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HISTÓRIA
Documentos secretos recém-revelados mostram as articulações de Washington para lidar com o projeto nuclear de Israel
Nixon soube de bomba israelense, mas evitou retaliar
DA REDAÇÃO
Documentos secretos do governo americano, revelados apenas
anteontem, informam que em
1969 o então presidente Richard
Nixon hesitou em reagir com represálias à informação de seus
serviços de inteligência de que Israel já possuía a bomba atômica.
Sem ter sido previamente informada sobre o projeto israelense, a
Casa Branca encaminhou a questão ao assessor de Segurança Nacional, Henry Kissinger. Ele e um
grupo de conselheiros chegaram
a propor, para explicitar seu mau
humor, que o governo americano
suspendesse a entrega de caças-bombardeiros F4 Phantom que
Israel havia comprado.
Mas logo em seguida a primeira-ministra Golda Meir faria sua
primeira viagem aos Estados Unidos. Não se sabe com precisão o
que ela negociou com Nixon. O
fato é que os aviões militares foram entregues, e Washington
passou a conviver com a bomba
israelense "não declarada", para
usar um eufemismo da época.
O episódio está em documentos
obtidos pelo National Security
Archive (Arquivo de Segurança
Nacional), uma entidade que funciona na Universidade George
Washington e que consegue documentos com base na Freedom
of Information Act (a lei americana sobre liberdade de expressão).
A forma pela qual os EUA tomaram conhecimento da bomba
atômica israelense -aquele país
até hoje nega possuí-la- é objeto
de reportagem que o "Washington Post" está publicando hoje.
Os 30 documentos agora desclassificados também serviram
para que o "Boletim dos Cientistas Atômicos", uma entidade pacifista americana, publicasse em
sua revista do próximo bimestre
"Israel Crosses the Threshold"
(Israel atravessa o limite).
O episódio é em muitos sentidos saboroso. Ameaçado por vizinhos hostis, Israel decidiu em
1958 se dotar da bomba atômica.
Construiu o centro de pesquisa
nuclear de Dimona. Dois anos depois a CIA desconfiava quais seriam os objetivos da instalação. A
tecnologia necessária para a bomba estava pronta em 1966. No ano
seguinte foi produzida -mas não
testada- a primeira ogiva.
Washington pressionou Israel a
assinar o TNP (Tratado de Não-Proliferação), o que colocaria seus
laboratórios sob inspeção internacional. E usou os caças F-4 como moeda. O então embaixador
israelense em Washington, Yitzhak Rabin, que viria a ser primeiro-ministro, participou da operação destinada a neutralizar, por
meio do Pentágono e do Departamento de Estado, as múltiplas objeções americanas.
Henry Kissinger foi encarregado de redigir um documento, conhecido como NSSM-40, em que
abria um leque de opções para lidar com a bomba israelense.
Os secretários de Estado e da
Defesa interpelaram oficialmente
Rabin. Encaminharam-lhe três
questões específicas, sobretudo
quanto à necessidade de assinar o
TNP. Mas Rabin, em lugar de dar
respostas, agendou o programa
nuclear israelense no encontro
que Nixon teria com a primeira-ministra Golda Meir, em 26 de setembro de 1969.
A Casa Branca decidiu, então,
"aliviar" as pressões contra Israel.
Com a promessa, Rabin escreveu
à burocracia diplomática e militar
que seu país não planejava se tornar uma potência nuclear. Quanto ao TNP, as coisas só poderiam
ser decididas depois das eleições
israelenses. Também tranqüilizou os americanos quanto ao uso
de mísseis. Eles não integrariam o
arsenal de Israel, disse, até 1972.
Em fevereiro de 1970 Rabin disse a Kissinger que Nixon já havia
sido informado por Golda de que
Israel não assinaria o TNP. Diante
disso, o governo americano cancelou a nova visita de inspeção
que faria às instalações de Dimona. O segredo foi bem guardado.
Tanto que, em 1975, o Departamento de Estado se recusou a informar o Congresso de que Israel
já tinha a bomba atômica.
Alguns detalhes do episódio
ainda são considerados pelo governo americano como segredos
de segurança nacional. Tanto que
o NSSM-40 não teve seu conteúdo
integralmente revelado.
Veja o site http://www.nsarchive.org
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