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ELEIÇÃO NOS EUA
Ao oficializar a candidatura, democrata diz que não aceitará veto de outros países para defender EUA
Kerry admite usar força de forma unilateral
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
O candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, 60,
prometeu ontem usar "a força"
para defender o seu país e, de forma unilateral, disse que não respeitará "o veto de nenhuma nação ou instituição internacional"
para garantir a segurança norte-americana.
No discurso mais importante de
sua campanha, no encerramento
da convenção de seu partido, em
Boston, Kerry foi direto ao ponto
em que os eleitores consideram
seu adversário, o presidente
George W. Bush, mais confiável
que o democrata.
"Que não haja nenhuma dúvida: nunca hesitarei em usar a força quando isso for necessário.
Qualquer ataque será confrontado com resposta dura e certa."
"Nunca darei a nenhuma nação
ou instituição internacional o poder de veto sobre a nossa segurança nacional. E construirei uma
América mais forte militarmente", disse Kerry, que vinha atacando o unilateralismo de Bush e
prometendo remendar alianças.
"Defendi o país quando era jovem e o defenderei quando for
presidente", disse o herói condecorado na Guerra do Vietnã e que
votou, no ano passado, a favor da
invasão do Iraque sem o consentimento da ONU.
Ao longo de um discurso com
forte conteúdo militar, Kerry criticou abertamente a atual campanha de Bush no Iraque. "Nunca
pedirei às Forças Armadas para
lutar uma guerra sem um plano
para conquistar a paz", disse.
Em vários outros momentos, o
democrata atacou indiretamente
seu adversário, tentando abordar
todas as principais questões que
têm dividido o eleitorado americano ao meio entre Kerry e Bush.
"Força significa mais do que palavras duras. Temos de ser respeitados, não apenas temidos. O futuro não pertence ao medo, mas à
liberdade", afirmou, criticando a
"política do medo" que os democratas vêem na campanha de
Bush, calcada sobretudo nas
ações adotadas depois do 11 de Setembro.
Kerry prometeu desafiar Bush
durante a campanha. Disse que
irá "fazer perguntas duras e exigir
evidências" -sugerindo que o
republicano enganou os EUA em
seu caso contra o Iraque.
O candidato prometeu reformular todo o aparato de inteligência dos EUA e levar adiante as sugestões de mudança propostas
pela comissão do Congresso que
investigou o 11 de Setembro. Bush
já prometeu o mesmo.
Na esfera doméstica, mais ataques: "Temos ouvido muito sobre
valores nos últimos quatro anos.
Mas valores sem ações são só slogans... Em nosso país, os salários
estão caindo, os custos com saúde, aumentando, e a nossa grande
classe média está encolhendo. Podemos fazer melhor do que isso".
Diante das milhares de pessoas
presentes à convenção -transmitida ao vivo pelas principais redes de TV dos EUA-, Kerry teve
ontem a maior audiência de toda
a sua carreira política de 19 anos
no Senado.
Ao final, foi homenageado por
uma chuva de 100 mil balões vermelhos, azuis e brancos e de meia
tonelada de confete, cujas imagens certamente estarão nas primeiras páginas dos jornais hoje.
Há uma grande expectativa no
Partido Democrata com o resultado de todo o esforço e dos quase
US$ 100 milhões gastos na convenção desta semana.
Nas últimas cinco eleições em
que um candidato desafiou um
presidente no cargo, ele obteve
um avanço médio de cerca de 15
pontos nas taxas de intenção de
votos ao término da convenção.
No caso de Kerry, a avaliação é
que os ganhos serão bem mais
modestos. Escolhido prematuramente como adversário de Bush
em março, Kerry já teria, segundo
várias análises, atraído quase o
máximo da atenção possível.
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