São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Exército dos EUA pede desculpas e liberta iranianos

Militares americanos haviam detido anteontem delegação do Irã que estava em Bagdá a convite do governo do Iraque

Para comando americano, episódio foi "lamentável"; para governo do Irã, foi "ingerência" nos assuntos internos iraquianos

DA REDAÇÃO

O grupo de oito iranianos detido anteontem por tropas americanas em Bagdá foi libertado ontem. Eles haviam sido presos por supostamente terem armas ilegais. Os iranianos são membros do Ministério da Energia do Irã e foram convidados a viajar a Bagdá para ajudar na crise de energia iraquiana.
Os veículos que levavam o grupo foram parados e revistados por tropas americanas em um posto de controle. Os militares afirmaram que a delegação podia seguir para o hotel Sheraton, onde estavam hospedados. Mais tarde, tropas dos EUA entraram no hotel e levaram os iranianos e seus pertences. Segundo o Sheraton, era a primeira vez que iranianos ficavam no hotel desde a invasão americana, em 2003.
Mohamed Abed, gerente do hotel, disse que os militares americanos lhe perguntaram sobre a delegação iraniana -quantos eram, seus quartos e se ele tinha a cópia das chaves.
"Eu disse que eles eram convidados do ministério e que tínhamos uma carta do ministério confirmando." Os americanos foram então ao restaurante, onde o grupo jantava, e vasculharam seus quartos. "Eles reuniram os pertences dos iranianos, colocaram vendas em seus olhos e os levaram para fora do hotel", disse Abdel. Os iraquianos que acompanhavam o grupo também foram detidos.
A Embaixada do Irã confirmou a prisão e a libertação do grupo. "Eles estão em Bagdá para discutir a situação energética no Iraque com autoridades iraquianas", disse um porta-voz da embaixada iraniana. "O governo iraquiano interveio, eles foram soltos e agora estão no gabinete do premiê iraquiano, Nuri al Maliki."
Yasin Majid, assessor de imprensa de Al Maliki, afirmou que o grupo foi convidado pelo Ministério da Eletricidade iraquiano para auxiliar na construção de uma usina elétrica na cidade xiita de Najaf.

"Lamentável"
Saadi Othman, assessor do comandante das forças dos EUA no Iraque, general David Petraeus, qualificou o incidente como "lamentável" e disse que não tinha "nada a ver com as declarações de Bush na terça-feira, quando criticou o Irã por interferir no Iraque e fomentar a instabilidade".
Na terça-feira, o presidente dos EUA fez um discurso duro contra o Irã. "Autorizei nossos comandantes militares no Iraque a confrontar as ações assassinas de Teerã", disse Bush.
O Exército dos EUA declarou que o grupo foi detido após as tropas confiscarem um rifle e duas pistolas dos guardas da delegação, "que tinham documentos, mas não permissão para portar as armas". O Exército disse ainda que membros do grupo, entre eles dois diplomatas, foram interrogados e libertados, "em consulta com o governo do Iraque".
Ontem, Teerã convocou um diplomata suíço que representa os EUA no Irã. Mohammad Ali Hosseini, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, classificou o episódio como uma "interferência" nos assuntos internos iraquianos e "incoerente" com as responsabilidades da força de ocupação liderada pelos EUA.
As detenções aumentam a tensão entre Teerã e Washington, que acusa o Irã de armar milícias xiitas no Iraque. O Irã nega as acusações e tem protestado contra a prisão de cinco iranianos no Iraque em janeiro, que os EUA afirmam pertencer à Guarda Revolucionária iraniana -que, segundo os americanos, arma e treina insurgentes iraquianos. Teerã diz que os cinco são diplomatas.


Com "New York Times" e agências internacionais

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