São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Israel prende 64 altos membros do Hamas

Entre os detidos estão oito ministros e 23 parlamentares; nova incursão terrestre em Gaza é suspensa, mas ataques seguem

Segundo Egito, grupo aceita soltar soldado seqüestrado sob condições; para Hamas, ação de Israel visa derrubar a Autoridade Palestina

Ariel Schalit/Associated Press
Soldado de Israel faz disparo de artilharia contra alvo em Gaza


DA REDAÇÃO

Israel prendeu 64 membros do Hamas -entre eles oito ministros e 23 deputados filiados ao braço político da organização terrorista- e prosseguiu pelo terceiro dia com sua ofensiva na faixa de Gaza. Os ataques, que são uma resposta ao seqüestro de um soldado por radicais palestinos, atingiram o Ministério do Interior, escritórios do Fatah (grupo do presidente Mahmoud Abbas) e dois transformadores de energia no norte de Gaza.
O Exército israelense, no entanto, decidiu adiar um plano de invadir o norte da região.
O governo israelense informou que os detidos serão processados por envolvimento em "atos terroristas". A ação ocorrida nas primeiras horas de ontem (no horário local) já vinha sendo planejada há semanas, segundo Israel.
"Terminou o baile de máscaras. Os ternos e gravatas não servem mais para encobrir o envolvimento e o apoio a seqüestros e ao terror", disse Amir Peretz, o ministro da Defesa de Israel. "Ninguém está imune. Isso não é um governo, é uma organização criminosa", afirmou Benjamin Ben Eliezer, ministro da Infra-Estrutura.
Mushir al Masri, legislador e integrante do alto escalão do Hamas, que tem maioria no Parlamento palestino, declarou que "esse é um plano para destruir a Autoridade [Nacional Palestina], o governo e o Parlamento para deixar o povo palestino de joelhos". Ele acrescentou que o grupo nunca irá reconhecer Israel, condição que estava sendo negociada internamente pelos palestinos para negociações de paz com os israelenses.
Questionado se os membros do Hamas seriam soltos caso o soldado fosse libertado, o chefe do comando central do Exército de Israel respondeu positivamente, apesar de o governo ter negado que as prisões seriam usadas como moeda de troca.
"Acho que sim. A decisão de prendê-los veio do setor político... e acho que a perspectiva do setor político poderia mudar se [o soldado] Gilad Shalit fosse libertado", declarou o major-general Yair Neveh.

"Preocupação"
A secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, e os ministros das Relações Exteriores do G8 (os sete países mais ricos e a Rússia) divulgaram uma nota conjunta em que expressaram "preocupação" com a prisão dos membros do Hamas. O grupo exortou Israel e suas forças militares a demonstrarem "moderação" na faixa de Gaza.
Embora diga publicamente que os israelenses têm o direito de se defender, Washington vem advertindo contra "excessos" na ofensiva militar. Integrantes da administração Bush afirmaram às agências de notícias que, mesmo sem atingir civis, os ataques podem aumentar o apoio público ao Hamas.
Já a ONU alertou para uma crise humanitária na faixa de Gaza devido à falta de energia e de combustível. A maioria do 1,4 milhão de pessoas que vivem na região estão sem luz.

Intervenção
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, pediu a intervenção das Nações Unidas para conseguir a libertação do soldado Gilad Shalit, 19, que estava sendo mantido refém por três organizações radicais. Não há notícias sobre o militar, e um dos grupos envolvidos no seqüestro limitou-se a dizer que Shalit está "em lugar seguro".
Segundo o jornal "Haaretz", informações da ANP dão conta de que o soldado está sendo escondido no campo de refugiados de Khan Yunis, no sul de Gaza.
O governo egípcio pediu para que Israel desse mais tempo para as negociações na tentativa de libertar Shalit. O adiamento da invasão militar do norte de Gaza estaria relacionado ao pedido do Egito.
Em entrevista ao jornal oficial "Al-Ahram" o presidente egípcio, Hosni Mubarak, disse que o Hamas havia concordado com a libertação do militar sob condições, mas que Israel ainda não havia aceitado o acordo.

Trégua
Mas diante da perspectiva de que Israel invada a parte norte da faixa de Gaza, assim como ocorreu no sul, militantes de grupos ligados aos rivais Fatah e Hamas interromperam suas disputas -que levaram recentemente à morte de mais de 20 pessoas e levantaram a possibilidade de guerra civil- e organizaram uma patrulha conjunta nas ruas da faixa de Gaza.
No campo de refugiados de Jabalya, oito grupos armados relacionados a ambas as organizações estabeleceram um comando central para se preparar contra uma incursão israelense no norte da região.
O sobrevôo anteontem do palácio de verão do ditador da Síria, Bashar Assad, por jatos israelenses também serviu para unir os países árabes na condenação do que classificaram como um ato de intimidação. A Síria abriga Khaled Meshaal, líder exilado do Hamas em Damasco, que Israel acusa de participação no planejamento do seqüestro do soldado, o que é negado por Meshaal.
O Líbano, que acusa os sírios pelo assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri, e a Jordânia, que tem um acordo de paz com Israel, enviaram mensagens de apoio a Assad.
O primeiro-ministro sírio, Mohammad Naji Otari, disse que o sobrevôo israelense tem o objetivo de "encobrir os selvagens crimes que a ocupação de Israel está cometendo na faixa de Gaza".


Com agências internacionais


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