São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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Brasil ajudará Chávez a sanar crise energética

Governo Lula enviará à Venezuela uma missão técnica de alto nível para "potencializar um pouco mais os recursos atuais"

Marco Aurélio Garcia diz que muitos dos problemas do sistema venezuelano podem ser resolvidos com simples operações de manutenção

"El Universal"
Estudantes protestam em Caracas contra cortes de energia e a suspensão de TVs por Chávez

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo brasileiro deve enviar, na próxima semana, uma missão técnica de alto nível para tentar minimizar a grave crise energética pela qual atravessa a Venezuela.
A ajuda emergencial foi acertada durante visita anteontem a Caracas do assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, e do secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. A comitiva, integrada também por técnicos de alto nível de Furnas, Eletronorte e Itaipu, se reuniu com Alí Rodríguez, ministro da recém-criada pasta de Energia Elétrica.
"Fizemos alguns acordos de princípio", disse Garcia ontem à Folha, por telefone. "Estão sendo estabelecidas algumas medidas de curto prazo, mas queremos asessorá-los depois em medidas de médio e longo prazo, para que eles possam contornar esse problema."
Segundo o assessor de Lula, existe a avaliação de que uma melhor manutenção do sistema elétrico venezuelano já minimizaria o problema. "Em primeiro lugar, potencializar um pouco mais os recursos atuais. Há muita coisa que pode ser resolvida exclusivamente com operações de manutenção, que reduziriam a ameaça de desabastecimento. O sistema está um pouco deteriorado."
A prioridade, disse Garcia, será o envio de técnicos brasileiros de estatais como Furnas e Eletrobrás, para inspecionar a hidrelétrica de Guri, a terceira maior do mundo, cujo reservatório está cada vez mais baixo devido à falta de chuvas.
Os técnicos devem chegar até quarta-feira para "fazer um estudo concreto dos problemas eventuais de Guri e talvez aumentar o prazo de funcionamento da represa sem chuvas em mais 30 ou 40 dias".
O assessor de Lula disse que também foram discutidos os cortes de energia venezuelana exportada para o Estado de Roraima. Na terça-feira, a cidade fronteiriça de Pacaraima chegou a ficar sem luz.
"Se a gente acertar direitinho, podemos não só evitar os cortes a Roraima mas também fazer aquilo que ocorre durante uma parte do ano, a antecipação do desvio de energia de Roraima à Venezuela."
A médio prazo, explicou Garcia, o Brasil também ajudará a Venezuela na instalação de usinas termelétricas -o país tem uma das maiores reservas de gás e petróleo do mundo, mas tem poucas plantas para produzir energia com esses combustíveis.
A Venezuela também enviará uma missão na semana que vem ao Brasil em busca de assistência para a reorganização do novo ministério, sempre de acordo com Garcia.
A Folha procurou Zimmermann, mas a sua assessoria de imprensa informou que ele estava em viagem. A reportagem também solicitou uma entrevista com o ministro Rodríguez, mas não houve resposta.

Racionamento
Desde o final do ano passado, a Venezuela vem adotando medidas de racionamento. Em meados deste mês, o governo Chávez chegou a anunciar um duro plano de cortar energia por quatro horas a cada dois dias em todo o país. A medida foi suspensa em Caracas devido à repercussão negativa.
Ao longo desta semana, manifestações estudantis contra o racionamento energético e a saída do ar do canal RCTV provocaram diversos enfrentamentos com a polícia. Na cidade de Mérida, os protestos deixaram dois estudantes mortos, levando Chávez a suspender o racionamento ali nesta semana e a militarizar a cidade.
Em meio à crise, Chávez também se viu obrigado a fazer uma minirreforma no seu gabinete, após a renúncia do seu vice-presidente e ministro da Defesa, Ramón Carrizález.
Chávez põe na falta de chuvas provocada pelo fenômeno El Niño a culpa pela escassez de energia, mas especialistas acusam o governo de não realizar investimentos no setor, totalmente nacionalizado em 2007.
Garcia disse que conversou com o chanceler Nicolás Maduro sobre a crise, mas se negou a comentá-la. "Isso representaria entrar numa discussão de natureza política. Eu posso me imiscuir nos problemas energéticos para solucioná-los. Sobre os problemas políticos, eu converso, e a conversa fica mais restrita à sala de reuniões."


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