São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Multinacionais pedem democracia em Honduras

Nike, Adidas, Gap e Knights enviam carta a Departamento de Estado americano cobrando solução pacífica para crise

Organização dos Estados Americanos realizará duas reuniões extraordinárias amanhã para discutir novas sanções contra golpistas


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Duas fabricantes de artigos esportivos e duas confecções com forte presença em Honduras enviaram carta a Hillary Clinton, titular do Departamento de Estado americano, e a José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), em que se dizem preocupadas com os acontecimentos recentes no país e pedem a restauração da democracia.
"Nós encorajamos a resolução imediata da crise e que as liberdades civis, incluindo a liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de associação, sejam totalmente respeitadas", diz a carta, assinada pelas americanas Nike, Gap, Knights Apparel e a alemã Adidas. As quatro afirmam que "não apoiam nem apoiarão nenhuma das partes na disputa".
O texto vai na contramão de outras manifestações do setor de negócios hondurenho. Na semana seguinte ao golpe de Estado que derrubou Manuel Zelaya, o braço hondurenho do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal) contratou Lanny Davis, ligado ao casal Clinton, para fazer lobby em Washington contra a volta do presidente deposto.
"Compreendemos que existem divergências importantes entre o presidente eleito [Zelaya], o Congresso e a Suprema Corte, mas elas deveriam ser resolvidas por meio de um diálogo pacífico e democrático, não por ações militares", diz a carta. Apesar da manifestação pública, as empresas disseram que a produção de seus artigos no país não foi interrompida.
Uma ONG canadense com forte presença na luta pelos direitos trabalhistas em Honduras elogiou a ação das empresas, mas estranhou a ausência de outros pesos pesados com atuação naquele país.
"Principalmente os três maiores investidores estrangeiros no setor de tecelagem, Fruit of Loom/Russell Corporation, Hanesbrand e Gildan", disse a Maquila Solidarity Network (MSN), baseada em Toronto -"maquiladoras" é como são chamadas as fábricas que finalizam produtos para empresas estrangeiras.
A economia hondurenha depende pesadamente dos dólares do norte para sobreviver. Segundo o Escritório de Comércio Exterior dos EUA, dois terços de tudo o que Honduras produz são comprados pelo país, e o setor que lidera as exportações é justamente o de vestuário, com US$ 2,6 bilhões. É muito dinheiro para um país com PIB de US$ 14 bilhões, ou um centésimo do brasileiro.
Até agora, Washington hesita em seguir adiante com medidas econômicas mais duras do que o congelamento parcial da ajuda. Anteontem, no entanto, o Departamento de Estado anunciou o cancelamento do visto diplomático de quatro membros do regime golpista.

Reunião extraordinária
Ontem, a OEA anunciou duas reuniões extraordinárias para discutir a crise hondurenha. Os 33 países-membros ativos da entidade fazem encontro fechado na manhã de amanhã, seguido de um aberto ao público à tarde.
Não foi divulgada a pauta dos encontros, mas analistas especulavam se a OEA pode aprovar novas medidas contra o regime golpista de Micheletti. A punição mais alta prevista na Carta Democrática da entidade, que é a suspensão do país das atividades da organização, já foi aplicada. A instância não prevê sanção econômica ou militar.
A reativação da OEA como instrumento de pressão contra Honduras vinha sendo defendida pelo Brasil. Desde que decidiu pela suspensão, em 5 de julho, a entidade perdeu protagonismo nas gestões para resolver a crise para o presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, Óscar Arias, mediador apontado por Washington, cuja proposta de volta condicionada de Zelaya ao poder está sob análise das instituições do governo golpista, embora o presidente deposto já tenha dado o diálogo como "fracassado".


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