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Potências querem tirar dos desarmados até estilingue, diz brasileiro
Para Samuel Guimarães, caso do Irã pode repetir "manipulação ideológica" pré-invasão do Iraque
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro
Guimarães, disse ontem que os
países "extraordinariamente
armados" pretendem "desarmar os desarmados totalmente, até o último estilingue", e
convencer o mundo de que são
estes últimos os "perigosos e
que oferecem grandes riscos à
paz internacional".
Foi uma das referências indiretas à pressão das potências
ocidentais sobre o programa
nuclear do Irã, em palestra na
Escola de Políticas Públicas do
Iuperj (Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio) na qual o
ex-secretário-geral do Itamaraty falou sobre "as perspectivas do Brasil para o mundo de
2022".
Ele se referiu às negociações
de defesa ao mencionar a criação de normas destinadas a
"consagrar privilégios" como
uma das tendências globais que
o Brasil enfrentará.
Ao apresentar o ministro, o
acadêmico Candido Mendes,
reitor da universidade à qual o
Iuperj é ligado, saudou o esforço brasileiro para "readmitir o
Irã na comunidade internacional" e perguntou por que o país
persa não pode ser potência
nuclear "se Israel o é".
Guimarães não entrou nesse
mérito, mas disse que a manutenção de privilégios no sistema internacional envolve uma
"manipulação ideológica permanente", que segundo ele parte de universidades para organismos internacionais e a imprensa, e conseguiu, em 2003,
"convencer" que o Iraque tinha
armas de destruição em massa.
"Quem sabe não estamos
diante de uma outra formulação do tipo, que se articula gradualmente?", perguntou.
Antes, ao lembrar que países
hoje no Conselho de Segurança
da ONU, como França e Reino
Unido, já estavam em posição
de poder no início do século 19,
o ministro disse que "uma das
características do sistema internacional é o racismo, a ideia
de civilizações superiores e inferiores".
Disse que japoneses foram
considerados "brancos honorários" para fazer negócios com a
África do Sul do apartheid e
comparou: "Fiquem sabendo
os senhores que nós também
somos brancos honorários.
Mesmo aqueles aqui de pele
mais alva".
América do Sul
Guimarães disse que a crescente disparidade econômica
entre o Brasil e seus vizinhos da
América do Sul, e a penetração
de empresas brasileiras na região, onde o "capital estrangeiro, como sabemos, nem sempre
é bem-vindo", exige que o país
seja mais generoso.
"Será necessária uma política
de grande audácia para reverter
essa tendência, promover o desenvolvimento dos vizinhos e
permitir o desenvolvimento
equilibrado da região", disse,
citando também a intensificação do ativismo indígena, desconfiado da exploração de recursos naturais.
Ele sugeriu a formação de um
mercado único sul-americano,
mas não "ao estilo neoliberal",
no qual o Brasil continue a acumular superavit. Seria, disse,
um esquema "em que o Brasil
abra seu mercado, mas permita
aos países menores proteger
seu sistema econômico para
poderem se desenvolver".
Guimarães disse ainda que o
Brasil sofrerá "danos extraordinários" se cair na tentação de
se intrometer na política interna dos vizinhos, movido por interesses econômicos. "Será necessário manter o princípio da
não intervenção e da autodeterminação", afirmou.
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