São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PODER AMERICANO

Crítico contundente de Bush, escritor mexicano fala sobre a possível ascensão da superpoderosa secretária

"Condoleezza pode acabar presidente dos EUA", diz Fuentes

DEBORAH SOLOMON
DO "NEW YORK TIMES"

Aos 77 anos, o romancista mexicano Carlos Fuentes, um dos mais brilhantes escritores latino-americanos, é um crítico contundente do presidente George W. Bush, mas não esconde seu fascínio pela mulher mais poderosa do governo norte-americamo, a secretária de Estado, Condoleezza Rice.
Fuentes a descreve como uma política inteligente, capaz de enxergar sutilezas e uma séria candidata a se tornar a primeira mulher na Presidência dos EUA.
É esse o cenário que ele pinta em seu novo livro "A Cadeira da Águia", uma sátira política representada em 2020. "Ela parece ter algo mais do que se poderia imaginar por trás de sua fachada", afirma o escritor.
Nesta entrevista, entre ácido e descontraído, Fuentes faz comentários sobre Rice - e sobre as suas "belas pernas" -, além de falar sobre a política externa norte-americana e dos últimos episódios envolvendo imigrantes latinos no país.
 

Pergunta - O que levou o sr., como um dos mais importantes escritores latino-americanos e um dos críticos mais declarados da administração Bush, a elevar Condoleezza Rice à posição invejável de presidente dos EUA em seu romance mais recente, "A Cadeira da Águia", uma sátira política ambientada no ano 2020?
Carlos Fuentes -
Posso lhe assegurar que escrevi esse livro como exorcismo, não como profecia. Mas ele está mostrando ser profético. Condoleezza Rice pode de fato acabar sendo presidente. Os democratas não nos estão oferecendo nada.

Pergunta - Como o sr. explica o fascínio do público por ela?
Fuentes -
Ela é inteligente. Veste-se bem. É capaz de notar nuances. Ela parece ter algo mais do que se poderia imaginar por trás de sua fachada. Tem pernas melhores do que as de Bush. E eu sei como são as pernas dele, porque já o vi caindo de uma bicicleta, de shorts.

Pergunta - Se o sr. falar neste país sobre uma mulher ser interessante por suas pernas, corre o risco de ser apedrejado, e com razão.
Fuentes -
Mas eu posso dizer isso. Sou mexicano!

Pergunta - O sr. já indicou que não aprecia tanto a abordagem de Rice para política externa.
Fuentes -
A política externa americana é maniqueísta. É como um filme de Hollywood. É preciso saber quem usa o chapéu branco e quem usa o preto, e então combater o chapéu preto. É "Moby Dick". O gênio de [Herman] Melville foi compreender que este é um país que necessita de um monstro. Mas, como mostrou o furacão Katrina, existem problemas muito grandes dentro dos EUA, sem que o país precise criar cruzadas contra o resto do mundo a toda hora.

Pergunta - O sr. não parece ser muito diplomático, para um homem que já foi embaixador do México na França.
Fuentes -
Gosto de brigar. Vivo me metendo em encrencas. Quando eu era embaixador, era obrigado a me conter.

Pergunta - O sr. já pensou na hipótese de se candidatar à Presidência mexicana?
Fuentes -
As pessoas não votariam num escritor. Não são loucas.

Pergunta - Por que o México não tem vice-presidente?
Fuentes -
Porque ele imediatamente faria uma conspiração para derrubar o presidente e provavelmente matá-lo, que foi o que aconteceu quando a função de vice-presidende existiu no México, no século 19.

Pergunta - Como o sr. vê o atual furor em torno da imigração nos EUA?
Fuentes -
A lei Sensenbrenner é uma insensatez. Ela não leva em conta as necessidades da força de trabalho americano. Vocês pagariam caro pela ausência desses imigrantes. O país iria parar. Não haveria gente para dirigir os ônibus, atender nos restaurantes, cuidar dos jardins e dos bebês. Não haveria pessoas empreendedoras.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.