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HAITI EM RUÍNAS
Caos pós-terremoto beneficia narcotráfico
País é entreposto no trajeto das drogas da América do Sul para EUA e Europa; governo pede ajuda internacional contra criminosos
ONU estima que de 8 a 10 toneladas de cocaína passem pelo país por mês; polícia sofreu baixas em tremor e tem de se focar em auxílio
LUIS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE
Enquanto ainda tenta se
reerguer do terremoto que o
devastou no último dia 12 de janeiro e deixou ao menos 170
mil pessoas mortas, o Haiti lida
com outro flagelo mais permanente e contra o qual também
precisa de auxílio da comunidade internacional.
As principais rotas de tráfico
de cocaína de Colômbia, Bolívia e Peru para os EUA e para a
Europa passam pelo país e ajudam a financiar gangues e policiais corruptos. De acordo com
Aramic Louis, secretário de Estado da Segurança Pública do
Haiti, o país não tem condições
de combater os traficantes sem
ajuda estrangeira.
"Infelizmente o Haiti não recebe ajuda suficiente para enfrentar a criminalidade transnacional. Os traficantes estão
se aproveitando de nossas dificuldades por causa do terremoto", disse Louis. Segundo o secretário de Estado, 471 policiais
haitianos morreram no desastre, e mais de 200 estão feridos
ou desaparecidos. Dedicados a
proteger desabrigados, os policiais remanescentes não podem combater o crime organizado por causa da catástrofe.
Estimativas da Unpol, a polícia das Nações Unidas que auxilia a Polícia Nacional do Haiti, dão conta de que pelo menos
entre 8 e 10 toneladas de cocaína passem pelo Haiti por mês.
A droga vai para a Venezuela e
de lá segue para o Haiti em pequenos aviões venezuelanos. A
polícia da ONU já identificou
22 pistas de pouso clandestinas
no país caribenho.
Os carregamentos chegam a
cidades e ilhas no sul do Haiti,
que funcionam como pontos de
apoio. Seguem então para o
norte do país em lanchas de alta
velocidade, passando por um
entreposto na ilha La Gonave
-para onde o Brasil está enviando tropas que integram a
Minustah, missão de paz da
ONU-, e também por uma rota
terrestre, em carros dirigidos
por policiais haitianos corruptos, segundo investigação da
Unpol.
Os destinos finais são bases
de traficantes na ilha de La Tortuga e na cidade de Port de Paix,
área cuja segurança é responsabilidade da Argentina. A principal base dos criminosos fica em
La Tortuga, um antigo reduto
de piratas na época colonial,
onde praticamente não há presença do Estado nem da ONU.
Policiais da ONU sobrevoaram
essa ilha no fim de 2009 e identificaram mansões supostamente usadas pelos traficantes.
De lá, as drogas seguem em
lanchas de alta velocidade para
as ilhas Turks e Caicos, de onde
vão para a Europa em embarcações e aviões, e para as Bahamas -a porta de entrada para
os EUA. Para despistar as autoridades americanas, os traficantes usam barcos de pesca e
aviões que voam a baixa altitude para não serem detectados
por radares.
Corrupção
"O Haiti é usado para trazer
toda a droga da América do Sul
que vai para os Estados Unidos
e para a Europa. O país é vítima
da sua localização e além disso
não tem guarda costeira nem
força aérea", disse Fred Blaise,
porta-voz da Unpol no Haiti.
Não há venda de cocaína no
Haiti, pois a maioria da população não tem recursos financeiros para comprar drogas. Contudo, a passagem da droga pelo
país contribui para a corrupção
de policiais haitianos, segundo
Blaise. Entre 2004 e 2009 cerca
de 2.000 policiais foram afastados da Polícia Nacional do Haiti. Louis admite a existência de
corrupção na polícia haitiana.
O dinheiro do tráfico também ajuda a financiar gangues
que atuam em Porto Príncipe.
Contudo, grande parte desses
grupos foi presa ou morta por
policiais da ONU, do Haiti e por
tropas da Minustah. Os criminosos remanescentes ainda
possuem armas escondidas,
mas não enfrentam os capacetes azuis desde 2007.
Com o terremoto, cerca de
5.500 membros dessas gangues
voltaram às ruas, e o governo
haitiano não divulga quantos
foram recapturados. Pelo menos sete deles foram assassinados desde o dia 12 em Porto
Príncipe por brigadas de autodefesa organizadas em comunidades pobres.
Investigações da Unpol que
foram interrompidas pelo terremoto também começavam a
reunir indícios de uma suposta
ligação de políticos haitianos
com os traficantes internacionais que atuam no país.
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