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Colega de faculdade vê oportunidade de diálogo com o novo líder das Farc
CLÓVIS ROSSI
EM MADRI
Quando iniciou, em 1998, o
diálogo de paz com o então
presidente Andrés Pastrana,
o líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) Manuel Marulanda, cuja morte acaba de ser
confirmada, reclamou que,
50 anos antes, seus porcos haviam sido mortos e sua casinha destruída durante "La
Violencia", a verdadeira guerra civil entre liberais e conservadores, entre 1948 e 58.
Esse detalhe é lembrado
por Germán Rey, professor
de jornalismo (Universidade
Javeriana de Bogotá) e ex-ombudsman do jornal "El
Tiempo", para dizer que a
morte de Marulanda, 77, e sua
substituição por Alfonso Cano, 59, são mais do que uma
mudança generacional. Trata-se de trocar um camponês
por um homem urbano.
Tão urbano que era um
"bacano", gíria para grandes
dançarinos de rumba elegante, como lembra o escritor venezuelano Ibsen Martínez,
em artigo para "El País".
Germán Rey estudou na
mesma Universidade Nacional em que Cano cursou antropologia. Ele descreve o
ambiente na universidade à
época de ambos: um fervilhar
de grupos de esquerda. Cano
era da JUC (Juventude Universitária Comunista), considerada moderada pelos grupos trotskistas e maoístas que
com ela disputavam o poder
na universidade. Foi um comunista, o segundo homem
das Farc à época, quem levou
Guillermo León Sánchez Vargas (nome verdadeiro de Cano) para a guerrilha.
Muda alguma coisa a troca
de comandantes nas Farc?
Rey não se acha em condições
de fazer prognósticos definitivos, a não ser o de que uma
solução puramente militar
para o conflito colombiano
lhe parece inviável, por mais
que as Farc estejam enfraquecidas. O outro caminho, a
negociação, depende de as
Farc aceitarem que não vão
ganhar jamais pelas armas, o
que as empurraria para o diálogo, por mais que odeiem o
presidente Álvaro Uribe.
Germán Rey sabe do que
está falando: foi representante da sociedade civil na negociação com o ELN (Exército
de Libertação Nacional, o outro grupo guerrilheiro), em
meados dos anos 90. Cano
também tem experiência prévia de negociação: era um dos
negociadores das Farc em Caracas e Tlaxcala (México).
Rey diz que um dos fatores
que podem inibir qualquer
iniciativa de diálogo é o fato
de que as Farc negociaram
uma saída política com o presidente Belisário Betancur,
da qual nasceu, em 1985, o
partido "União Patriótica".
Foi exterminado rapidamente pela repressão.
Se as Farc negociarem, Rey
acredita que porão sobre a
mesa três pontos básicos: a
sua própria inserção política;
a participação da sociedade
civil nas negociações; e a convocação de uma Constituinte
para tentar introduzir reformas que Rey diz não serem
"nem malucas nem realmente revolucionárias".
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