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Entidade vive momento crítico, diz especialista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A ONU atravessa um momento
crítico, e é imprescindível investigar de modo transparente o escândalo atual e punir os responsáveis para que os danos à sua credibilidade não afetem o trabalho de
suas agências nem sua capacidade
de agir em situações de crise.
A análise é de Ole Holsti, professor da Universidade Duke (EUA)
e autor de, entre outros, "Unity
and Disintegration in International Alliances" (unidade e desintegração em alianças internacionais). Leia a seguir trechos de sua
entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - O escândalo mina realmente a credibilidade da ONU?
Ole Holsti - O relatório sobre o
Programa Petróleo por Comida e
o texto sobre abusos sexuais cometidos por capacetes azuis na
República Democrática do Congo
[ex-Zaire] afetam bastante a credibilidade da entidade e exigem
uma investigação transparente e a
punição dos responsáveis.
Nos EUA, há muita gente contrária à ONU, e os escândalos alimentam as críticas que pesam sobre ela. É justo dizer que a organização enfrenta uma crise séria e
vive um dos momentos mais difíceis de sua história. Para os críticos da ONU, como os neoconservadores do governo dos EUA, essa situação é motivo de satisfação.
As acusações que pesam sobre a
ONU são realmente sérias e devem servir para que ela passe por
um amplo processo de reformas,
visando impedir que tais abusos
voltem a ocorrer. Só espero que as
críticas não atinjam agências cujo
trabalho é muito positivo, como a
Organização Mundial da Saúde.
Ademais, um escândalo financeiro também atinge a credibilidade da ONU no que tange a administrar fundos em outras situações de crise, como na região atingida pelo tsunami no fim de 2004.
Isso é grave porque, se ela não desempenhar esse papel, quem terá
credibilidade global para fazê-lo?
Folha - Como isso afeta as reformas propostas pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan?
Holsti - Isso poderá minar as reformas, porém não tanto quanto
a indicação de John Bolton para o
posto de embaixador dos EUA na
ONU. Afinal, trata-se de uma
mensagem do governo americano à entidade. Para Bolton, se não
for controlada pelos EUA, a organização deverá ser contornada.
Como os americanos desempenham um papel vital no financiamento e nos mecanismos de tomada de decisão da ONU, escândalos como esse servem para dar
munição à ala do governo americano que a vê como um obstáculo
para a política externa dos EUA.
Em relação às reformas, na verdade, tudo depende de quem faz a
análise da situação. Para os defensores da existência da ONU, o escândalo significa que as reformas
devem ser introduzidas, pois dizem respeito a temas cruciais para
o multilateralismo, como a expansão do Conselho de Segurança e a criação de um novo órgão
de defesa dos direitos humanos.
Por outro lado, de acordo com
os detratores da ação da organização, o projeto de reformas proposto por Annan visa desviar a
atenção mundial da crise atual.
Prefiro dar o benefício da dúvida
a Annan, porém defendo a introdução de reformas sérias para impedir que novos casos do gênero
venham a prejudicar ainda mais a
imagem internacional da ONU.
Não podemos imaginar que não
se trate de um problema sério,
pois a existência da organização é
essencial para a manutenção de
um mínimo de multilateralismo
na cena política internacional.
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