São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011

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ENTREVISTA da 2ª SÉRGIO CABRAL GOVERNADOR DO RIO

"Não há crise", diz Cabralsobre briga de PT e PMDB

ALIANÇA DEVE DURAR ATÉ 2014 E TENTAR REELEGER DILMA ROUSSEFF E MICHEL TEMER, DIZ GOVERNADOR; PARA ELE, ANTÔNIO PALOCCI É "QUADRO EXTRAORDINÁRIO"

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDBRJ), diz que, mesmo enfrentando "turbulências", a aliança do PT com o PMDB veio para ficar. "A minha candidata a presidenta em 2014 chama-se Dilma Rousseff.
Com Michel Temer de vice." Na semana passada, ele recebeu a Folha em seu gabinete.
A conversa ocorreu no dia da votação do Código Florestal e antes das rusgas do governo como PMDB.
Sobre o episódio, ele enviou e-mail ontem à reportagem:" Não há crise",afirma. Na entrevista, Cabral defendeu a descriminalização das drogas, do aborto, as cotas raciais,o casamento gay e a liberação do jogo no Brasil.
E também as atividades de Palocci como consultor: "Ele Não cometeu nenhuma ilegalidade".
Abaixo, um resumo:

 

Folha - O senhor reservará 20% das vagas em concursos públicos para negros e índios no Rio. Críticos dizem que políticas de cotas podem fomentar o racismo, que não existiria no Brasil.
Sérgio Cabral -
Tem racismo no Brasil. E ele tem que ser combatido. Essa política reconhece que o negro foi vítima durante décadas, séculos, e que as oportunidades não são iguais ainda. O Rio foi o primeiro estado a estabelecer cota para negros e índios na universidade. A UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) é a prova clara de que a política de cotas é um sucesso. E agora vamos ter mais negros no serviço público do Rio de Janeiro.

O senhor defende cotas, descriminalização de drogas e do aborto e casamento gay, temas evitados por políticos em eleições. Já sofreu reação?
Tem vários temas no Brasil que deveriam ser debatidos e abordados de maneira mais verdadeira e corajosa.Agente vê tantos jovens se perdendo nas drogas, sem uma discussão mais aberta. E uma guerra em que o consumidor está ilegal, o vendedor está ilegal e em que há uma brutalidade de disputa pela venda.

Que drogas descriminalizar?
Deveríamos começar com drogas leves, como a maconha. E com discussões na OMS (Organização Mundial de Saúde), em fóruns internacionais.
Entre um baseado e três copos de cachaça, o que faz mais mal? E um maço de cigarro? Três copos de vodca? O que é mais nefasto para o organismo, para a psique? E para a segurança, o que é mais efetivo?

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), também do Rio, expressa posições opostas.
É a pluralidade. Temos que respeitar e debater.O governo do Rio tomou a iniciativa histórica de provocar o Supremo Tribunal Federal por uma reinterpretação da união estável [estendendo direitos aos homossexuais]. Sinto orgulho de ter patrocinado o assunto. O mesmo Estado [de Bolsonaro] tem um governador eleito e reeleito com essas opiniões. A população aposta. A maioria gosta, concorda com a postura.

O que o senhor achou de a presidente Dilma Rousseff ter defendido no passado a descriminalização do aborto e depois, na campanha eleitoral de 2010, ter recuado?
Esse tema foi abordado por todos de uma maneira muito ruim. Inclusive por setores da imprensa que, enxergando que isso pudesse desgastar a candidata Dilma, estimularam um debate por um viés muito ruim.

E o senhor achou legítimo que ela recuasse?
Não vou entrar nesse mérito. Nesse caso, a imprensa agiu de maneira ruim.

Qual é a sua posição?
Será que o italiano, o francês, o inglês, o alemão, o americano, o canadense [de países em que o aborto não é crime] gostam menos da vida do que nós? Aqui nós proibimos. E um milhão de mulheres tentam a cada ano interromper a sua gravidez; 200 mil voltam ao serviço público de saúde com conseqüências danosas ao seu organismo. São temas que precisam ser debatidos. A questão do jogo é outro exemplo.

Defende que seja liberado?
No Uruguai, no Paraguai, na Argentina, em Cuba, Panamá, Equador, Colômbia, México, EUA, Canadá, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, China, Japão tem jogo. E no Brasil. Só que aqui é ilegal! E o que tem de brasileiro entrando em navios [onde o jogo é permitido] para jogar! Ah, serve para esquentar dinheiro? Ué! Monta um esquema de controle com a Receita. Não jogo,não fumo maconha, sou heterossexual. Mas milhões vivem problemas que a sociedade formalmente não reconhece. Há uma hipocrisia histórica no Brasil.

O senhor se reuniu como prefeito Gilberto Kassab, de SP, e vai ajudá-lo a atrair políticos do Rio para o partido dele. Por que?
Ele me disse que o PSD reconhece que tanto a minha quanto a do prefeito Eduardo Paes, do Rio, são boas gestões de governo. Diz que não fará oposição. E isso é muito bom.Tudo o que agente quer é somar forças para fazer o melhor pelo Rio, e não brigar por brigar.

Ele diz que não é de direita nem de centro nem de esquerda. Ele é o quê?
Um bom prefeito, sério, um bom político que merece o nosso respeito.O Lula sempre disse pra mim: "Ô Sérgio, na minha vida sindical, eu via briga, um pelegão de um lado, um esquerdalhão do outro lado. E o metalúrgico? Quem vai defender o metalúrgico?". Entendeu? E o povo, quem é que vai defender o povo? Em vez de ficar nessas brigas corporativas, vamos pensar na população.

Ele apoiou José Serra em 2010 e o senhor, Dilma. E em 2014? A minha candidata a presidenta em 2014 chama-se Dilma Rousseff. Em 2010, quando houve os problemas de saúde dela, falavam num plano B, plano C. Eu declarei: só conheço o plano D, de Dilma. Agora, de novo, só conheço o plano D. Com Michel Temer(PMDB-SP) de vice.

Será que a aliança dura até lá?
A aliança do PT com PMDB vai se reproduzir. É evidente que [nas eleições municipais] em2012 ela enfrenta algumas turbulências, mas nada que comprometa. Estamos muito felizes com a aliança, que deu resultado para o Brasil. Vai ter um político do PMDB lá falando alguma coisa errada, vai ter um do PT, mas o eixo da aliança é muito positivo, muito bem fundamentado.

O que o senhor acha da consultoria do ministro Antônio Palocci?
O Palocci é um quadro extraordinário. É sério. Me parece que ele não cometeu nenhuma ilegalidade. Falamos ao telefone, senti ele muito tranquilo. Dei a minha solidariedade e tocamos a vida.
Tem sido importante para a presidenta Dilma. É querido no setor empresarial, no Congresso Nacional.
Ele não deveria divulgar a lista de clientes que teve? É uma decisão de moto próprio. Não posso me manifestar.

O senhor viu com naturalidade pessoa-chave na campanha da presidente Dilma dar consultoria a empresários e amealhar R$20 milhões?
Ele não cometeu nenhuma ilegalidade, tá certo? Sob esse aspecto...

E o aspecto moral?
Não me peça para tratar de um assunto sobre o qual eu não tenho conhecimento mais profundo.Mas eu tenho o maior respeito por ele, acho Palocci um gestor brasileiro extraordinário

Ele será um ministro mais fraco a partir de agora?
Olha, não sou comentarista político. Tenho respeito por ele, é um gestor extraordinário que poderá contribuir muito para o Brasil.

A reforma do Maracanã custará R$ 1 bilhão. Não é assustador?
O único acréscimo à previsão de custos foi a descoberta de que a cobertura do estádio corria risco de ruir. Estádios como Wembley, na Inglaterra, ou Dallas Cowboys, no Texas, de US$ 1,5 bilhão, são ocupados 15 dias ao ano. A relação no Maracanã é absolutamente positiva. Em 2010, foram mais de 100 dias com eventos. É o segundo destino mais visitado do Rio. Só perde para o Cristo Redentor.

Se o estádio do Corinthians, em SP, não ficar pronto a tempo, o Maracanã poderá receber a abertura da Copa?
Eu tenho certeza que SP vai conseguir fazer. Paulista é empreendedor, não abrirá mão dessa oportunidade.

Dirigentes da Fifa, inclusive o Ricardo Teixeira, têm sido citados em escândalos internacionais de supostos subornos na escolha de sedes de futuras Copas. Alguma autoridade brasileira já foi abordada com alguma proposta?
De maneira nenhuma. Da minha parte, jamais. As pessoas me respeitam, né?

O Ricardo Teixeira não está commuito poder?
Olha, eu não tenho nada a falar dele, pelo contrário.
Sempre foi muito gentil com o Rio na minha gestão. Ele profissionalizou a CBF, com grandes parceiros privados.
Nunca bateu na minha porta e pediu um real do poder público. Nunca, nunca. Fez seis Copas, o Brasil foi vice e bicampeão do mundo com ele. O Ricardo é um vitorioso.


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