São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Em protesto, Turquia e Síria congelam contatos com Israel

Conselho de Segurança da ONU, Londres e Paris pedem imediato cessar-fogo; líder supremo do Irã quer levante de muçulmanos

Ancara mediava conversas entre Damasco e Israel para negociar paz; Liga Árabe fará cúpula extraordinária, sobre situação em Gaza

DA REDAÇÃO

A Síria anunciou a suspensão das negociações indiretas de paz com Israel, mediadas pela Turquia, em reação aos ataques à faixa de Gaza. Horas antes, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, se retirara do processo, afirmando que os bombardeios são também um "desrespeito à Turquia" -um dos poucos países de maioria islâmica com contato com Israel.
"Bombardear esse povo indefeso e dizer abertamente que esta será uma operação de longa duração é, para mim, um sério crime contra a humanidade", criticou Erdogan, em discurso no encontro do seu partido, de raízes islâmicas. Premiê da secular, mas majoritariamente islâmica, Turquia, ele tem sido um dos principais elos diplomáticos entre Israel e seus adversários árabes.
Damasco, que abriga líderes exilados do Hamas, no governo em Gaza, negociava com o governo israelense a devolução das colinas de Golã, tomadas por Israel na guerra de 1967. Há uma semana, o ditador sírio, Bashar Assad, endossara a possibilidade de um diálogo direto com Israel. As atuais rodadas de negociações, iniciadas em maio deste ano, eram realizadas por intermédio de Ancara.
Cresce a pressão interna e externa sobre os governos dos países árabes vistos como mais próximos a Israel. A reação da Turquia, que não é árabe e manteve historicamente boas relações com o país, apenas acirra a cobrança por uma reação mais enérgica.
A Jordânia e, principalmente, o Egito -únicos que firmaram acordos de paz com o país- são os principais alvos. O Cairo, que se opõe ao Hamas, se vê agora obrigado a sair em defesa dos palestinos da área controlada pelo grupo radical.
A Liga Árabe convocou para a próxima sexta-feira uma cúpula extraordinária, que discutirá, em Doha, a situação da faixa de Gaza. Na quarta-feira, os ministros das Relações Exteriores dos países do grupo devem se reunir no Egito.
Segundo o Conselho de Cooperação do Golfo, que reúne países produtores de petróleo próximos à Casa Brancas, os ataques israelenses estarão na pauta do encontro econômico da aliança, realizado hoje.
É pouco, criticou o ditador líbio, Muammar Gadafi, atacando as reações "covardes e derrotistas" dos colegas árabes. "Quantas cúpulas extraordinárias sobre a Palestina já foram feitas?", questionou ele ontem.

ONU
O Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade resolução em que exorta os envolvidos a cessar toda a atividade militar e respeitar "as sérias necessidades humanitárias e econômicas em Gaza". A reunião fechada, que durou quatro horas, foi convocada pela Líbia, única nação árabe no órgão.
Nota semelhante, com cobranças mais explícitas a Israel, foi divulgada horas mais tarde pelo Reino Unido. O chanceler francês Bernard Kouchner pediu que a Europa "use todo o seu peso para impedir o conflito" em Gaza, em entrevista publicada ontem.
O Mercosul repudiou os bombardeios e exortou os envolvidos a retomarem o diálogo, em nota divulgada ontem pela Chancelaria do Paraguai, que ocupa a presidência temporária do bloco.
No Irã, que não reconhece Israel, a reação aos bombardeios foi incendiária. Decreto religioso do aiatolá Ali Khamenei, líder máximo do país xiita, ordena que os muçulmanos defendam os palestinos "de qualquer maneira possível". Deputados iranianos entoaram ontem o refrão "morte a Israel".


Com agências internacionais


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