São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Bogotá diz que Caracas calou sobre armas por 2 meses

Chanceler teria sido avisado em junho de lança-foguetes achados com as Farc

Cobrança pública devido ao episódio fez Chávez congelar relações bilaterais; vice diz que armas podem ter sido capturadas por guerrilha


DA REDAÇÃO

A Colômbia disse ontem que a Venezuela já havia sido informada "de maneira discreta" da apreensão de seus lança-foguetes com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no último dia 2 de junho. A cobrança pública pelo episódio motivou o "congelamento" das relações anunciado anteontem pelo presidente Hugo Chávez.
Já Caracas rejeitou mais uma vez ter fornecido os artefatos, fabricados na Suécia, e atribuiu a obtenção do armamento pelas Farc ao "transbordamento" do conflito colombiano para o outro lado da fronteira.
O vice-presidente Ramón Carrizález sugeriu que os lança-foguetes foram obtidos pelo grupo em assaltos a postos militares venezuelanos. Ele citou uma ação específica, ocorrida em 1995 -os lança-foguetes foram comprados em 1988. "Quando ocorreu o caso [do ataque a um posto militar na cidade fronteiriça de] Cararabo, houve uma lista de equipamentos que se perderam, que inclui granadas, lança-foguetes."
"É preciso ser bem cínico e cara de pau para sair acusando o governo venezuelano por terem aparecido [com as Farc] umas granadas que possuíamos. O correto deveria ter sido nos informar se se encontrou algum material desse tipo para que tomássemos as providências necessárias", disse.
Em nota, Bogotá disse, porém, que a apreensão dos três AT-4 em outubro de 2008 só foi tornada pública nos últimos dias devido ao fato de a Venezuela "não ter dado resposta alguma" após informada.
O "comunicado" teria sido feito pelo chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, ao homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, na última cúpula da Organização dos Estados Americanos, em Honduras.
Bermúdez teria avisado seu colega ainda da informação, dada por dois líderes das Farc, de que três altos funcionários venezuelanos estariam envolvidos no repasse das armas à guerrilha -contrariando a afirmação de Carrizález de que o material pode ter sido roubado.

Bases
A nova rusga diplomática entre Caracas e Bogotá começou na semana passada, quando Chávez anunciou a "revisão integral" das relações com a Colômbia devido à negociação entre o governo Álvaro Uribe e Washington para que os EUA ocupem bases militares colombianas para conduzir operações de combate ao tráfico.
No fim de semana, após a revista colombiana "Semana" revelar a apreensão das armas venezuelanas com as Farc, começaram as cobranças públicas de explicações à Venezuela. Em retaliação ao que considerou uma "agressão", Chávez anunciou anteontem o congelamento das relações econômicas e diplomáticas com a Colômbia e a convocação do embaixador venezuelano de Bogotá. Ameaçou também expropriar empresas colombianas e romper definitivamente os laços no caso de o governo Uribe continuar "agredindo" a Venezuela.
O seu vice disse ontem que "por enquanto" não foram dadas ordens para o fechamento dos mais de 2.200 km de fronteira com o vizinho, mas anunciou a detenção de 22 caminhões de carga colombianos no Estado fronteiriço de Táchira por estarem supostamente envolvidos com o narcotráfico.
Apesar das ameaças, o fechamento das fronteiras é considerado inviável na prática, dada a dependência venezuelana de importações da Colômbia. Só em 2008, foram cerca de U$ 7 bilhões em comércio bilateral -com um superávit colombiano de US$ 5,7 bilhões.
Uribe, que se encontra na Costa Rica para encontro com colegas da América Central e do México, ainda não se pronunciou publicamente sobre a decisão de Chávez.

Com agências internacionais



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