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PODER AMERICANO
Crítico contundente de Bush, escritor mexicano fala sobre a possível ascensão da superpoderosa secretária
"Condoleezza pode acabar presidente dos EUA", diz Fuentes
DEBORAH SOLOMON
DO "NEW YORK TIMES"
Aos 77 anos, o romancista mexicano Carlos Fuentes, um dos
mais brilhantes escritores latino-americanos, é um crítico contundente do presidente George W.
Bush, mas não esconde seu fascínio pela mulher mais poderosa do
governo norte-americamo, a secretária de Estado, Condoleezza
Rice.
Fuentes a descreve como uma
política inteligente, capaz de enxergar sutilezas e uma séria candidata a se tornar a primeira mulher
na Presidência dos EUA.
É esse o cenário que ele pinta em
seu novo livro "A Cadeira da
Águia", uma sátira política representada em 2020. "Ela parece ter
algo mais do que se poderia imaginar por trás de sua fachada",
afirma o escritor.
Nesta entrevista, entre ácido e
descontraído, Fuentes faz comentários sobre Rice - e sobre as
suas "belas pernas" -, além de
falar sobre a política externa norte-americana e dos últimos episódios envolvendo imigrantes latinos no país.
Pergunta - O que levou o sr., como um dos mais importantes escritores latino-americanos e um dos
críticos mais declarados da administração Bush, a elevar Condoleezza Rice à posição invejável de
presidente dos EUA em seu romance mais recente, "A Cadeira da
Águia", uma sátira política ambientada no ano 2020?
Carlos Fuentes - Posso lhe assegurar que escrevi esse livro como
exorcismo, não como profecia.
Mas ele está mostrando ser profético. Condoleezza Rice pode de fato acabar sendo presidente. Os
democratas não nos estão oferecendo nada.
Pergunta - Como o sr. explica o
fascínio do público por ela?
Fuentes - Ela é inteligente. Veste-se bem. É capaz de notar nuances. Ela parece ter algo mais do
que se poderia imaginar por trás
de sua fachada. Tem pernas melhores do que as de Bush. E eu sei
como são as pernas dele, porque
já o vi caindo de uma bicicleta, de
shorts.
Pergunta - Se o sr. falar neste país
sobre uma mulher ser interessante
por suas pernas, corre o risco de ser
apedrejado, e com razão.
Fuentes - Mas eu posso dizer isso. Sou mexicano!
Pergunta - O sr. já indicou que
não aprecia tanto a abordagem de
Rice para política externa.
Fuentes - A política externa
americana é maniqueísta. É como
um filme de Hollywood. É preciso
saber quem usa o chapéu branco e
quem usa o preto, e então combater o chapéu preto. É "Moby
Dick". O gênio de [Herman] Melville foi compreender que este é
um país que necessita de um
monstro. Mas, como mostrou o
furacão Katrina, existem problemas muito grandes dentro dos
EUA, sem que o país precise criar
cruzadas contra o resto do mundo a toda hora.
Pergunta - O sr. não parece ser
muito diplomático, para um homem que já foi embaixador do México na França.
Fuentes - Gosto de brigar. Vivo
me metendo em encrencas.
Quando eu era embaixador, era
obrigado a me conter.
Pergunta - O sr. já pensou na hipótese de se candidatar à Presidência mexicana?
Fuentes - As pessoas não votariam num escritor. Não são loucas.
Pergunta - Por que o México não
tem vice-presidente?
Fuentes - Porque ele imediatamente faria uma conspiração para derrubar o presidente e provavelmente matá-lo, que foi o que
aconteceu quando a função de vice-presidende existiu no México,
no século 19.
Pergunta - Como o sr. vê o atual
furor em torno da imigração nos
EUA?
Fuentes - A lei Sensenbrenner é
uma insensatez. Ela não leva em
conta as necessidades da força de
trabalho americano. Vocês pagariam caro pela ausência desses
imigrantes. O país iria parar. Não
haveria gente para dirigir os ônibus, atender nos restaurantes,
cuidar dos jardins e dos bebês.
Não haveria pessoas empreendedoras.
Tradução de Clara Allain
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