|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Suprema Corte derrota Bush sobre Guantánamo
Juízes decidem que os supostos terroristas podem recorrer a tribunais federais americanos; advogados de presos já comemoram
DA REDAÇÃO
Recuando de uma decisão tomada em abril, a Suprema Corte americana anunciou ontem
que os tribunais federais podem deliberar sobre os 375 suspeitos de terrorismo mantidos
na base militar de Guantánamo
(Cuba), o que representa uma
grande derrota judicial para o
presidente George W. Bush.
Em 2 de abril, a mais alta instância judicial americana havia
decidido que dois desses presos
não poderiam interpelar tribunais para pedir julgamento ou
habeas corpus.
Isso mantinha a todos numa
espécie de limbo jurídico, planejado pelo Pentágono quando,
no início de 2002, logo após a
derrota do grupo radical islâmico Taleban, no Afeganistão,
os primeiros suspeitos foram
confinados naquela base em
Cuba. Desde aquela época os
prisioneiros eram considerados "combatentes inimigos", o
que reduzia seus direitos.
Em abril último, três dos nove juízes da Suprema Corte optaram pela procedência do pedido de dois prisioneiros de terem seus casos analisados. Outros dois juízes, que se opunham, disseram que poderiam
mudar de opinião.
Não se sabe se foi isso que
agora ocorreu, já que a decisão
de ontem foi anunciada sem
maiores explicações, em meio a
dezenas de despachos.
Lei do Congresso
No ano passado, um dos projetos antiterrorismo enviados
pela Casa Branca e aprovados
pelo Congresso estabeleceu
que os prisioneiros, todos estrangeiros, não tinham o direito de interpelar a Justiça americana para serem julgados ou
eventualmente libertados por
não necessitarem julgamento.
O porta-voz para questões de
segurança nacional da Casa
Branca, Gordon Johndroe, disse ontem que em abril o governo não acreditava que "fosse
necessário" passar os casos pelo crivo da Justiça. E acrescentou estar "confiante na legalidade de nossa posição".
Bush chegou recentemente a
afirmar que gostaria de fechar
Guantánamo, mas que aquela
prisão é um instrumento necessário para combater o terrorismo. Deputados democratas,
a começar pela presidente da
Câmara, Nancy Pelosi, querem
o fechamento da prisão.
A partir de abril último, advogados de alguns presos pediram que a Corte Suprema reconsiderasse sua decisão. Ela o
fez, em recuo que não era registrado em seus anais desde 1968.
Em três outras oportunidades a Corte Suprema se opôs a
medidas antiterrorismo de
Bush, a última delas há um ano,
quando negou que os casos de
Guantánamo deveriam passar
por tribunais militares.
O advogado militar de um
prisioneiro iemenita, Charles
Swift, elogiou a decisão de ontem e disse que nela havia o reconhecimento de que a situação na prisão não havia melhorado. Em Londres, Zachary
Katznelson, de uma entidade
que representa dezenas de outros prisioneiros, afirmou que
ocorreu uma reviravolta no reconhecimento dos direitos de
seus clientes.
Constituição
Neal Kaytal, professor de direito da Universidade Georgetown, em Washington, disse
que "finalmente, depois de seis
anos, a Suprema Corte decidiu
que a Constituição americana
protege também o direito daqueles prisioneiros".
"Essa foi uma estupenda vitória para os presos", disse Eric
Freeman, professor de direito e
assessor de advogados envolvidos. Também disse que a decisão ontem anunciada "foi bem
além daquilo que poderíamos
de início esperar".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Governo dos EUA reforça policiamento Próximo Texto: Oriente Médio: Sósia palestino do Mickey é morto na TV Índice
|