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Sob nova lei, Arizona tem protesto e prisão
Pelo menos 50 foram detidos em atos contra legislação anti-imigrantes, que entrou em vigor ontem no Estado
Texto previa checagem de status migratório sob "suspeita razoável'; governadora entra com recurso contra bloqueio
Matt York/Associated Press
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Manifestante é presa em Phoenix durante protesto contra a lei de imigração do Arizona
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A PHOENIX
(ARIZONA)
Protestos, prisões e ações
policiais marcaram a entrada
em vigor ontem, ainda que
parcial, da nova lei de imigração do Arizona, acusada
até pela Casa Branca de promover racismo antilatinos.
A suspensão, no dia anterior, das partes mais polêmicas da lei SB 1070 por uma
juíza federal não impediu
centenas de pessoas, de vários Estados dos EUA, de bloquear quarteirões no centro
de Phoenix, a capital estadual, entre slogans contra o
que resta da lei e promessas
de "desobediência civil".
Policiais e agentes do xerife do condado de Maricopa,
que inclui Phoenix, tomaram
conta do centro para responder à presença dos manifestantes. Até o fechamento da
edição, ao menos 50 já haviam sido presos, a maioria
ao tentar bloquear a entrada
da cadeia de Maricopa.
Até um ex-legislador do
Arizona, Alfredo Gutierrez,
foi detido num ato, pela manhã, em frente a um tribunal.
A situação chegou a adiar
o início de uma megaoperação de "combate ao crime"
que o xerife linha-dura do
condado, Joe Arpaio, havia
marcado propositalmente
para as 12h, hora em que a lei
passaria a vigorar.
No horário marcado, ele
afirmou que teve de direcionar boa parte do efetivo para
a cadeia. "Dei ordem para
prender todo mundo que tentar bloquear a entrada. Vou
mostrar a prisão por dentro
para esses irresponsáveis."
"Meus agentes irão prendê-los e colocá-los de cuecas
cor-de-rosa", disse Arpaio,
em referência a um de seus
heterodoxos métodos para
acossar prisioneiros. A operação, que contaria com 200
homens, fora remarcada para as 16h (20h em Brasília).
"Vai ser um bom teste sair às
ruas hoje e ver quem tem coragem de nos desafiar."
Hoje já era mais difícil encontrar quem se assumisse
indocumentado. "Muita gente ficou com medo de protestar, mas vamos continuar
nas ruas até derrubar a lei
por completo", disse à Folha, em um ato, o pedreiro
José Vargas, 35, há dez anos
no país. Nascido no México e
hoje cidadão americano,
Vargas conta ter irmãos e
amigos indocumentados que
fugiram antes mesmo de a lei
entrar em vigor.
Ao seu redor, misturavam-se brancos, negros e latinos,
muitos recém-chegados à cidade, após horas de viagem.
"Viemos apoiar nossos irmãos contra essa lei racista",
disse Linda Brooks, 70, da
Carolina do Norte. Seu grupo
tinha mais de 150 pessoas.
Ainda era esperada para a
tarde de ontem a chegada de
11 ônibus de manifestantes
vindos da Califórnia.
Quem não estava nas ruas
acompanhava de casa, como
a brasileira Janaína Krause,
que assistia pela TV. "Acho
mesmo que tem de haver leis
de controle de imigração,
aqui não é a casa da mãe Joana", disse ela, casada com
um americano. "Mas ser tratado como criminoso não
dá." Centenas também protestaram em Nova York e Los
Angeles, sem prisões.
RECURSO
Se os protestos não pararam, a defesa da lei também
não. A governadora do Arizona, Jan Brewer, que a sancionou em abril, entrou ontem
com recurso acelerado contra a suspensão parcial. A SB
1070 torna a presença irregular nos EUA um crime estadual (e não só federal) e exige
que policiais checassem o
status de pessoas após qualquer infração em caso de
"suspeita razoável".
Essa parte da lei foi congelada até que os processos
contra a medida -um deles
iniciado pelo Departamento
da Justiça dos EUA- sejam
analisados em tribunais. A
expectativa é que a disputa
chegue à Suprema Corte.
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