São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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Amorim diz que situação no Irã "não é extrema"

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Enquanto a nova onda de repressão no Irã merece condenações de boa parte do mundo, inclusive de aliados do regime de Teerã, como a Rússia, o Brasil mantém a política de evitar críticas e prega o diálogo.
Para o chanceler Celso Amorim, que ontem deixou o Cairo após visita oficial de um dia, isolar o Irã será contraproducente, servindo só para reforçar as convicções do regime.
Questionado pela Folha se a repressão interna poderá afetar as relações entre Brasil e Irã, que vivem momento de aproximação após a polêmica visita a Brasília do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, no mês passado, Amorim disse que não.
"A gente prega muito mais pelo exemplo do que ficar colocando a boca no trombone e depois fazendo práticas que também podem ser condenáveis. O próprio presidente dos EUA condenou o que ocorreu em Guantánamo", disse o chanceler no domingo.
"O isolamento é o pior dos conselheiros. O isolamento apenas tende a fazer com que as pessoas reforcem suas próprias convicções. E seus próprios erros, o que é o pior. Por isso, precisamos continuar dialogando. Claro, que tem situações extremas em que isso se torna impossível. E eu não creio que o Irã esteja numa situação extrema", completou.
Outros países mostraram menos tolerância. Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a condenar a repressão e cobrou "a imediata libertação de todos os que foram injustamente encarcerados".
Até Moscou, tradicional aliado de Teerã, engrossou o coro. "Os acontecimentos dos últimos dias preocupam", indicou ontem comunicado da Chancelaria. "É fundamental mostrar moderação, buscar compromissos baseados na lei e fazer esforços para evitar a escalada de enfrentamento interno."
A avaliação da União Europeia sobre os distúrbios também foi bem mais severa que a manifestada pelo chanceler brasileiro. Para a UE, a "força bruta" usada pela polícia iraniana contra os manifestantes representa "uma grave violação dos direitos humanos".
No Cairo, Amorim reiterou que a política brasileira é de não interferência nos assuntos internos do Irã, e que a instabilidade vivida pelo país não foi tema da conversa entre Lula e Ahmadinejad em Brasília.
"Primeiro, porque essa é uma situação em que não podemos ter nenhuma influência", disse o ministro, citando a reciprocidade para justificar seu raciocínio. "O presidente do Irã também não foi ao Brasil para dizer como os sem-terra devem ser tratados."


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