São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Recuo de ditador repete tática da 2ª Guerra Mundial

Ação foi usada pelo famoso marechal de campo alemão Erwin Rommel contra os britânicos; Gaddafi deverá optar por luta urbana

LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

A retomada de 480 km de território entre os últimos dias 26 e 28 não foi simplesmente uma conquista dos rebeldes líbios.
Segundo analistas, a ação foi um recuo planejado de Muammar Gaddafi com um objetivo: encurtar as linhas de suprimentos para protegê-las de ataques aéreos.
De acordo com militares do Exército brasileiro ouvidos pela Folha, as forças do ditador teriam ficado sem comida e munição se tivessem resistido próximo à capital rebelde, Benghazi.
Com a entrada no conflito da aviação e da marinha da coalizão aliada, qualquer tentativa de mandar reforços ou suprimentos ao front -pela estrada ou por mar- seria impedida pelo ar.
Só não é possível saber o que motivou o ditador, se a pressão aliada ou a possibilidade de se reorganizar e se defender melhor.
"Gaddafi está trocando espaço por tempo", opinou o coronel da reserva do Exército, Ricardo Aizcorbe.
A tática não é nova na Líbia. Foi usada pelo famoso marechal de campo alemão, Erwin Rommel, contra os britânicos na Segunda Guerra.
Em janeiro de 1942, após sofrer pesadas baixas em seu Afrikakorps (divisões alemãs), ele retrocedeu de Tobruk até Sabkah al Kabirah (entre Brega e Ras Lanuf).
No fim do mesmo mês organizou nova ofensiva, reconquistando Benghazi e chegando à fronteira egípcia. Ele foi derrotado no fim daquele ano e obrigado a recuar, mas se tornou uma lenda, mesmo entre seus inimigos, pela ação na Líbia.
Gaddafi luta no mesmo cenário. Ele perdeu defesas antiaéreas, mas mantém sua artilharia de campanha e tanques. Com eles, começou a empurrar ontem os rebeldes para longe de Sirte.

NA DEFENSIVA
Mas a supremacia aérea aliada continua um fator decisivo na batalha.
A artilharia de Gaddafi pode retardar, mas não impedir os rebeldes de chegar às cidades do ditador, segundo o general Augusto Heleno Pereira, ex-comandante da ONU no Haiti, hoje no Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
Se optar por resistir, Gaddafi deve tentar lutar não no deserto, mas dentro de cidades como Sirte e Trípoli, que não podem ser bombardeadas, pois o resultado seria um massacre de civis.
O ditador pode usar nessa guerra urbana suas milícias, que ainda não entraram em grandes combates.
Sem uma invasão terrestre aliada ainda não é possível prever o desfecho da guerra. Mas vale lembrar que os rebeldes são civis maltreinados e Gaddafi não é Rommel.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frases
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.