São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Palestinos buscam abrigo no Egito após ataques e bloqueio

País árabe reforça a fronteira, e guardas tentam impedir passagem de pessoas

Sepultamentos tomam o território; Cruz Vermelha diz que faltam alimentos devido ao cerco, e hospitais estão sobrecarregados

DA REDAÇÃO

Moradores de Gaza romperam, ontem, cercas que marcam a fronteira do território com o Egito. Policiais egípcios, então, abriram fogo para dissuadi-los de atravessar e, segundo testemunhas, vários palestinos ficaram feridos. Apesar disso, por volta de dez pessoas conseguiram escalar as barricadas e passar para o lado egípcio, em Rafah.
Escavadeiras também foram usadas para tentar abrir brechas em outros pontos. Pelo menos 300 guardas foram deslocados para reforçar o contingente ao longo dos 14 km de fronteira, informou um oficial ao jornal "Haaretz".
A situação é grave também nos hospitais, onde dezenas de pais procuravam seus filhos, como relatou um jornalista da "BBC" morador de Gaza. No hospital de Shifa, em Gaza, os pacientes em situação considerada menos urgente recebiam alta para liberar leitos.
O território se transformou em uma gigante procissão fúnebre que reuniu dezenas de milhares de palestinos, do norte ao sul do território.
Só no bairro de Shiekh Radwan, ao norte da cidade de Gaza, 43 pessoas morreram, a maioria de jovens que haviam acabado de entrar para a polícia civil, quando aconteceu a ofensiva israelense durante a cerimônia de ingresso. Centros de detenção ficaram desertos.
Em Rafah, toda a família de Tawfik Jaber, comandante da polícia de Gaza, cercava seu corpo envolto em uma bandeira palestina. Perto dali, no estádio municipal da cidade, milhares de pessoas velavam 15 corpos estendidos no gramado.
"Não há eletricidade, ou gás, ou farinha, ou pão praticamente toda a semana", disse a professora Umm Salah. Depois dos ataques, entidades de ajuda humanitária, como a UNRWA, da ONU, ainda não tinham conseguido entregar suprimentos. Ontem, porém, o Egito enviou alimentos e remédios para Gaza por meio de dez caminhões do Crescente Vermelho, segundo a agência de notícias egípcia Mena.

Efeitos do bloqueio
As conseqüências dos intensos bombardeios aumentam no contexto de isolamento que se encontra a faixa de Gaza. A fronteira com o Egito está fechada e só se permitem passagens esporádicas de ajuda humanitária, como as de ontem.
No final de janeiro, os palestinos já haviam impedido o bloqueio da passagem para o Egito, quando o grupo islâmico rompeu as cercas e o muro de fronteira para que moradores pudessem buscar suprimentos.
Já a travessia para o território israelense está bloqueada desde 5 de novembro, quando começou um cerco de Israel ao território palestino, onde vivem 1,5 milhão de pessoas, em 362 km2.
Em comunicado, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse estar "extremadamente preocupado" com o aumento de vítimas em Gaza e advertiu que o conflito sobrecarrega os hospitais da região.
Segundo a ONG Oxfam, em média, menos de 5 caminhões com suprimentos entraram por dia em Gaza em novembro, contra 123 em outubro e 564 em dezembro de 2005.
A agência humanitária da ONU para a palestina (UNRWA) fornece os alimentos necessários para 750 mil pessoas do território. Mas, para entregar essa quantidade, precisam de 15 caminhões diários.
A WFP (World Food Programme), outra entidade humanitária que atua na região, conseguiu enviar apenas 35 dos 190 caminhões que estavam planejados para atender aos palestinos de Gaza até fevereiro de 2009.
O fornecimento de energia também é comprometido pelo bloqueio. Apenas 18% do diesel que Israel é obrigado a permitir entrar semanalmente foi transportado na última semana de novembro.
O isolamento de Gaza também é econômico-financeiro. O Banco Mundial alertou que o sistema bancário de Gaza pode entrar em colapso caso as restrições permanecerem. A verba destinada a programas de geração de emprego foi cortada e, em 19 de novembro, a UNRWA suspendeu o programa de renda mínima para os mais pobres.
A maioria da população do território tem baixa renda e, oficialmente, a taxa de desemprego é de 49,1%.


Com agências internacionais


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