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Amorim diz que situação no Irã "não é extrema"
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO
Enquanto a nova onda de repressão no Irã merece condenações de boa parte do mundo,
inclusive de aliados do regime
de Teerã, como a Rússia, o Brasil mantém a política de evitar
críticas e prega o diálogo.
Para o chanceler Celso Amorim, que ontem deixou o Cairo
após visita oficial de um dia,
isolar o Irã será contraproducente, servindo só para reforçar
as convicções do regime.
Questionado pela Folha se a
repressão interna poderá afetar as relações entre Brasil e
Irã, que vivem momento de
aproximação após a polêmica
visita a Brasília do presidente
iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, no mês passado, Amorim disse que não.
"A gente prega muito mais
pelo exemplo do que ficar colocando a boca no trombone e
depois fazendo práticas que
também podem ser condenáveis. O próprio presidente dos
EUA condenou o que ocorreu
em Guantánamo", disse o
chanceler no domingo.
"O isolamento é o pior dos
conselheiros. O isolamento
apenas tende a fazer com que
as pessoas reforcem suas próprias convicções. E seus próprios erros, o que é o pior. Por
isso, precisamos continuar dialogando. Claro, que tem situações extremas em que isso se
torna impossível. E eu não
creio que o Irã esteja numa situação extrema", completou.
Outros países mostraram
menos tolerância. Ontem, o
presidente dos EUA, Barack
Obama, voltou a condenar a repressão e cobrou "a imediata libertação de todos os que foram
injustamente encarcerados".
Até Moscou, tradicional aliado de Teerã, engrossou o coro.
"Os acontecimentos dos últimos dias preocupam", indicou
ontem comunicado da Chancelaria. "É fundamental mostrar
moderação, buscar compromissos baseados na lei e fazer
esforços para evitar a escalada
de enfrentamento interno."
A avaliação da União Europeia sobre os distúrbios também foi bem mais severa que a
manifestada pelo chanceler
brasileiro. Para a UE, a "força
bruta" usada pela polícia iraniana contra os manifestantes
representa "uma grave violação dos direitos humanos".
No Cairo, Amorim reiterou
que a política brasileira é de
não interferência nos assuntos
internos do Irã, e que a instabilidade vivida pelo país não foi
tema da conversa entre Lula e
Ahmadinejad em Brasília.
"Primeiro, porque essa é
uma situação em que não podemos ter nenhuma influência", disse o ministro, citando a
reciprocidade para justificar
seu raciocínio. "O presidente
do Irã também não foi ao Brasil
para dizer como os sem-terra
devem ser tratados."
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