São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2010

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Sob nova lei, Arizona tem protesto e prisão

Pelo menos 50 foram detidos em atos contra legislação anti-imigrantes, que entrou em vigor ontem no Estado

Texto previa checagem de status migratório sob "suspeita razoável'; governadora entra com recurso contra bloqueio


Matt York/Associated Press
Manifestante é presa em Phoenix durante protesto contra a lei de imigração do Arizona

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A PHOENIX (ARIZONA)

Protestos, prisões e ações policiais marcaram a entrada em vigor ontem, ainda que parcial, da nova lei de imigração do Arizona, acusada até pela Casa Branca de promover racismo antilatinos.
A suspensão, no dia anterior, das partes mais polêmicas da lei SB 1070 por uma juíza federal não impediu centenas de pessoas, de vários Estados dos EUA, de bloquear quarteirões no centro de Phoenix, a capital estadual, entre slogans contra o que resta da lei e promessas de "desobediência civil".
Policiais e agentes do xerife do condado de Maricopa, que inclui Phoenix, tomaram conta do centro para responder à presença dos manifestantes. Até o fechamento da edição, ao menos 50 já haviam sido presos, a maioria ao tentar bloquear a entrada da cadeia de Maricopa.
Até um ex-legislador do Arizona, Alfredo Gutierrez, foi detido num ato, pela manhã, em frente a um tribunal.
A situação chegou a adiar o início de uma megaoperação de "combate ao crime" que o xerife linha-dura do condado, Joe Arpaio, havia marcado propositalmente para as 12h, hora em que a lei passaria a vigorar.
No horário marcado, ele afirmou que teve de direcionar boa parte do efetivo para a cadeia. "Dei ordem para prender todo mundo que tentar bloquear a entrada. Vou mostrar a prisão por dentro para esses irresponsáveis."
"Meus agentes irão prendê-los e colocá-los de cuecas cor-de-rosa", disse Arpaio, em referência a um de seus heterodoxos métodos para acossar prisioneiros. A operação, que contaria com 200 homens, fora remarcada para as 16h (20h em Brasília). "Vai ser um bom teste sair às ruas hoje e ver quem tem coragem de nos desafiar."
Hoje já era mais difícil encontrar quem se assumisse indocumentado. "Muita gente ficou com medo de protestar, mas vamos continuar nas ruas até derrubar a lei por completo", disse à Folha, em um ato, o pedreiro José Vargas, 35, há dez anos no país. Nascido no México e hoje cidadão americano, Vargas conta ter irmãos e amigos indocumentados que fugiram antes mesmo de a lei entrar em vigor.
Ao seu redor, misturavam-se brancos, negros e latinos, muitos recém-chegados à cidade, após horas de viagem. "Viemos apoiar nossos irmãos contra essa lei racista", disse Linda Brooks, 70, da Carolina do Norte. Seu grupo tinha mais de 150 pessoas.
Ainda era esperada para a tarde de ontem a chegada de 11 ônibus de manifestantes vindos da Califórnia.
Quem não estava nas ruas acompanhava de casa, como a brasileira Janaína Krause, que assistia pela TV. "Acho mesmo que tem de haver leis de controle de imigração, aqui não é a casa da mãe Joana", disse ela, casada com um americano. "Mas ser tratado como criminoso não dá." Centenas também protestaram em Nova York e Los Angeles, sem prisões.

RECURSO
Se os protestos não pararam, a defesa da lei também não. A governadora do Arizona, Jan Brewer, que a sancionou em abril, entrou ontem com recurso acelerado contra a suspensão parcial. A SB 1070 torna a presença irregular nos EUA um crime estadual (e não só federal) e exige que policiais checassem o status de pessoas após qualquer infração em caso de "suspeita razoável".
Essa parte da lei foi congelada até que os processos contra a medida -um deles iniciado pelo Departamento da Justiça dos EUA- sejam analisados em tribunais. A expectativa é que a disputa chegue à Suprema Corte.


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