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Multinacionais pedem democracia em Honduras
Nike, Adidas, Gap e Knights enviam carta a Departamento de Estado americano cobrando solução pacífica para crise
Organização dos Estados Americanos realizará duas reuniões extraordinárias amanhã para discutir novas sanções contra golpistas
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Duas fabricantes de artigos
esportivos e duas confecções
com forte presença em Honduras enviaram carta a Hillary
Clinton, titular do Departamento de Estado americano, e
a José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA (Organização
dos Estados Americanos), em
que se dizem preocupadas com
os acontecimentos recentes no
país e pedem a restauração da
democracia.
"Nós encorajamos a resolução imediata da crise e que as liberdades civis, incluindo a liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de associação, sejam totalmente respeitadas", diz a carta, assinada
pelas americanas Nike, Gap,
Knights Apparel e a alemã Adidas. As quatro afirmam que
"não apoiam nem apoiarão nenhuma das partes na disputa".
O texto vai na contramão de
outras manifestações do setor
de negócios hondurenho. Na
semana seguinte ao golpe de
Estado que derrubou Manuel
Zelaya, o braço hondurenho do
Conselho de Empresários da
América Latina (Ceal) contratou Lanny Davis, ligado ao casal
Clinton, para fazer lobby em
Washington contra a volta do
presidente deposto.
"Compreendemos que existem divergências importantes
entre o presidente eleito [Zelaya], o Congresso e a Suprema
Corte, mas elas deveriam ser
resolvidas por meio de um diálogo pacífico e democrático,
não por ações militares", diz a
carta. Apesar da manifestação
pública, as empresas disseram
que a produção de seus artigos
no país não foi interrompida.
Uma ONG canadense com
forte presença na luta pelos direitos trabalhistas em Honduras elogiou a ação das empresas, mas estranhou a ausência
de outros pesos pesados com
atuação naquele país.
"Principalmente os três
maiores investidores estrangeiros no setor de tecelagem,
Fruit of Loom/Russell Corporation, Hanesbrand e Gildan",
disse a Maquila Solidarity Network (MSN), baseada em Toronto -"maquiladoras" é como
são chamadas as fábricas que finalizam produtos para empresas estrangeiras.
A economia hondurenha depende pesadamente dos dólares do norte para sobreviver.
Segundo o Escritório de Comércio Exterior dos EUA, dois
terços de tudo o que Honduras
produz são comprados pelo
país, e o setor que lidera as exportações é justamente o de
vestuário, com US$ 2,6 bilhões.
É muito dinheiro para um país
com PIB de US$ 14 bilhões, ou
um centésimo do brasileiro.
Até agora, Washington hesita
em seguir adiante com medidas
econômicas mais duras do que
o congelamento parcial da ajuda. Anteontem, no entanto, o
Departamento de Estado
anunciou o cancelamento do
visto diplomático de quatro
membros do regime golpista.
Reunião extraordinária
Ontem, a OEA anunciou
duas reuniões extraordinárias
para discutir a crise hondurenha. Os 33 países-membros ativos da entidade fazem encontro fechado na manhã de amanhã, seguido de um aberto ao
público à tarde.
Não foi divulgada a pauta dos
encontros, mas analistas especulavam se a OEA pode aprovar
novas medidas contra o regime
golpista de Micheletti. A punição mais alta prevista na Carta
Democrática da entidade, que é
a suspensão do país das atividades da organização, já foi aplicada. A instância não prevê
sanção econômica ou militar.
A reativação da OEA como
instrumento de pressão contra
Honduras vinha sendo defendida pelo Brasil. Desde que decidiu pela suspensão, em 5 de
julho, a entidade perdeu protagonismo nas gestões para resolver a crise para o presidente
da Costa Rica e Prêmio Nobel
da Paz, Óscar Arias, mediador
apontado por Washington, cuja
proposta de volta condicionada
de Zelaya ao poder está sob
análise das instituições do governo golpista, embora o presidente deposto já tenha dado o
diálogo como "fracassado".
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