São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Data-limite evitaria ação militar unilateral dos EUA; segundo Dick Cheney, "tempo está jogando contra"

Londres propõe ultimato da ONU ao Iraque

Luke Frazza/France Presse
Bush discursa durante evento de campanha de candidato a deputado republicano, em Oklahoma


DA REDAÇÃO

O governo britânico anunciou ontem que poderá propor o estabelecimento de um ultimato ao Iraque para que o país aceite as inspeções de armas feitas pela ONU (Organização das Nações Unidas). Enquanto crescem os rumores de um ataque dos EUA contra o país, a iniciativa do Reino Unido busca evitar uma ação unilateral dos EUA.
O anúncio britânico foi feito em resposta a uma recomendação da comissão de Relações Exteriores do Parlamento, em junho, para o estabelecimento de uma data-limite para a volta das inspeções de armas nucleares, químicas e biológicas. O Reino Unido e os EUA acusam o Iraque de desenvolver armas de destruição em massa, em violação às resoluções da ONU impostas após o fim da Guerra do Golfo (1991).
O Iraque alega ter desmantelado todos os seus programas de desenvolvimento desses tipos de armas e pede o fim das sanções da ONU contra o país. Bagdá vem se recusando a permitir a entrada de inspetores da ONU desde 1998, quando americanos e britânicos bombardearam o país após a decisão do regime iraquiano de não cooperar mais com a ONU.
Os EUA disseram não ter ainda uma posição sobre a proposta britânica, porque ela ainda não foi feita oficialmente.
Segundo Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado, os EUA não consideram suficiente o retorno das inspeções da ONU. "Os inspetores podem ter um papel de ajudar a encontrar coisas. Mas a única forma de realmente resolver o problema é mudando o regime." Os EUA admitem que seu principal objetivo hoje é derrubar o ditador Saddam Hussein.
O vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan, disse ontem que não vê razão para o retorno das inspeções da ONU, porque "uma administração americana criminosa e insana" está determinada a derrubar Saddam. "Qual a motivação que haveria para um gesto de boa vontade ou uma iniciativa para o retorno dos espiões?", disse ele.
Em discurso ontem em San Antonio (Texas), o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, disse que o governo americano tem pressa, mas que atuará com prudência. "O tempo joga contra nós", afirmou, acrescentando que os EUA consultarão seus aliados e o Congresso sobre a forma de enfrentar "a ameaça iraquiana".
"Não há dúvida de que Saddam Hussein tem hoje armas de destruição em massa. Não há dúvida de que ele as está acumulando para usar contra nossos amigos, contra nossos aliados e contra nós", disse Cheney. "E não há dúvidas de que suas agressivas ambições regionais o levarão no futuro a confrontações com seus vizinhos", disse ele.
O porta-voz da Casa Branca Scott McClellan disse que o presidente George W. Bush ainda não tomou uma decisão sobre um possível ataque ao Iraque.

Pressão
Com o aumento da retórica bélica em Washington, líderes muçulmanos se uniram ontem para pressionar os EUA, dizendo que um ataque ao Iraque poderia gerar agitação no mundo islâmico.
"Isso teria repercussões muito negativas em todo o mundo islâmico", disse o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, considerado pelos EUA um aliado-chave na guerra contra o terror.
Diversos países europeus também se manifestaram ontem. O presidente da França, Jacques Chirac, disse que uma ação unilateral dos EUA, sem aval da ONU, estaria "em desacordo com as leis internacionais".
"Devemos repetir essas regras o quanto for necessário. Se Bagdá continuar a recusar o retorno das inspeções, cabe ao Conselho de Segurança [da ONU" decidir que medidas tomar", disse Chirac.
O chanceler (premiê) da Alemanha, Gerhard Schröder, reafirmou que os EUA devem consultar seus aliados sobre o possível ataque ao Iraque. "Se a promessa de consultas ao aliados são sérias, elas não devem ser somente sobre o quando e como, mas também sobre se [o ataque" será efetuado", disse Schröder, em campanha eleitoral para as eleições de setembro. "Se os EUA não consultarem os aliados e a comunidade internacional, devem assumir sozinhos a responsabilidade."

Com agências internacionais

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