São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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EUA tentam isolar Irã sem aval ONU, diz jornal

Memorandos mostram que EUA pressionam Europa e Japão a congelar fundos de Teerã e dificultar operações financeiras

Segundo o "Post", país tem força-tarefa subordinada a Departamento de Estado e contornaria o Conselho de Segurança do organismo

DA REDAÇÃO

Os Estados Unidos têm pressionado países da União Européia e o Japão a aderirem a uma operação de congelamento de fundos iranianos em seus sistemas financeiros e de bloqueio de transferências de dinheiro para aquele país islâmico. A informação, publicada ontem pelo "Washington Post", equivaleria à adoção de sanções econômicas que contornariam a necessidade de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, onde Washington esbarra na forte resistência da Rússia e da China.
As sanções multilaterais, se adotadas, não incluiriam nenhum embargo à importação de petróleo iraniano. O governo americano constata que alguns de seus parceiros, como a Itália e o Japão, têm no Irã uma fonte importante de fornecimento de óleo cru, e não acredita que mercados com tal perfil aceitem ser sacrificados.
Segundo o "Post", o plano, elaborado de modo discreto, já está bastante avançado. Ele envolve uma força-tarefa do Departamento do Tesouro que está sob o comando da secretária de Estado, Condoleezza Rice.
O regime islâmico está na mira da comunidade internacional por não ter demonstrado que seu programa nuclear se destina exclusivamente a finalidades civis (produção de eletricidade). O governo de George W. Bush acredita que a médio prazo Teerã pretenda produzir a bomba atômica, intenção que os iranianos negam.
O plano em elaboração tem por meta bloquear a liberdade financeira de todos os dirigentes ou entidades iranianas que tenham conexão não só com o projeto de enriquecimento de urânio mas que também estejam ligados ao terrorismo -no Iraque, no Líbano, em Israel e nos territórios palestinos-, à corrupção oficial e à supressão da liberdade religiosa. Ao desencadear essa operação, Washington fecha em definitivo as portas para consultas bilaterais com os iranianos.
O "Washington Post" constata que décadas de sanções unilaterais a Cuba, Coréia do Norte e ao próprio Irã, com o qual os EUA não têm relações diplomáticas desde 1979, não desgastaram ou aproximaram esses regimes do colapso. Mas citam os bons resultados na Líbia, que abandonou o projeto de construir a bomba atômica e se reconciliou com a comunidade internacional.
Documento americano ao qual o jornal teve acesso afirma que, com a adesão do Reino Unido, da França, da Alemanha, da Itália e do Japão, as sanções "isolariam o regime iraniano" e neutralizariam a liberdade com a qual ele opera na comunidade financeira.
Até agora, no entanto, a idéia não tem sido recebida com entusiasmo pelos parceiros potenciais da operação. Há questões técnicas -nem todos os países têm legislação que permita o congelamento de ativos de outro Estado - e também políticas, como o temor de que, se isolado, o Irã seja o estopim de um novo conflito no Oriente Médio.

Reunião
Representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança reúnem-se nesta quinta-feira, em Viena, juntamente com a Alemanha, na tentativa de fechar um pacote de medidas para o Irã. São tanto incentivos -caso o país concorde em interromper o enriquecimento de urânio em seu território- como punições -se ele permanecer irredutível em seu projeto de produzir combustível nuclear.
Tudo indica que se caminha para essa última alternativa. Ainda ontem, em visita à Malásia, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, disse que o objetivo de seu governo continua a ser o reconhecimento do "direito essencial de dispor de tecnologia nuclear".


Com agências internacionais


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