São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Indiferente a críticas, Mugabe toma posse

Dois dias após segundo turno, no qual obteve 85% dos votos, ditador do Zimbábue presta juramento para seu sexto mandato

Celeridade de divulgação dos resultados contrastou com a da primeira votação, na qual anúncio de vitória da oposição levou semanas

Efe
Mugabe, com a faixa no peito, ao fundo, e no quadro na mão de soldado, durante a cerimônia de posse

DA REDAÇÃO

O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, 84, prestou juramento como presidente ontem pela sexta vez, horas depois de ter sido declarado o vencedor absoluto de um segundo turno marcado por violenta repressão à oposição.
Segundo a comissão eleitoral nacional, Mugabe venceu com 85,51% dos votos. No primeiro turno, realizado em março, ele obteve 43,2 % contra 47,9% do candidato da oposição, Morgan Tsvangirai -a primeira derrota oficial de Mugabe, no poder desde 1980.
Os resultados oficiais da primeira votação demoraram semanas para serem divulgados, contra 48 horas do segundo turno, que nem deveria ter acontecido, já que Tsvangirai havia retirado sua candidatura.
O líder do opositor MDC (Movimento pela Mudança Democrática) abandonou a disputa, após contabilizar ao menos 86 afiliados e simpatizantes mortos desde 29 de março. Tsvangirai também foi detido consecutivas vezes nos últimos meses, acusado de fazer comícios sem autorização e teve de se refugiar na Embaixada da Holanda. O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, poderá ser condenado à morte, já que é acusado de traição ao Estado.
A legitimidade dos próximos cinco anos do novo governo de Mugabe é questionada por países da África e lideranças mundiais. Os Estados Unidos pediram uma reação internacional e anunciaram mais sanções políticas e econômicas, depois que a missão de observadores da Comunidade Sul-Africana de Desenvolvimento (SADC) afirmou ontem que a votação "não refletiu a vontade do povo do Zimbábue".
Um dos poucos grupos de monitores internacionais presentes ao pleito, o Parlamento Pan-Africano também declarou que a votação não foi idônea e pediu outra disputa. "Devem ser criadas condições para que sejam feitas novas eleições justas, o mais rápido possível, em linha com a declaração democrática da União Africana", disse o chefe da equipe de observadores, Marwick Khumalo.

Aceno à oposição
Para tentar aplacar os ânimos, Mugabe prometeu negociar com a oposição. Após jurar respeitar a Constituição do país, com a mão esquerda em cima da Bíblia, o ditador fez breve discurso.
"Mais cedo ou mais tarde, como partidos políticos diversos, devemos começar sérias negociações", afirmou. Tsvangirai também disse acreditar que o governista Zanu-PF esteja pronto para dialogar. "Sem negociação com o MDC, isso [a posse de Mugabe] é um beco sem saída", disse à imprensa. Ele se negou a comparecer à posse, a convite de Mugabe.
O ditador partiu ainda ontem para o Egito, onde tem início hoje uma reunião de chefes de Estado da União Africana (UA). O vice-presidente do MDC, Thokozani Khupe, que está no Egito para a cúpula, havia pedido em entrevista, que a UA envie tropas pacificadoras e um mediador para o Zimbábue, no lugar dos esforços sul-africanos. A ONG Human Rights Watch reforçou o pedido.
O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, foi apontado como mediador para a crise do Zimbábue pelo bloco regional, mas sua abordagem diplomática tímida é alvo de críticas.
O Reino Unido também exorta a UA a não reconhecer a eleição de Mugabe. O premiê do Quênia, Raila Odinga, se declarou ontem à favor de que a UA interceda, mas o chefe de segurança do bloco, Ramtane Lamamra, negou a possibilidade de envio de missões.
Um dos cenários para romper o impasse estaria na possibilidade de o MDC aceitar participar de um governo de coalizão até a convocação de novas eleições presidenciais. Mas nada indica que essa alternativa esteja sendo negociada.
Os países africanos pressionam Mugabe para dialogar com Tsvangirai e encerrar a crise no Zimbábue, que tem feito milhões de refugiados buscarem abrigos em nações vizinhas.


Com agências internacionais.


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