São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

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Atentados no metrô matam 38 em Moscou

Mulheres-bomba se explodem em duas estações do centro da capital russa; Kremlin diz suspeitar de insurgentes islâmicos

Chanceler evoca hipótese de que militantes instalados no Afeganistão e no Paquistão tenham colaborado com os grupos do norte do Cáucaso


Vladimir Davidov/Reuters
Flores em memória às vítimas depositadas na estação Lubianka, uma das atingidas pelos ataques na manhã de ontem em Moscou

DA REDAÇÃO

Em menos de uma hora, mulheres-bomba atacaram duas estações de metrô do centro de Moscou ontem, no horário de pico da manhã. A ação deixou 38 mortos e mais de 60 feridos, no pior atentado terrorista realizado na capital russa nos últimos seis anos.
Os insurgentes do norte do Cáucaso -que, para o Kremlin, têm apoio da Al Qaeda- foram apontados como suspeitos pelo chefe do serviço de segurança, Alexander Bortnikov, mas não assumiram a autoria. O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, chegou a dizer que militantes da fronteira entre Afeganistão e Paquistão podem ter colaborado para a ação em Moscou, sem citar a rede de Osama bin Laden. "Sabemos que muitos lá tramam ataques não só no Afeganistão, mas também em outros países. Às vezes as trilhas levam ao Cáucaso", disse, segundo a agência russa Interfax.
Ontem, três sites ligados à Al Qaeda receberam mensagens de parabéns pelos ataques em Moscou. Recentemente, as forças russas mataram líderes da insurgência do Cáucaso -por isso, há suspeita de retaliação.
Críticos disseram que os ataques mostram as falhas da política russa na Tchetchênia, uma vez que a violência se espalhou nos vizinhos Inguchétia e Daguestão. Grupos de defesa dos direitos humanos acusaram o Kremlin de ações "brutais".
Em 2004, rebeldes fizeram dois ataques suicidas ao metrô de Moscou em seis meses, deixando 50 mortos e gerando temor de que uma guerra explodisse na capital. No ano passado, tchetchenos assumiram um ataque a bomba a um trem entre Moscou e São Petersburgo.
No mês passado, o líder rebelde Doku Umarov alertou os russos de que a guerra estava "chegando às suas cidades".
Ontem, o primeiro explosivo foi detonado às 8h locais, na estação Lubianka, que fica abaixo dos prédios do serviço secreto federal, sucessor da KGB soviética. Cerca de 45 minutos depois, houve a outra explosão na estação Parque Kulturi, próxima ao parque Górki.
Nos dois casos, os artefatos foram detonados no momento da abertura das portas, após a chegada dos trens às plataformas lotadas. Um vídeo amador feito na Lubianka pouco após a explosão mostra as vítimas deitadas e sentadas no chão, sob uma espessa cortina de fumaça. Os feridos foram socorridos em ambulâncias e em helicópteros.
O metrô de Moscou recebe 7 milhões de passageiros em um dia útil, em média, e é o segundo mais movimentado do mundo, atrás apenas do de Tóquio.
Ontem, após os ataques, parte da linha vermelha do sistema -onde ficam as estações atacadas- foi bloqueada. Devido às conexões, outras linhas registraram atrasos, mas não chegaram a parar. Por volta das 16h, ambas estações reabriram.

Repercussão
Em visita à Sibéria, o premiê Vladimir Putin disse que a ação foi "terrível nas consequências e abominável na forma" e assegurou que os "terroristas serão destruídos". Já surgiram especulações do eventual uso político da ação por Putin, que ganhou prestígio na luta contra o separatismo tchetcheno e deverá participar da corrida presidencial de 2012.
Um grupo ligado a opositores liberais, Solidariedade, adverte em nota que, "sob a luta contra o terrorismo, a repressão sobre a oposição será fortalecida".
O presidente russo, Dmitri Medvedev, visitou uma das estações atingidas horas depois do ataque e prometeu "encontrar e destruir" os responsáveis. "O nosso povo morreu. Foi um crime nojento." Ao lado da mulher, ele colocou um buquê de rosas vermelhas com um laço preto na plataforma atacada.
Em visita ao Afeganistão, o presidente Barack Obama ligou para o colega russo e prometeu "ajudar a levar os responsáveis pelo ataque à Justiça".

Com agências internacionais



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