes, Fawzi Barhoum, pediu vingança com novos ataques e disse que Israel "começou uma guerra", a qual "não poderia escolher como encerrar".

Túneis
Em um dos principais bombardeios de ontem, aviões israelenses destruíram em menos de quatro minutos mais de 40 túneis na fronteira com o Egito. Israel afirma que os túneis eram usados para o contrabando de armas e explosivos e para a fuga de militantes. Também foi destruído o principal complexo de segurança do Hamas, que inclui um presídio.
Desde que o Hamas assumiu o controle de Gaza, em junho de 2007, e o governo israelense apertou o cerco ao território, centenas de túneis foram construídos. A princípio, eram clandestinos, mas logo ganharam o aval e a supervisão do grupo islâmico. Sob o bloqueio imposto pelo Ocidente, os túneis se tornaram a principal ligação econômica de Gaza com o mundo.
Apesar de afirmar que já conseguiu atingir perto de metade dos lançadores de mísseis do Hamas, o Exército israelense estima que o grupo ainda tenha um grande arsenal e possa disparar até 200 projéteis por dia.
O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, confirmou que centenas de soldados de infantaria e veículos blindados foram posicionados ao longo da divisa com a faixa de Gaza em preparação para uma possível ofensiva terrestre. Além disso, o gabinete aprovou a convocação de 6.700 reservistas para uma possível invasão.
Ele não quis adiantar os próximos passos, mas advertiu que Israel "aprofundará e ampliará" a operação na medida do necessário. "A ofensiva não será fácil e não será breve", disse Barak, que também é candidato nas eleições gerais de fevereiro.
Além de provocar revolta nos países vizinhos, a ofensiva em Gaza inflamou os árabes de Israel. Choques violentos com a polícia ocorreram na cidade de Umm al-Fahm, no norte do país, quando centenas de manifestantes saíram às ruas para protestar, gritando palavras desordem e atirando pedras nas forças de segurança.
A violência entre manifestantes e policiais se repetiu em outras cidades de população árabe. Segundo fontes palestinas, um jovem de 22 anos foi morto por disparos de policiais. Os árabes constituem 20% da população israelense e um permanente foco de tensão, já que se consideram discriminados pelo Estado.


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