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Jovens afegãos fogem em massa para a Grécia
ONU se diz "alarmada" por lotação de centros de detenção para estrangeiros no país, que é porta de entrada para a Europa
Acirramento da guerra no Afeganistão faz com que crianças fujam sozinhas através da Ásia; condições de abrigos são precárias
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A deterioração da guerra no
Afeganistão está fazendo aumentar o número de crianças e
adolescentes que buscam, sozinhos, refúgio na Europa. Um
dos países mais afetados por esse deslocamento é a Grécia, onde centros de detenção de estrangeiros superlotados levaram a agência da ONU para refugiados (Acnur) a se declarar
"alarmada" na última sexta.
O órgão das Nações Unidas
contabiliza hoje mais de 2,8 milhões de refugiados afegãos pelo mundo (ou o equivalente a
quase 10% da população remanescente no Afeganistão), a
imensa maioria deles no Paquistão. Mas o crescimento do
número de menores desacompanhados que deixam o país rumo à Europa chama a atenção
de especialistas -desde 2007,
os solicitantes de asilo nessa situação dobraram em alguns
países, conforme dados oficiais.
A questão se tornou mais
sensível na Grécia, onde em
2008, segundo a Guarda Costeira, desembarcaram 2.648
menores desacompanhados -a
maioria afegã. O Acnur estima
que sejam mais, pois muitos
entram clandestinamente.
Violência
No entorno de cidades como
Patras, campos de tendas surgidos ao longo da última década
inflam, assim como crescem
episódios de violência, confrontos com moradores locais
e, segundo relatos à rede de TV
Al Jazeera, crimes sexuais e de
gangues. Em julho, a polícia fechou um desses campos.
A situação é também delicada nos centros de detenção onde são mantidos os recém-chegados. A Acnur relatou anteontem em Genebra uma visita a
um centro em Pagani, na ilha
grega de Lesbos, construído para abrigar 300 pessoas. Na ocasião, havia no local 850 pessoas,
200 das quais crianças e adolescentes sós.
Os funcionários da agência
da ONU descrevem quartos superlotados e condições precárias de higiene. Em um só cômodo, afirmam, contaram mais
de 150 mulheres e 50 bebês.
Lei dura
Instado pela ONU, o governo
grego, do primeiro-ministro direitista Costas Karamanlis,
prometeu lidar com o problema. Na avaliação da Acnur, Pagani é só um indício de um problema mais amplo no sistema
de asilo grego.
O país contabilizava até janeiro deste ano (dado mais recente) cerca de 2.100 refugiados e mais de de 38 mil solicitantes de asilo -condição anterior à de refugiado, que precede
a avaliação jurídica do caso.
Como outros vizinhos europeus, a Grécia também aprovou
legislação para coibir a imigração ilegal dentro do escopo da
nova lei da União Europeia que
permite deter imigrantes por
até um ano e meio. No ano passado, mais de 146 mil pessoas
foram presas por entrar ou morar no país ilegalmente, aponta
a agência.
A Acnur queixa-se da generalização do termo "imigrante
ilegal", alegando que muitos ali
precisam do status de refugiado e deveriam ser considerados
apenas "irregulares" (sem documentação).
A agência da ONU diz ainda
ter recomendado ao governo
grego que tome medidas específicas para proteger as crianças e adolescentes, que ainda
não foram implementadas.
Apesar do esforço por parte de
Atenas para melhorar as instalações onde esses menores são
colocados, diz, o contínuo e maciço fluxo de recém-chegados
minimiza seu efeito.
Os centros de detenção são
usados em um primeiro momento, e aqueles que cumprem
os requisitos para pedir asilo
são removidos para centros de
acolhimento após 90 dias
-ainda são escassos ante a demanda, avalia a Acnur.
Porta de entrada
Embora as condições na Grécia não sejam das mais atraentes, muitos recém-chegados
veem o país como porta de entrada para seguir para a Itália, a
França, os países nórdicos e o
Reino Unido -todos países
que, desde 2001, enviaram soldados ao Afeganistão para lutar
na coalizão liderada pelos Estados Unidos, que enfrenta o ano
mais mortífero da guerra desde
a queda do Taleban.
Em conversa com a Folha na
semana passada, uma funcionária da Acnur descreveu cenas que em muito lembram o
filme "Neste Mundo" (do inglês Michael Winterbottom,
lançado em 2002) e o recente
"Bem-Vindos" (do francês Phillip Lioret): adolescentes agarrados a chassis de caminhões
que cruzam a Europa ou sufocados em contêineres e carrocerias, assediados por quadrilhas que operam o tráfico humano na região.
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