São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Ao oficializar a candidatura, democrata diz que não aceitará veto de outros países para defender EUA

Kerry admite usar força de forma unilateral

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

O candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, 60, prometeu ontem usar "a força" para defender o seu país e, de forma unilateral, disse que não respeitará "o veto de nenhuma nação ou instituição internacional" para garantir a segurança norte-americana.
No discurso mais importante de sua campanha, no encerramento da convenção de seu partido, em Boston, Kerry foi direto ao ponto em que os eleitores consideram seu adversário, o presidente George W. Bush, mais confiável que o democrata.
"Que não haja nenhuma dúvida: nunca hesitarei em usar a força quando isso for necessário. Qualquer ataque será confrontado com resposta dura e certa."
"Nunca darei a nenhuma nação ou instituição internacional o poder de veto sobre a nossa segurança nacional. E construirei uma América mais forte militarmente", disse Kerry, que vinha atacando o unilateralismo de Bush e prometendo remendar alianças.
"Defendi o país quando era jovem e o defenderei quando for presidente", disse o herói condecorado na Guerra do Vietnã e que votou, no ano passado, a favor da invasão do Iraque sem o consentimento da ONU.
Ao longo de um discurso com forte conteúdo militar, Kerry criticou abertamente a atual campanha de Bush no Iraque. "Nunca pedirei às Forças Armadas para lutar uma guerra sem um plano para conquistar a paz", disse.
Em vários outros momentos, o democrata atacou indiretamente seu adversário, tentando abordar todas as principais questões que têm dividido o eleitorado americano ao meio entre Kerry e Bush.
"Força significa mais do que palavras duras. Temos de ser respeitados, não apenas temidos. O futuro não pertence ao medo, mas à liberdade", afirmou, criticando a "política do medo" que os democratas vêem na campanha de Bush, calcada sobretudo nas ações adotadas depois do 11 de Setembro.
Kerry prometeu desafiar Bush durante a campanha. Disse que irá "fazer perguntas duras e exigir evidências" -sugerindo que o republicano enganou os EUA em seu caso contra o Iraque.
O candidato prometeu reformular todo o aparato de inteligência dos EUA e levar adiante as sugestões de mudança propostas pela comissão do Congresso que investigou o 11 de Setembro. Bush já prometeu o mesmo.
Na esfera doméstica, mais ataques: "Temos ouvido muito sobre valores nos últimos quatro anos. Mas valores sem ações são só slogans... Em nosso país, os salários estão caindo, os custos com saúde, aumentando, e a nossa grande classe média está encolhendo. Podemos fazer melhor do que isso".
Diante das milhares de pessoas presentes à convenção -transmitida ao vivo pelas principais redes de TV dos EUA-, Kerry teve ontem a maior audiência de toda a sua carreira política de 19 anos no Senado.
Ao final, foi homenageado por uma chuva de 100 mil balões vermelhos, azuis e brancos e de meia tonelada de confete, cujas imagens certamente estarão nas primeiras páginas dos jornais hoje.
Há uma grande expectativa no Partido Democrata com o resultado de todo o esforço e dos quase US$ 100 milhões gastos na convenção desta semana.
Nas últimas cinco eleições em que um candidato desafiou um presidente no cargo, ele obteve um avanço médio de cerca de 15 pontos nas taxas de intenção de votos ao término da convenção.
No caso de Kerry, a avaliação é que os ganhos serão bem mais modestos. Escolhido prematuramente como adversário de Bush em março, Kerry já teria, segundo várias análises, atraído quase o máximo da atenção possível.


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