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Fidel diz que a produção de álcool provocará fome
Ditador cubano volta ao debate com condenação a uso do milho para combustível
Em artigo no "Granma", ele
cita agências da ONU e tenta
provar que EUA provocarão
desequilíbrio no mercado
internacional de alimentos
DA REDAÇÃO
O ditador cubano, Fidel Castro, responsabilizou ontem o
presidente George W. Bush por
provocar futuramente "a morte
prematura de 3 bilhões" de seres humanos, caso siga adiante
com seu plano de converter alimentos em combustíveis.
A longa mensagem de Fidel, a
primeira desde que transferiu o
poder a seu irmão, Raúl, em 31
de julho, para se submeter a
uma cirurgia, foi publicada pelo
"Granma", jornal do Comitê
Central do Partido Comunista.
O dirigente não utiliza o texto de 1.566 palavras para informar sobre seu real estado de
saúde ou sua possível intenção
de ainda reassumir o poder.
Ele toma como pivô de seu
raciocínio a reunião de Bush,
na última segunda-feira, com
os presidentes das três grandes
montadoras americanas, na
qual exortou a indústria a aumentar a produção de veículos
movidos a álcool ou biodiesel.
Fidel diz acreditar que, por
detrás da "sinistra idéia", há o
estímulo à utilização de terras
agrícolas para a obtenção de
combustíveis, em detrimento
da produção de alimentos.
Em janeiro, Bush propôs reduzir nos próximos dez anos
em 20% o volume da gasolina
consumida pelos veículos automotores nos Estados Unidos.
As contas
Pelas contas de Fidel, isso representaria a necessidade
anual de 132 bilhões de litros de
álcool extraídos do milho. Para
tanto, seriam necessárias 320
milhões de toneladas do produto, quantia elevada, já que, segundo a FAO (agência da ONU
para a agricultura), a colheita
do produto nos EUA em 2005
foi de um volume bem menor,
280 milhões de toneladas.
Fidel não leva a sério a promessa de Bush de não centrar a
demanda no milho e procurar
outras fontes capazes de fornecer álcool combustível.
O ditador dá a entender que
os americanos tendem a entrar
no mercado de grãos dos países
mais pobres, e com isso inevitavelmente forçar a queda na
produção de alimentos.
Ele elogia a "excelente tecnologia brasileira para produzir
álcool" e diz que a Venezuela,
governada por seu aliado Hugo
Chávez, não exportará álcool,
mas misturará o produto à gasolina por questões ambientais.
Em Cuba, no entanto, "as terras separadas para a produção
direta de álcool podem ser muito mais úteis na produção de
alimentos para o povo e na preservação do ambiente".
A ligação entre esse diagnóstico e a suposta morte prematura de "3 bilhões" de pessoas
aparece de modo confuso no
texto do ditador. Ele cita telegrama da Telam (a agência oficial argentina), que por sua vez
resume estudos da FAO e do
Conselho Mundial da Água. Os
dados: em 2015 a escassez de
água afetará entre 2 bilhões e
3,5 bilhões de pessoas.
Nos dois últimos parágrafos,
Fidel cita o derretimento de geleiras na Antártica e os efeitos
do aquecimento global. Mas
não chega a fechar o raciocínio
pelo qual a responsabilidade do
presidente americano seja claramente apontada.
Com agências internacionais
NA INTERNET - Leia a íntegra do artigo de Fidel Castro em www.folha.com.br/070882
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