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Ditador procurado constrange cúpulas
Líder sudanês Omar al Bashir, cuja prisão foi pedida por tribunal internacional, chega a Doha para encontros com árabes e sul-americanos
Presença preocupa Brasil e
vizinhos da América do Sul,
signatários do TPI; viagem é
a quarta do ditador depois
da emissão do mandado
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA
Quebrando um suspense que
durou até o último momento, o
ditador do Sudão, Omar al Bashir, desembarcou ontem em
Doha para o encontro anual da
Liga Árabe, onde foi recebido
com tapete vermelho e todas as
honras diplomáticas.
A presença de Bashir, em novo desafio à ordem de prisão
emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), promete
constranger os líderes sul-americanos que participarão de
uma cúpula com países árabes
amanhã na capital do Qatar. A
chegada do presidente Lula está confirmada para hoje.
Acusado de crimes de guerra
e contra a humanidade no conflito em Darfur, o líder sudanês
busca apoio internacional. Desde a emissão do mandado, no
último dia 4, Bashir viajou à
Eritreia, ao Egito e à Líbia.
Sua chegada só foi possível
após os participantes garantirem que não cumpririam a ordem de prisão, embora três -
Jordânia, Comoros e Djibuti-
sejam signatários do TPI.
Amanhã, na conclusão de seu
encontro anual, a Liga Árabe
emitirá um comunicado de
apoio a Bashir, o que deve estender a pressão à reunião com
os líderes sul-americanos, que
começa logo em seguida.
Praticamente pronta desde
fevereiro, a declaração final da
segunda Cúpula América do
Sul-Países Árabes tem uma
menção vaga a Darfur. Num parágrafo breve, o texto defende
uma solução diplomática e pacífica para o conflito étnico que
já deixou cerca de 300 mil mortos e desabrigou 2 milhões, segundo estimativas da ONU.
Mas diplomatas sul-americanos que trabalhavam ontem
nos últimos detalhes do texto
admitiram que a chegada de
Bashir criará "um momento"
para que o trecho seja modificado, a fim de dar um tom de
apoio ao ditador sudanês.
Um dos negociadores sul-americanos admitiu que será
necessário um "malabarismo
diplomático" para contornar o
constrangimento, já que todos
os países da América do Sul,
com exceção do Chile, são signatários do Tratado de Roma,
que instituiu o TPI.
Assim que soube da chegada
de Bashir, o embaixador do
Brasil no Qatar, Anuar Nahes,
telefonou para o chanceler Celso Amorim, prestes a embarcar
para Doha, para informá-lo sobre a nova dinâmica que o encontro provavelmente terá.
A esperança de diplomatas
de que o constrangimento pudesse ser evitado foi frustrada
quando Bashir surgiu na porta
do avião presidencial sudanês.
Transmitida ao vivo em vários telões no hotel de Doha
que será sede das duas cúpulas,
a imagem do desembarque causou alvoroço entre jornalistas e
diplomatas e logo virou o principal assunto de discussão.
O próprio emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al Thani, recebeu Bashir na pista do aeroporto, ao lado do secretário-geral
da Liga Árabe, Amr Moussa.
O Brasil não se pronunciou
sobre o mandado de prisão
contra Bashir, levando organizações humanitárias a criticar
o país por se omitir sobre um
caso grave de violação de direitos humanos. A crítica já havia
sido feita depois que o país evitou apoiar resoluções condenando o Sudão no Conselho de
Direitos Humanos da ONU.
Questionado ontem sobre o
tema, o embaixador Anuar Nahes repetiu a posição do Itamaraty, de que um posicionamento político não é necessário. "O
Brasil é signatário do TPI e respeita suas decisões", disse ele.
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