São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011 |
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Exército assiste a manifestações inerte em Suez ANDRE LOBATO EM SUEZ Suez, a cidade egípcia que melhor simboliza a ligação entre Ocidente e Oriente, amanheceu ontem em chamas. Com vozes já roucas, milhares de pessoas estavam na rua desde o raiar do dia. A Folha contou pelo menos dez carros queimados. Suez sedia o canal por onde passa grande parte do petróleo que ruma do Golfo Pérsico para o Ocidente. Mesmo assim, o Exército, um dos fiadores do ditador Hosni Mubarak, teve atitude passiva. Alguns soldados até confraternizavam com manifestantes, que pediam que Mubarak e seu filho e herdeiro político, Gamal, deixem o poder. Algumas pessoas chegavam a subir em tanques para usá-los como palanque, escrevendo neles frases como "o Exército fará a segurança do Egito". Oficiais pediam que as demonstrações parassem, mas muito sem sucesso. Muitas pessoas filmavam e fotografavam os militares e os carros e prédios destruídos. O Exército usava um carro de som para tentar acalmar a população. Um dos manifestantes disse à Folha, antes de queimar um posto policial, que a multidão roubou diversas armas. Ao cair da tarde, desafiando o toque de recolher, grupos de moradores, com paus e pedras nas mãos, improvisaram milícias, para conter saques. A maioria dos que protestavam eram homens, mas havia também muitas mulheres e crianças. As linhas de telefone e a internet, que haviam sido bloqueadas anteontem, foram restabelecidas às 11h. TENSÃO NA RUA Suez é uma típica cidade portuária e industrial, a meio caminho entre o Cairo e a península do Sinai. Junto com a capital e Alexandria (norte), virou um dos focos principais da turbulência no Egito. A instabilidade contribuiu para a disparada do preço do petróleo. O barril encostou em US$ 100 pela primeira vez em dois anos, pelo temor de que o canal fosse fechado e os navios vindos do Golfo Pérsico precisassem dar a volta na África para chegar aos mercados ocidentais. A tensão na rua levava também a discussões. Um homem irritado classificava os manifestantes de baderneiros que ocupavam as ruas para roubar coisas. Outro rebateu, dizendo que o povo tinha necessidades que o governo não atendia. Mas os dois se despediram cordialmente, com a tradicional saudação muçulmana "salaam aleikum" (a paz esteja convosco). Um dos pontos de concentração das manifestações ontem era o hospital, onde havia um número indeterminado de feridos. Em frente ao prédio, um senhor que participou da Guerra de Suez, em 1956 -quando o Egito nacionalizou o canal- era um dos líderes da manifestação. "Mubarak quer que beijemos suas pernas, mas nós vamos esmagá-lo!", gritava. Texto Anterior: Egito ignora promessas e volta às ruas Próximo Texto: Análise: Potência regional tem influência em diversos temas sensíveis do planeta Índice | Comunicar Erros |
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