São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Rússia rechaça acusação de espionagem

País admite que alguns dos dez detidos pelos EUA são russos, mas rejeita denúncias "infundadas e descabidas"

11º acusado de integrar grupo é preso no Chipre; Moscou ironiza "timing" de prisões, e americanos amenizam repercussão


Vladimir Rodionov/France Presse/RIA Novosti/Kremlin
Presidente Dmitri Medvedev se reúne em Moscou como premiê e antecessor Vladimir Putin, que disse esperar que o caso não afete relações bilaterais

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A Rússia rejeitou com veemência ontem as acusações feitas na véspera pelos EUA, que anunciou ter desbaratado rede de espionagem russa e detido 10 de 11 acusados de atuar há vários anos obtendo informações para Moscou.
O 11º suspeito foi preso ontem pelo Chipre quando tentava deixar a ilha no mar Mediterrâneo em direção à Hungria. Ele obteve, porém, sob fiança, permissão para esperar extradição em liberdade.
A Chancelaria da Rússia admitiu que alguns dos detidos são russos, mas disse que as acusações são "infundadas e descabidas" e que "lamenta profundamente" que surjam após Washington propor o "reinício" das relações bilaterais.
"Essas ações perseguem objetivos escusos. Não entendemos o que levou o Departamento da Justiça a dar uma declaração no espírito da Guerra Fria", disse nota. "Esperamos que explique."
"A escolha do "timing" [do anúncio] foi particularmente graciosa", ironizou o chanceler Serguei Lavrov. Moscou cobrou acesso aos detidos.
Os EUA tentaram colocar panos quentes na polêmica.
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse esperar que o caso não afete as relações. Segundo ele, o presidente Barack Obama já sabia do caso quando recebeu o colega russo, Dmitri Medvedev, na semana passada.
Mas promotores americanos ligados ao caso disseram que as revelações são somente "a ponta de um iceberg".

O ESQUEMA
Na denúncia anunciada anteontem, o Departamento da Justiça acusou os 11 suspeitos de viver há vários anos nos EUA como parte de um programa de espionagem da agência de inteligência SVR, sucessora da soviética KGB.
Segundo a peça de acusação, agentes secretos russos se passavam por casais americanos vivendo nos EUA -e em outros países- para se inserir em "esferas de tomada de decisão", recrutar fontes e enviar informação a Moscou.
A denúncia reproduz também supostas mensagens entre Moscou e os suspeitos e relata detalhes cinematográficos das comunicações mantidas entre eles, como troca de mochilas em estações de trem, recados em tinta invisível e transmissão codificada.
Os suspeitos, investigados durante vários anos, segundo os EUA, foram acusados de não se registrar como agentes de governo estrangeiro e de lavagem de dinheiro, mas não de espionagem.
O escândalo ocorre num momento de reaproximação entre os antigos rivais. Na última semana, Obama e Medvedev se deixaram fotografar em lanchonete de Washington comendo hambúrgueres.
A revelação do caso coincidiu ainda com a visita do ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) ao premiê e ex-presidente russo, Vladimir Putin.
"Entendo que lá [nos EUA] a polícia esteja colocando as pessoas na cadeia", disse Putin, ex-agente da KGB, arrancando risadas de Clinton. "É o trabalho dela. Mas espero que esse momento positivo das nossas relações não seja afetado por esses eventos."
Parlamentares russos saíram em defesa do Kremlin, atribuindo as acusações à linha-dura americana insatisfeita com a aproximação.

50 CASAIS
Os ecos da Guerra Fria não são, porém, surpresa para especialistas. Segundo o ex-vice-diretor da KGB Oleg Gordievsky, que desertou na década de 80, deve haver entre 40 e 50 casais trabalhando para Moscou hoje nos EUA, e Medvedev sabe das atividades realizadas no exterior.
Reino Unido e Irlanda disseram que investigam suspeitas de que agentes russos que integram o esquema de espionagem utilizaram passaportes seus falsificados.


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