São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Colega de faculdade vê oportunidade de diálogo com o novo líder das Farc

CLÓVIS ROSSI
EM MADRI

Quando iniciou, em 1998, o diálogo de paz com o então presidente Andrés Pastrana, o líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Manuel Marulanda, cuja morte acaba de ser confirmada, reclamou que, 50 anos antes, seus porcos haviam sido mortos e sua casinha destruída durante "La Violencia", a verdadeira guerra civil entre liberais e conservadores, entre 1948 e 58.
Esse detalhe é lembrado por Germán Rey, professor de jornalismo (Universidade Javeriana de Bogotá) e ex-ombudsman do jornal "El Tiempo", para dizer que a morte de Marulanda, 77, e sua substituição por Alfonso Cano, 59, são mais do que uma mudança generacional. Trata-se de trocar um camponês por um homem urbano.
Tão urbano que era um "bacano", gíria para grandes dançarinos de rumba elegante, como lembra o escritor venezuelano Ibsen Martínez, em artigo para "El País".
Germán Rey estudou na mesma Universidade Nacional em que Cano cursou antropologia. Ele descreve o ambiente na universidade à época de ambos: um fervilhar de grupos de esquerda. Cano era da JUC (Juventude Universitária Comunista), considerada moderada pelos grupos trotskistas e maoístas que com ela disputavam o poder na universidade. Foi um comunista, o segundo homem das Farc à época, quem levou Guillermo León Sánchez Vargas (nome verdadeiro de Cano) para a guerrilha.
Muda alguma coisa a troca de comandantes nas Farc? Rey não se acha em condições de fazer prognósticos definitivos, a não ser o de que uma solução puramente militar para o conflito colombiano lhe parece inviável, por mais que as Farc estejam enfraquecidas. O outro caminho, a negociação, depende de as Farc aceitarem que não vão ganhar jamais pelas armas, o que as empurraria para o diálogo, por mais que odeiem o presidente Álvaro Uribe.
Germán Rey sabe do que está falando: foi representante da sociedade civil na negociação com o ELN (Exército de Libertação Nacional, o outro grupo guerrilheiro), em meados dos anos 90. Cano também tem experiência prévia de negociação: era um dos negociadores das Farc em Caracas e Tlaxcala (México).
Rey diz que um dos fatores que podem inibir qualquer iniciativa de diálogo é o fato de que as Farc negociaram uma saída política com o presidente Belisário Betancur, da qual nasceu, em 1985, o partido "União Patriótica". Foi exterminado rapidamente pela repressão.
Se as Farc negociarem, Rey acredita que porão sobre a mesa três pontos básicos: a sua própria inserção política; a participação da sociedade civil nas negociações; e a convocação de uma Constituinte para tentar introduzir reformas que Rey diz não serem "nem malucas nem realmente revolucionárias".


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