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Obama terá "ciberczar" para "guerras virtuais"
Novo cibercomando conduzirá operações defensivas e ofensivas contra "computadores inimigos'; nome ainda não foi escolhido
Casa Branca vê ameaça cibernética como desafio de segurança nacional e estima que ação de hackers tenha custado US$ 8 bi em 2 anos
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Após dizer que as redes digitais dos EUA são "bens nacionais estratégicos", o presidente
Barack Obama anunciou ontem a criação de um departamento específico na Casa Branca para ação em "guerras virtuais". O órgão será coordenado por um "ciberczar", cujo nome ainda não foi selecionado.
O novo cibercomando conduzirá não apenas operações de
segurança mas também ofensivas contra "computadores inimigos". Membros do governo
não quiseram detalhar as potenciais operações ofensivas,
mas afirmaram ver o ciberespaço como algo comparável a
campos de batalha tradicionais.
Obama disse que tecnologias
virtuais já são usadas em conflitos reais. "No ano passado, vislumbramos a próxima face da
guerra. Enquanto tanques russos entravam na Geórgia, ciberataques prejudicaram sites do
governo georgiano; os terroristas que semearam tanta morte
e destruição em Mumbai se
apoiaram não apenas em armas
e granadas, mas também em
sistemas GPS e telefones que
usavam voz pela internet."
Hoje, ações de segurança virtual nos EUA estão descoordenadas e distribuídas entre vários órgãos, como a Agência Nacional de Segurança (NSA) e o
próprio Pentágono. Para Obama, o status quo não é eficiente:
"Não estamos tão preparados
como deveríamos, nem como
governo nem como país. O ciberespaço é real, assim como as
ameaças que derivam dele". O
novo "ciberczar" integrará as
políticas governamentais de cibersegurança e coordenará respostas a eventuais ataques virtuais.
"A Al Qaeda e outros grupos
terroristas já falaram de seu desejo de lançar ataques virtuais
aos EUA. Atos de terror podem
vir não só de extremistas suicidas, mas também de toques em
um computador -uma arma de
abalo em massa."
A Casa Branca estima que
nos últimos dois anos a atuação
de criminosos virtuais custou
mais de US$ 8 bilhões aos americanos. Só em 2008, dados digitais roubados somam valores
de até US$ 1 trilhão em todo o
mundo. O próprio presidente
sofreu consequências dos ataques -sua campanha à Casa
Branca teve os computadores
invadidos e espionados.
Suspeita-se que parte dos
ataques não seja ação de hackers isolados, mas sim espionagem por parte de governos estrangeiros, como o da China.
"Por todas essas razões, está
claro que a ameaça cibernética
é um dos mais sérios desafios
econômicos e de segurança nacional que nosso país enfrenta", resumiu Obama.
Escalada
Obama se esforçou para apaziguar temores de que abusará
das liberdades civis e privacidade digital no país. Ele afirmou
que impedirá o governo de monitorar regularmente "redes do
setor privado" e que haverá um
cargo no novo departamento
específico para essa proteção.
Esse é um ponto delicado,
principalmente após polêmicas
do governo de George W. Bush
relacionadas a escutas de comunicações sem mandato judicial e espionagem de e-mails.
Além da questão da privacidade, a iniciativa de ontem do
governo gerou também temores de respostas externas agressivas. "Sem dúvida, a ação vai
levar a uma escalada de estratégias para ataques e incidentes
por adversários, incluindo Rússia e China, que verão a política
dos EUA como um aumento de
ameaças e legitimação dessas
táticas", disse ao "New York Times" Ron Deibert, cofundador
do relatório Monitor de Guerras de Informação e diretor do
Laboratório Cidadão da Universidade de Toronto. "Podemos esperar ataques mais debilitantes em serviços e sites."
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