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Onda de suicídios comove sul-coreanos
País asiático é o que registra maior índice entre os 32 mais ricos do mundo; taxa cresceu 18% no ano passado
Desde 2009, suicidas incluem ex-presidente, herdeiro da Samsung e diversas personalidades do mundo artístico
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SEUL(COREIA DO SUL)
No dia 13 de junho, o DJ
Lee Kye-Hwa, 27, escreveu no
Twitter: "Vou cometer suicídio. A todos, mesmo aqueles
com quem tive amizade mais
distante, eu amo vocês".
Apesar dos esforços de
amigos e da família, só foi encontrado dois dias depois, à
beira do rio Han, que atravessa Seul. Havia se enforcado.
Lee, que atravessava dificuldades financeiras, é apenas um dos 40 casos de suicídios diários na Coreia do Sul.
No ano passado, foram
14.579, aumento de 18% sobre 2008. A taxa de suicídio
ficou em 30 por 100 mil habitantes, maior do que o índice
de homicídio do Brasil (25,2).
É o país que mais registra
mortes do tipo entre os 32
membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico),
entre os quais Japão, com forte tradição de suicídios.
"Na sociedade coreana, o
suicídio se transformou numa das maneiras para solucionar problemas", disse à
Folha o psiquiatra Ha Giu-sup, da Universidade Nacional de Seul e presidente da
Associação Sul-Coreana para a Prevenção do Suicídio.
Ha afirma que os idosos
são o grupo mais afetado. Na
faixa etária acima de 80
anos, a taxa é de 100 por 100
mil habitantes.
"A Coreia do Sul é uma sociedade em rápido processo
de envelhecimento. Esses
idosos não se prepararam
para viver tanto tempo porque, quando eram jovens,
poucas pessoas viviam mais
de 60 anos", afirma Ha.
"Muitos, principalmente
na área rural, são pobres,
doentes e solitários e acabam cometendo suicídio."
Um segundo motivo, diz,
foi a crise financeira asiática
de 1997, que aumentou a instabilidade do emprego na
Coreia do Sul. Naquele ano,
a taxa no país era 13 por 100
mil, e o suicídio figurava como a sétima causa de mortes
-hoje, já é a quarta.
CELEBRIDADES
A onda de suicídios não
poupa celebridades, a começar do ex-presidente Roh
Moo-hyun (2003-2008), que
se jogou de uma colina no
ano passado. Em bilhete, disse que sentia "ter feito muita
gente sofrer".
Entre artistas, houve seis
casos nos últimos dois anos.
Levantamento recente revelou que 40% dos atores do
país já cogitaram tirar a vida.
Um dos episódios mais rumorosos foi o de Choi Jin-sil,
que se matou em outubro de
2008, aos 39 anos. Chamada
de "atriz da nação", sua morte levou a aumento de 70%
de suicídios no mês seguinte.
Nem a família mais rica da
Coreia do Sul está imune. No
último dia 18, Lee Jae-chan,
neto do fundador da Samsung, foi encontrado morto.
Cinco anos antes, Lee Yoon-hyung, filha do presidente da
empresa, se enforcou.
Ha afirma que "os padrões
morais altos" explicam por
que os coreanos cometem
mais suicídios mesmo tendo
bom nível de vida.
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