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entrevista
"Golpe expõe limites de poder dos EUA"
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O golpe em Honduras
revela os limites da ação de
atores externos, incluindo
os EUA, num "mundo que
não é mais o do século 20",
diz Julia Sweig, diretora de
estudos latino-americanos do Council on Foreign
Relations, de Washington.
Sweig assessorou Hillary Clinton, atual secretária de Estado, durante a
disputa interna do Partido
Democrata, em 2008. Ela
falou da posição da diplomacia americana em relação a Honduras e ao bloco
bolivariano em conversa
com a Folha na sede da
Fundação Getúlio Vargas,
no Rio -onde tem vindo,
segundo disse, para conhecer melhor o Brasil.
FOLHA - Diz-se que é a primeira vez que há golpe na
América Central sem envolvimento americano. Como a sra.
interpreta essa situação?
JULIA SWEIG - Todos os atores externos -os países da
Alba, os EUA, a OEA- fracassaram em impedir que
os militares hondurenhos
dessem o golpe. Os EUA
vinham tentando controlá-los, mas falharam.
Isso mostra os limites
do poder americano, mesmo num pequeno país cuja
economia e instituições
dependem muito dos
EUA. É um mundo diferente do do século 20,
quando golpes e conspirações podiam ser manufaturados pela CIA.
Além disso, o golpe na
Venezuela em 2002 foi
uma advertência. O novo
governo entende que o endosso ao golpe foi um revés para a posição americana na região. Agora é
uma chance de demonstrar suas credenciais democráticas, independentemente de ideologia.
FOLHA - Os EUA estariam
preocupados, como no caso do
Irã, em não parecer estar interferindo demais?
SWEIG - Pode ser. Uma das
primeiras reações, de Dan
Restrepo [encarregado da
América Latina no Conselho de Segurança Nacional], foi a de que os EUA
não iriam interferir nem
para o bem nem para o
mal. Isso é ambíguo demais. Pode ser que essa hesitação tenha vindo da
consciência de nossa história na América Central,
onde qualquer tipo de envolvimento poderia ser
visto como negativo.
FOLHA - Hillary Clinton disse
não cogitar no momento cortar a ajuda a Honduras. É a decisão correta?
SWEIG - Acho que os EUA
não deveriam cortar ajuda, e sim dizer que há essa
opção. O melhor é concentrar esforços em tentar
reinstalar o presidente. Os
EUA têm alguns instrumentos de pressão, assim
como o Brasil, a União Europeia têm os seus. Mas
seria melhor coordenar isso multilateralmente.
FOLHA - A distensão entre os
países da Alba e o governo
Obama vai continuar, mesmo
quando os bolivarianos mantêm retórica antiamericana?
SWEIG - Acho que os EUA
e os bolivarianos terão de
aprender a conviver com a
retórica uns dos outros.
Em Washington há hoje a
capacidade de não confundir retórica e substância.
Teremos que esperar
para ver se as relações com
Bolívia, Venezuela e Equador podem ser reconstruídas. Mas acredito que
Washington está se acostumando com o fato de
que, nessas democracias
participativas populistas,
o governo responde primeiro a seu eleitorado e
depois a Washington, que
no século 20 esperava deferência a seus interesses.
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